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⸳ 𝐀través do 𝐌edo ⸳
28 de maio, sábado; 4:21 am

AS GOTAS GROSSAS DE CHUVA BATIAM contra a pequena e única janela do comodo, um quarto apertado de paredes cinzas e poucos móveis, que possuía uma mesa pequena para um adulto, com uma cadeira vermelha que se encaixava logo abaixo dela. Sobre a mesinha, uma bagunça de gizes de cera quebrados e uns ainda inteiros, folhas com ilustrações infantis; o preto era muito usado tal como o vermelho, rabiscos mórbidos demais para terem sido feitos por uma criança.

Poucos desenhos estavam espalhados pela parede sem graça, um de uma linda borboleta com traços desregulares e linhas tortas, com rosa vibrante em suas asas. Logo ao lado deste, detinha o desenho de uma criança feita com linhas e círculos tombados, ela segurava a mão de um homem com terno azul; sorria, mas tinha rabiscos de giz preto ao redor, como se desse um ar sombrio a criança.

Logo acima do homem estava escrito: Papa. E na da menina escrito: Eleven. A folha estava amassada, como se alguém a tivesse feito de bola de papel a tempos atrás.

Ao lado desta outra gravura estava a mais recente, todo o papel estava revestido de preto, mas as linhas negras formavam apenas uma figura no tom da folha: braços longos, corpo magro, sem rosto algum.

Acima desta folha, escrito sobre a parede com o giz vermelho, tinha uma palavra um tanto deformada, feita por alguém que não tinha costume de escrever. 'Perigo' - era o que dizia.

Também tinha uma cama no local, pequena, mas do tamanho ideal para aquela sobre o colchão fino e duro. Um manto fino a cobria, mas não fazia frio naquele lugar, o ar era agradável, nem tão quente, nem tão frio; neutro.

O rosto infantil estava calmo, parecia tranquila naquele ambiente que para muitas podia ser visto como uma prisão. Vestia uma roupa hospitalar, detinha o cabelo repleto de belos cachinhos desde o dia que decidiu que teria longos fios como os das médicas do lugar; ela queria cabelos grandes, mas eles não queriam que crescesse tanto.

Um som alto foi ouvido, um trovão, cortando o ar e brigando com a calmaria daquele espaço. O som das gotas batendo violentamente no vidro do quarto parecia alto demais para a menina sobre a cama; ecoava em sua cabeça. Entrava em sua mente e explodia como se chovesse por dentro.

Outro trovão. Ela se encolheu sobre a coberta, assustada com o som alto demais. Seus olhos estavam fechados com força, sua respiração tremula, ela se mexia na cama como se tentasse escapar de algo. Mas ainda dormia.

Mais um trovão. As mão pequenas abraçaram as próprias pernas, as batidas altas de seu coração lutavam com as gotas de chuva constantes. Foi quando no próximo trovão, quando o barulho pareceu gritar em seu sub-consciente, que ela abriu os olhos.

Só que não estava em seu quarto, não estava em sua cama, não se ouvia mais a chuva, os trovões altos e nem mesmo seu coração batendo; ela não ouvia nada. Não via nada além de um lugar escuro, levantando-se e notando sobre seus pés uma água morna reluzia seu reflexo, seu rosto assustado e olhar confuso. Como se não houvesse luz no ambiente, apenas sobre si, sobre sua cabeça.

'Como cheguei aqui?' ela questionou sozinha em pensamento. Ela sabia onde estava, pois já fora ali antes, mas com o auxilio de uma maquina para ter maior concentração. Só que naquele momento, ela tinha chegado ali apenas em uma noite de sono... não fazia sentido, a garota sabia que não podia fazer aquilo, não conseguia fazer. 'Eu não tenho forças para fazer tudo isso...'.

'Não tem ainda.' alguém, uma voz, a respondeu; como em um sussurro em seu ouvido. Isso a deixou apavorada. Seus olhos se arregalaram, seu corpo se mexendo em todas as direções tentando achar o autor daquele som; mas não viu nada e nem ninguém. Ela estava sozinha ali.

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⏰ Última atualização: Oct 25, 2022 ⏰

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