Our times

Primeiro

"Me de uma razão para ficar"

Todos nós queremos algo assim. Um forte motivo para estar ao lado de alguém, esperando pacientemente pelo dia em que essa pessoa será real.
Mas existe algo em particular sobre o ser humano, uma tendência de adiar o inadiável. Quando confrontados com a realidade tudo é uma desculpa para se esquivar.

Ele era como uma flor triste, azul e solitária no Jardim. Como algo imaginário que não podia ser tocado, uma estrela que havia se apagado a muito tempo. Ele era uma tempestade que se arrastava destruindo tudo ao seu redor, inclusive a mim. Seus olhos transmitiam tudo de mais desagradável, havia nele a necessidade de tornar azul as coisas que o rodeavam. O som da sua voz, um ruído desgastado. Em suas mãos, seu violão antigo carregava tantas histórias,  inclusive a história de seu primeiro amor.

Uma luz incandescente, rara. Eu o via assim. Contornando minha vida sutil e delicadamente como se estivesse me levando pra longe da praia e me envolvendo cada vez mais na sua profundidade azul. Ele era azul. Quando ele partia, eu me abraçava ao seu perfume, numa tentativa falha de dizer a mim mesma que ele ainda voltaria. Eu te esperava, incansavelmente. Mas você sempre aparecia nas mesmas ocasiões, quando precisava de mim.

"Fique"

Seus lábios num pedido mudo disseram algo que sempre quis escutar. Era tudo que eu precisava, bastava uma simples palavra sua pra me fazer voltar naquele mesmo instante. Isso era um fato incontestável, algo que eu já sabia desde a primeira vez que olhei em seus olhos. Eu desejei que você voltasse. Mas era um desejo impossível. Nossos desejos são belos até serem saciados.

Por mais que haja controvérsias, a verdade é que nunca pedimos uma razão para ficar. Por medo. Numa prisão solitária, uma jornada interminável, o simples medo. Medo que não exista nenhuma razão para ficar.