Eu nunca fui uma pessoa que fez apologia a nada. Na verdade, nunca conheci alguém tão livre de vícios como eu mesmo; bebidas, drogas, sexo e nem mesmo um smartphone me encantavam ao ponto de me deixarem preso, incapaz de me livrar. Foi assim até que eu conhecesse você, pelo menos.
Quando te vi pela primeira vez e percebi o quão encantado estava, logo vi que dali pra frente as coisas não continuariam do jeito que sempre tinham sido. Porque tudo em você, desde seus cabelos bagunçados até os pés calçados em botas de couro pretas, tudo parecia extremamente, fodidamente atraente.
Eu estava no parque, aquele que as minhas irmãs gostam de brincar e correr na areia rala, quando te vi pela primeira vez. Seus olhos eram de um verde mais bonito do que qualquer grama ou água cristalina; os lábios, ah, seus lábios eram tão bonitos e avermelhados, um ímã, perigosamente me atraindo. Vestia calças pretas e coladas às pernas longas, que pareciam tão majestosas e elegantes quanto qualquer príncipe que alguém possa vir a citar. Uma camiseta sem manga cobria seu tronco, deixando os braços bonitos e tatuados livres para que eu os pudesse admirar o quanto quisesse.
Você era a visão pura do pecado, um paradoxo sem fim: era um demônio com rostinho de anjo, um sorriso angelical com intenções maliciosas. Eu deveria ter percebido isso antes de ter te deixado se aproximar, naquele mesmo dia em que te vi pela primeira vez.
- Ei. - você se sentou ao meu lado, sem parar de olhar pra frente. Mesmo sentado, seu corpo era maior do que o meu e aquilo era tão intimidante quanto bonito.
- Oi, eu acho. - eu sempre fui uma pessoa que achava demais, minha mãe dizia.
- Você acha que me dá oi? - você perguntou, dando uma risadinha.
- Eu acho que sim. - eu achei mais uma vez.
- Você acha demais. - é.
- Sim. - concordei e olhei pro lado, podendo ver que agora você estava me encarando, com os olhos verdes ainda mais claros em causa do sol que mirava exatamente em seu rosto bonito. Eu nunca entendi como você podia ser tão bonito e tão feio ao mesmo tempo. Era uma habilidade que alguns poderiam invejar, eu acho.
- Bem, então eu acho - você tentou brincar, mas não deu muito certo. Eu não tive vontade de rir - que você deveria sair comigo.
- Eu nem te conheço. - destaquei o óbvio. Você só deu de ombros, porque acho que sabia que eu iria acabar aceitando de qualquer jeito.
- Eu sou o Harry. - me estendeu sua mão e, quando eu não a apertei, se inclinou e me ofereceu um beijo demorado na bochecha. Eu acho que me arrepiei da cabeça aos pés, mas também acho que você não deveria saber disso.
- Louis. - eu achava que parecia um idiota. Mas, mais uma vez, eu achava coisas demais.
- Tão bonito quanto o dono. - eu achei aquilo tão piegas, mas vindo dos seus lábios desenhados pareceu um dos dez mandamentos - Então, você acha que pode sair comigo?
- Eu acho que sim. - esse foi o achar mais errado da minha vida. E disso eu tenho certeza.
Fomos até um pub, o qual você disse que era um dos melhores da cidade. Não que Doncaster tivesse muitas outras opções, você ainda acrescentou. O lugar era grande, escuro e barulhento, o tipo de lugar que eu nunca iria. Mas, com você, eu até tentei fingir que achava aquilo um segundo paraíso, sendo que o primeiro tinha nome e sobrenome, esses sendo os que estavam escritos na sua certidão de nascimento.
Eu nunca me senti tão deslocado em toda a minha vida, eu acho pra você. Estava vestindo moletons brancos, calças pretas e bolsas abaixo dos olhos. Também vestia cansaço e embarasso como adicionais ao visual, mas você pareceu achar tudo lindo, então não me importei muito com aquilo. Se você gostava, eu também tentaria fazê-lo.
Quando chegamos ao bar, logo pediu copos de bebidas que eu não sabia pronunciar nem mesmo o nome. Me entregou um, mas eu disse que não bebia. Você disse que eu devia parar de ser tão correto, então eu bebi, mesmo achando o gosto horrível e quente demais. Como leigo no assunto álcool, perdi a coerência com alguns copos; quando vi, já dançava naquela pista escura tão escura quanto o verde dos seus olhos estava ao me olhar.
