O encontro no jardim.

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Jisung pov.

Um novo dia, uma nova discussão. Essa era minha rotina diária. Como sempre, meus pais e seu longo discurso das vantagens de assumir o trono, quantas vezes deveria repetir a eles para que ficasse grudado na mente deles que eu não quero ser um rei? Em meus desvaneios, me pergunto o que seria de mim se fosse uma pessoa normal, comum, com uma vida mais fácil de se lidar.

— Jisung! O que você acha que será do legado do nosso legado? Os nossos antepassados Park que deram tão duro para chegarem onde estamos agora. — Minha mãe gritava aquilo, como todo santo dia.

—  Sua mãe está certa, Ji. Nós, Park, temos uma imagem internacional e nacional, você não pode manchar ela por caprichos adolescentes seu.  —  Aí está! O famigerado capricho adolescente, oh não, Jisung quer acabar com a imagem do nosso reinado porque ele é um adolescente de 16 anos.

Por que eles simplesmente não entendem que eu nunca pedi para nascer em um mundo onde tudo tem que ser perfeito? Um mínimo deslize, uma falta em alguma aula e você arruina esse "mundo perfeito". Já expliquei tantas e tantas vezes que eu nunca me senti verdadeiramente feliz com tudo aquilo, desde que lembro faço tantas coisas... aulas de canto, dança, violino, natação, hipismo. Isso também se você não contar os momentos em que perdi aprendendo outras línguas, ao invés de estar brincando como uma criança normal. Não tenho amigos verdadeiros, apenas outros herdeiros de outros reinos e que somos praticamente "obrigados" a interagir.

Vejo crianças, adolescentes da minha idade ou mais jovens que brincam na rua, comem o que querem, quando querem, parecem ter uma genuína felicidade enquanto eu apenas me forço a sorrir para fotos oficiais do reino.

Meus pais finalmente saíram de meu quarto, depois da dose diária de tentar me convencer com essas agressões verbais a assumir o reino. Sempre que eles me deixavam em paz finalmente poderia ir ao meu porto seguro. Nele eu conseguia relaxar, respirar, me sentir livre e nem um pouco sufocado por questões familiares. Por ser um local que estava familiarizado não me esforçava muito para trocar o pijama que ainda estava utilizando, sim, meus pais não me davam nem tempo para tirar minha roupa de dormir. Enfim, não tardei a me enrolar ainda mais em meus desvaneios e segui diretamente ao lugar, dando bom dia a todos os... servos que encontrava no caminho.

"Servos" é uma palavra estranha, certo? Meus pais, irmãos, enfim, familiares os tratam como se eles não passassem de objetos com valor temporário mas eu sempre tentava uma abordagem gentil e amigável com eles, e eles sempre comentavam o quão bondoso eu era, ou de bom de coração, mas isso não seria o comportamento correto e óbvio a se fazer? Assim que despertei de meus desvaneios percebi que já tinha chegado, chegado em meu jardim! Parecia que ele era totalmente meu pois nunca vi outra pessoa sequer pisar ali, ou me encontrarem ali, seria uma miragem que só eu vejo e toco? Todavia, me sentei no balanço que existia ali e me balancei lentamente, sem me mexer muito, apenas aproveitando a brisa que batia ali.

Reinado, casamentos arranjados, continuar a linhagem, regras, lidar com vários políticos... Tudo isso se passava pela minha mente, como se meu corpo tivesse se desconectado da realidade e aquilo tudo fosse apenas um sonho ruim. Nunca entendi o motivo da responsabilidade ter caído em meu colo, afinal, eu era o mais novo de cinco filhos! Porém pensando melhor, quase todos os meus irmãos optaram por uma carreira militar, não dando tanta importância a assumir o trono, e meus pais aceitavam mas foi só eu me impor que eles viraram feras, odiando cada vez e tratando como "uma rebeldia adolescente".

Não me imaginava sendo rei, tendo vários compromissos reais, uma das únicas coisas que imaginava era ajudar os mais necessitados; não por filantropia obrigatória de ser um membro real mas porque eu gostava, a felicidade estampada no rosto por algo tão simples, aquilo não tinha preço pra mim, valorizar as coisas mais simples da vida... Mesmo sendo um desejo impossível, ambicioso talvez? Eu queria mudar um pouco do mundo, queria ajudar pelo menos os mais próximos a mim, proporcionar a mesma visão de mundo que eu tinha.

Novamente meus devaneios se dissiparam, dando lugar a um sentimento agoniante: por que eu sentia a presença de alguém perto de mim? Ou melhor, me sentia observado. Uma sensação que eu não tinha, não aqui.

— Quem está aí? — Esbravejei. — Não adianta ficar calado, eu sinto você aqui. Ninguém nunca esteve aqui. — Quem quer que fosse, soltou uma risadinha.

— Você está no meu lugar, quem deveria fazer essa pergunta sou eu. — Quanta audácia! Esse jardim é apenas meu e de mais ninguém.

— Eu nunca te vi aqui, como ousa dizer que o lugar é seu? — Decidi me virar e encarar a "besta", me deparando com um garoto de cabelo loiro com as pontas rosadas, aparentava ter uma altura mediana, sorria como uma criança inocente e acima de tudo era muito bonito.

Estávamos em completo silêncio, um observando os detalhes do outro. Por minha vez, me questionava se tinha visto seu rosto alguma outra vez, seja no castelo ou pelas ruas, já que sempre costumava caminhar pela cidade, mas nada me vinha a mente - era um rosto estranho em um lugar íntimo! O que será que ele pensava de mim? Será que meu reconheceu como o "famoso jovem herdeiro do trono" ou eu também era um desconhecido a ele? Mesmo que essa última opção fosse meio impossível.

— Eu nunca o vi, mas analisando seu pijama... Ou você é podre de rico, ou furtou algum ricasso. — Suas palavras me atingiram como pedra, mas ao mesmo tempo estava aliviado em ser anônimo, pelo menos uma vez na vida.

— Eu.. meus pais tem bastante dinheiro, por mais que eu não goste tanto disso e das roupas. E me chamo Ji... Jian! — Menti.

— Jian... É um nome bem diferente, eh? Me chamo Chenle, pobre jovem garoto que odeia a riqueza. — Ok, ele com certeza estava tirando uma com a minha cara.

Chenle e eu deixamos nossas pré-diferenças de lado e pelo resto do dia apenas nós divertimos. Era só eu e ele, naquele jardim confortável, falando sobre a vida, rindo de baboseiras, de desastres da vida do outro. Por um dia completo, eu esqueci de todos os meus problemas e senti como se estivesse sendo eu mesmo. Não era Jisung, o príncipe mais jovem dos Park e herdeiro do trono, era apenas Jisung, o garoto que amava astrologia, botânica e leitura.

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⏰ Última atualização: May 01, 2022 ⏰

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