Violeta

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"(...) Ah... as borboletas, como dizia Rubem Alves, "não as haveria se a vida não passasse por longas e silenciosas metamorfoses"."
                                                                                     
– Kalinne Callou



36 meses antes


Asahi sempre foi do tipo tímido. Um homem simples, de gostos simples. Era gentil, de boa índole, um tanto covarde, entretanto nada que fosse prejudicial a sua saúde. Com o passar dos anos aprendeu a se impor em momentos necessários, contudo fugia de confrontos.

Foi criado pelos avós paternos, cercado de amor e cuidados. Claro que sentia falta dos pais, afinal, tudo na vida tem seus prós e contras; todavia, teve uma infância feliz que lhe renderam boas lembranças.

Sua avó possuía uma pequena floricultura, então Asahi sempre esteve no meio das plantas, o que explicava seu hobby pela criação delas. Sua profissão, no entanto, era designer de moda; a culpa disso era de seu avô, que em sua juventude era alfaiate. O jovem Asahi era apaixonado por costura e, não se arrependia do ramo que escolheu.

Ele também era do tipo sonhador, trabalhava duro para guardar fundos para um dia realizar seu sonho de conhecer o mundo. As imensas florestas, as belas cachoeiras e as maravilhas que os homens puderam construir.

Seu trabalho lhe rendeu frutos. A casa que vivia era confortável, projetada por sua amiga, Shimizu. Seu cômodo favorito era a biblioteca ligada a uma estufa. A parede de vidro fazia divisa com as estantes de livros e amontoado de revistas. No canto direito havia uma imensa janela, que abaixo, tinha um sofá azul. O carpete em cor creme, os móveis em tons escuros, contrastam com a porta de correr em blindex que dava a visão parcial da estufa.

Uma imensa mesa ficava bem na entrada da sala, as plantas eram divididas por tipos, cuidadosamente catalogadas. Flores na direita, folhas para a esquerda. Acima da mesa, mais prateleiras. Na parede ao sul, a estante de cactos chamava atenção. Tinha vários tamanhos, floridos ou não.

Mas Asahi tinha outra paixão – além de plantas e costura – as borboletas. Tinham um estudo cru sobre elas, não tinha coragem de empalá-las. Admirava sua beleza e liberdade de longe com medo de machucá-las.

Um gigante de coração de vidro amante de todo o encantamento que a natureza podia criar.

Tinha seu próprio ateliê, que fundou junto com seu amigo, Iwaizumi. Havia combinado de ter alguns dias de folga, já que a temporada de inverno estava chegando e as encomendas aumentavam consideravelmente.

O céu estava encoberto por nuvens, então optou por ficar em casa. Uma música cairia bem, pensou, o som reconhecível de Blood Brothers começou a tocar. Não era seu tipo de música favorita, todavia hoje parecia combinar com tudo.

Puxou o borrifador, as luvas e preparou-se para cuidar de suas plantas. Sorriu quando encontrou a borboleta com asas em tons de violeta passou a sua frente. Talvez fosse sua imaginação, mas podia jurar que ela batia as asas ao ritmo da música que tocava.

— Você voltou, ein? — Asahi riu — Já estava com saudade de te ver por aqui! Vai ficar por muito tempo dessa vez?

Obviamente não recebeu nenhuma resposta, mas o que importava? Ele estava se sentindo muitíssimo bem naquele dia. Ficou mais alegre ao notar que a peperomia que ganhou de Hinata, seu aprendiz, estava crescendo.

— Hinata vai ficar feliz em saber que você está bonita assim — comentou — talvez eu devesse pegar um pouco mais de adubo?

Virou-se de costas para a mesa, indo até o armário do lado esquerdo da estufa. A borboleta de asas violetas parou bem em frente a porta, e por medo de espantá-la, Asahi parou, a admirando.

— Você é um espécime belíssimo! — sorriu, ele estava fazendo muito isso naquele dia — não se apresse, vou fazer um chocolate quente com marshmallows. Para um dia com chuva é uma ótima pedida, sabe?

A borboleta em questão era uma assídua companheira de Asahi. Ele já havia notado meses atrás, ela estava sempre por ali. Sumia por um tempo e voltava antes da chuva. De certa forma criava uma sensação agradável em seu coração. Ele tinha a alma fraca para coisas bonitas.

Levou alguns minutos para voltar ao cômodo. A caneca fumegante foi deixada na mesa da biblioteca enquanto escolhia outra música. Um som vindo da estufa o fez tirar os olhos do smartphone. Seu coração logo se acelerou, bem, ele estava sozinho afinal.

Ainda bem que não estava com nada de quebrar nas mãos quando parou em frente a porta de correr de vidro, pois certamente deixaria cair. Um homem de estatura baixa o encarava com olhos brincalhões, mas o que o assustou foi o par de asas grandes que saiam de suas costas.

Violetas, com detalhes em preto e branco. O homem sorria o encarando, com a mão descansando na cintura estreita, a sobrancelha arqueada em desafio. Como se dissesse a Asahi que deveria agir logo.

Pobre Asahi, que ainda estava petrificado no lugar, quase parou de respirar quando uma voz grave, mas sem perder a alegria lhe direcionou uma pergunta:

— Você trouxe chocolate quente, Asahi-san?




Notas do autor:
quem é vivo sempre aparece e tal né (pois é)
Boooooooooom, eu tinha esse projeto guardadinho na gaveta e resolvi tomar vergonha na cara e postar. A capa foi feita por caramelo (obg lolinha) <3
Como tá tudo prontinho, vou postar tudo até domingo! Até <3 


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