Todos os dias eu levantava, arrumava meu cabelo no espelho, não importa quão mal eu estivesse, deixava tudo de lado para ir a escola. Cada rosto uma lembrança, um momento, um comprimento caloroso, um bom dia animado, nunca me cansava de perambular pelo colégio, ali eu me sentia confortável até poderia andar nos corredores descalço.
Aquele dia nunca sairá da minha mente, aqueles lindos olhos castanhos em desespero, seu cabelo castanho claro bagunçado. Aquela cena é estática e infinita, mas tudo estava apenas se iniciando, quando eu deitei naquela noite eu dormi, dormi esperando não voltar mais, dormi segurando incondicionalmente o colar dele que encontrei na minha cama onde eu e JJ planejamos aquele desastre, sem sonhos, sem pesadelos, apenas um apagão de 7 horas inteiras, sabia que teria que ir as aulas dali em diante.
Se tudo parece confuso, nada se compara com tudo que senti de manhã, cabelo amassado, óculos torto andando sem sapatos, tenho essa mesma aparência ainda hoje. Sempre entrava pela faculdade porque era mais perto do meu ponto de ônibus, era ali que eu cumprimentava os ex-alunos. Eu podia jurar que eles não gostavam muito de mim mas eu não liguei, a final eles estavam mortos, provavelmente já me alimentei de algum deles, mas olhei para frente e la estavam eles.
Thomas com suas belas mechas vermelhas, Liam como sempre o mais inteligente com argumentos imprevisíveis, Pedro insistindo para que todos joguem vôlei com eles. Como? como estavam ali? Foi naquele momento que decidi me entregar ao caos, se o ambiente implorava pela minha loucura aprenderia a conviver com ela. Sentei ao lado deles e comecei a entrar na conversa, eu nunca entendi as normas sociais que regem os relacionamentos interpessoais.
- Tom, você é programador né, Já ouviu falar do método de produção de software XGH? É a melhor coisa que eu já ouvi na minha vida.
- Breno eu tenho quase certeza que quem te mostrou isso fui eu! E não sem abraços hoje!
- Okay! um aperto de mão apenas...
Sim, era real, aquela era mesmo uma mão humana, a textura, a temperatura, dava pra sentir o calor da vida nele, obvio que eu fiz questão de cumprimentar todos eles, todos eram reais, ou eram muito perto disso. Demorou algum tempo para eu entender as leis que regiam aquele universo, e digamos que a teoria da Relatividade de Einstein está muito errada. Eu pensei em tanta coisa naquele momento, porém o que pode explicar isso. Tudo o que eu poderia fazer é tentar me acalmar.
- Calma Breno, Você consegue, Tudo vai ficar bem, meu De.... Joe?
- Olá B, como você está? Você conseguiu concluir as atividades de química do Hélio? Estavam complexas de mais.
Jj estava ali, na minha frente vivo, e depois de tudo, tudo o que pensava era naquele professor?? Seus cabelos estavam arrumados, nunca tinha percebido como seus olhos têm cor de mel. Eu abracei ele forte e perguntei o que tinha acontecido na cozinha, e ele começou a me contar as histórias quando ele cozinhou um macarrão instantâneo bêbado, ali ficou claro para mim, algo ruim aconteceu, ele não se lembra de nada, será que aquele Joe que eu abracei era ele mesmo, meu maior medo era que...
Aquele parecia, tinha o mesmo perfume, mesma personalidade, mesmo sotaque, mesmas histórias malucas, mas aquele não era o meu JJ, ele estava com um colar, mas o colar do meu Joe estava no meu bolso . O sinal bateu, então me escondi e fiz mais uma grande besteira. Entrei lá e tudo estava surpreendentemente limpo, sem nenhum sinal dele, sinal delas. Então me vi ali, na frente da porta, me perguntando, se for verdade, se for ele, se for...
"Podem começar com o EM 2019, Joe é cortesia da casa. ass: Machado"
Quando minha visão desembaçou o suficiente para ler o papel pendurado na janela de vidro, em impulso entrei, abri e o vi. Pálido, sem cor, com míseros panos cobrindo seu tronco, limpo e fresco com parte de sua carne faltando. Sai dali o mais rápido possível sentei ao lado de JJ e p abracei. Queria eu ter lembrado de fechar aquele freezer, hoje sou prisioneiro das minhas ações.
Ali deitado em seu colo, as imagens de seu rosto se embaralhavam em minha mente, ele com certeza era lindo, mas se eu fechasse os olhos seu cadáver estava ali me fazendo cafuné e apreciando meu cabelo, aqueke cqos foi interrompido por um grito vindo da cantina
- Quem deixou aberto?
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Em Memória de Joe
Mystery / ThrillerDois alunos de uma escola técnica, ao tentar roubar sucos da merenda descobrem um segredo obscuro na escola e dos ex-alunos.