Domina-me se puder.

2K 106 6
                                    

Aline caminha de um lado para outro dentro do pequeno espaço da recepção atrás do balcão da lanchonete.

- Porque a Gabriela tinha que ficar doente logo hoje? Poderia ficar doente em qualquer outro dia, mas tinha que ser logo hoje? — num gesto quase automático Aline leva os dedos finos e pálidos à boca mordendo as unhas sem parar.

Olha para o relógio que tão severamente anuncia que já são quase 21h. A hora que os Uivantes vem buscar o pagamento.

Aline engole em seco e dá um sobressalto ao ouvir o som de um trovão que ecoa do lado de fora da lanchonete. A entrega do dinheiro precisa ser rápida, se não vai pegar chuva para voltar para casa já que o ponto de ônibus mais perto é longe do estabelecimento.

Não há mais clientes aqui nessa altura da noite. Ela está sozinha. Sozinha em uma lanchonete a noite esperando os "protetores" chegarem e pegarem o dinheiro pelo seus serviços.

Os crimes andam altos por essa região, e a gangue, que se auto intitula Uivantes, viu nisso uma oportunidade de lucrar, dando proteção para os moradores do pequeno bairro.

Ao passo que o momento se aproxima, Aline pega a caixa que contém o envelope grosso com todo o dinheiro. Segura ele entre suas mãos trêmulas e olha mais uma vez para o relógio.
Ela então decide pegar um copo de água e se vira de costas para a entrada. E o sino da porta se faz estridente perante todo o silêncio do lugar.
Eles chegaram.

Três homens mascarados entram na lanchonete. O que usa uma bandana escura que cobre metade do rosto, o líder deles que se chama Crown, entra primeiro e fala algo para o outro que tem uma arma nas mãos. E ele sai e fica de guarda do lado de fora, atento a qualquer incidente.

- Você não é a moça de sempre, o que aconteceu com ela? —   Crown  fala de modo ríspido.

- Está doente — Aline o encara. Reuniu toda a coragem que tinha para conseguir lidar com toda essa situação. Com a cabeça erguida e postura imponente joga o envelope por cima do balcão.

Sim, ela não vai se deixar intimidar, pelo menos não vai demonstrar para ele que por dentro está encolhida feito um filhotinho.

Crown olha furioso para ela, jogar o pacote desse jeito para ele é uma afronta grave e ele deseja avidamente puni-la por sua atitude. Seus pensamentos vão à loucura, imaginando ela totalmente à mercê dele, debruçada sobre o balcão enquanto ele dá a ela o castigo que merece, deixando a bunda dela numa cor de vermelho vivo. Ah sim, ele adoraria ver isso.

Dispersando os pensamentos, Crown pega o envelope e conta o dinheiro pacientemente. Aline está encostada na pia mantendo a maior distância que consegue do balcão, que é a única coisa que os separa.

Ele termina de contar e entrega o envelope para o outro mascarado.

- Espere lá fora DK, não vou me demorar aqui. — DK acena e sai

- Agora, Aline — Crown  fala olhando o crachá no avental. Ele encosta os braços por cima do balcão e olha para os olhos azuis dela — Você vai dar um recado para o Roger, não aceito mudanças na negociação, e essa — aponta com o dedo indicador para ela — vai ter um preço.

A determinação de Aline ou talvez a falta de juízo dela faz as palavras indevidas saírem por entre seus lábios.

- Não sou paga para dar recado. Se você quer falar com ele, fale você mesmo. — Ela realmente não tem medo de morrer, desafiar o líder de uma gangue desse modo? Talvez tenha medo, sim ela tem medo. Só que a vontade de confrontá-lo, de não deixar ele mandar nela é maior. Mas ela tem que se lembrar que ele é um criminoso, e que essa sua atitude pode lhe custar muito caro.

Domina-me se puder.Onde histórias criam vida. Descubra agora