- Você não acha que seria uma boa ideia conhecer o meu apartamento? - você continuava com a brincadeira do "achar", mas eu não gostava nem um pouco daquilo. Eu achava idiota e ofensivo, mas você não parecia se importar.
- Eu acho que sim. - o álcool tinha me deixado vulnerável, mais do que eu normalmente era.
No seu apartamento, você tirou a minha virgindade e gritou para a lua, que aparecia por entre as cortinas de cor pastel do seu quarto, elogios sobre o meu corpo. Meus olhos brilharam, mas meu coração morreu naquele mesmo instante.
Ali tinha começado o que agora eu posso chamar de uma época errada. Errada em todos os sentidos, acho eu. Tinha sido errado sair com você quando nem te conhecia; errado ter deixado que você me tivesse como nenhum outro teve e ainda mais errado pensar que ao menos gostava de mim como eu achava gostar de você.
Começamos a sair diariamente. Eu gostava de ir ao parque onde nos conhecemos, porque ali o seu sorriso parecia vir mais fácil e você assumia um papel carinhoso que combinava com a caixa de lápis coloridos que meu coração ainda guardava. Quando voltávamos ao seu apartamento, o mundo perdia a cor e as únicas conhecidas por mim se tornavam preto e branco: o branco dos meus lápis no preto do seu papel.
Foi assim por muito tempo. Ah, sim, se passou tempo demais. O relógio na parede da sua cozinha já não saberia contar quanto tempo esperei o seu papel se tornar colorível como eu nunca o tinha visto ser. Acontece que ele nunca adquiriu outra paleta de cores que não fossem as escuras.
Conheci um amigo seu, nomeado Zayn, que me apresentou os tons únicos da fumaça; era difícil e eu tossia quando tentava encaixá-los na minha caixinha agora limitada a poucas cores. Mas, com o tempo, a gente vai aprendendo a mudar os tons pra não ficar na mesmice.
Comecei a carregar cigarros por onde ia: fosse o seu apartamento preto e branco, o parque colorido ou a boate escura, eles pesavam em meus bolsos e em meus pulmões.
Você, com seu papel agora encardido e encharcado de pecados, achava aquilo incrível. Dizia que eu estava crescendo e evoluindo, me tornando merecedor de tudo o que você podia oferecer. Eu procurava fundo o que seria tudo aquilo sobre o que você falava, mas nunca aconteceu de encontrar.
Vendi meu apartamento, que agora não passava de um estúdio com cores foscas e quase apagadas pelo tempo de desuso. Quem comprou foi um casal feliz, que ainda estava descobrindo que algumas cores, se misturadas, formavam outras ainda mais bonitas que as originais.
Descobri que os cigarros, mesmo que destruíssem minha paleta variada, me ajudavam a esquecer do seu verde por um tempo. Adotei a nicotina como melhor amiga e o isqueiro como confidente. Eles me ajudavam nas horas em que começava a pensar nas cores que já tinha perdido.
Em algum momento, comecei a escrever coisas em cada cigarro que eu fumava. Coisas que eu queria que fossem embora, como a fumaça, da minha vida e do meu coração gasto. Dor, cores das quais eu não gostava e sofrimento eram alguns exemplos.
Eu escrevi seu nome em todos os cigarros, esperando que você fosse queimar e virar cinzas, mas você estava nos meus pulmões esse tempo todo, me matando a cada tragada.
Foi aí que me tornei uma pessoa que fazia apologia a algo: cigarros. Eles me ajudavam a matar você, mesmo que o você que eu queria matar estivesse dentro de mim desde aquele dia quente no parque.
Eu acho que em algum momento dessa história, eu morri. Eu não acho que você tenha chorado, nem mesmo lágrimas escuras e escassas. Acho que você se sentou na poltrona que eu costumava sentar, na sala do seu apartamento, tomou alguma bebida complicada e fez alguns segundos de silêncio. Talvez possa ter estado de luto por um dia ou dois, mas logo procurou outro para quem mostrar sua paleta sem graça.
Eu também acho que foi o melhor que poderia ter acontecido, porque assim a minha caixa de lápis pôde ser reajustada e eu pude começar de novo, revendo cores que eu achava mais bonitas do que o verde cristalino.

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cigarette - ls oneshot
FanficLouis costumava ser uma pessoa com cores variadas na paleta que era seu coração. Mas então Harry apareceu, e o mostrou cores escuras as quais ele preferia nunca ter conhecido.