1. Meeks

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Acordo e o dia ainda está escuro, o sol nem ao menos nasceu, acho que essa é a consequência por ter ido dormir cedo demais ontem, mas simplesmente não queria ficar acordada aqui sozinha, cercada por lembranças de alguém que não vai mais voltar.

É sempre assim quando ela não volta para casa, porém compreendo minha mãe evitar a cidade o máximo que pode. Desde que ele se foi, ela se afastou de tudo, de mim. Sempre desconfiei que não era o suficiente para ela, mas ter a comprovação disso é doloroso.

E eu me acho tão egoísta por ficar brava com ela, sendo que se eu pudesse, também fugiria daqui.

Eu perdi um irmão, ela perdeu um filho, pode não ser a mesma coisa, mas poderíamos ter nos apoiado no último ano, e ao invés disso ela resolveu ir embora. Tive que passar o último ano me esforçando em aguentar, em conseguir continuar.

Mesmo assim não consigo me lembrar da maioria dos dias, tudo se tornou um borrão na minha mente, tenho quase certeza que vivi tudo no piloto automático, foi minha forma de lidar.

Demoro para me levantar como todos os dias, quero desistir do meu plano de ir para a cafeteria, mas passar outro dia inteiro na cama não vai me ajudar a terminar o trabalho que preciso entregar amanhã, e trabalhar em um lugar público vai me impedir de simplesmente desistir.

Tomo um banho já que vou sair, e coloco uma calça de moletom assim como a blusa também de moletom, o dia está gelado demais para me importar em me vestir bem. Pego minha mochila, enfiando o notebook dentro dela enquanto desço as escadas.

Essa casa é grande demais, e solitária demais.

Vejo o dia começar a clarear enquanto ando até a cafeteria, que não fica longe de casa, frequento tanto aquele lugar desde meu primeiro ano no ensino médio que não preciso nem ao menos dizer meu pedido, já que sempre peço a mesma coisa.

A cafeteria também não fica tão longe do internato, no meu primeiro semestre, quando um professor detonou uma de minhas composições, meu irmão me levou nessa cafeteria e me comprou uma torta de morango para tentar me reconfortar.

Takashi era meu melhor amigo, odeio o universo por ter nos separado.

Quase como uma ironia, assim que me lembro dele, começa a chover.

– Droga – falo sozinha, me apresso em chegar na cafeteria, mas a chuva engrossa muito rápido e nos 30 segundos que demorei para entrar no estabelecimento, já estou encharcada – Mei, tem alguma toalha? – pergunto, chamando a atenção da mulher no balcão.

– Meu Deus Aimi! – a mulher arregala os olhos e entra numa porta atrás dela, logo volta com uma toalha em mãos e me entrega, seco um pouco meu cabelo – não acredito que veio nessa chuva.

– Já estava perto quando começou – digo, o vento gelado bate em mim de novo quando a porta se abre atrás de mim e alguém entra na cafeteria.

– Que temporal – ouço uma voz masculina enquanto termino de tentar me secar – pode me emprestar essa toalha?

Finalmente olho para a pessoa atrás de mim e quase perco o ar, ele parece ser adolescente assim como eu, mas é bem mais alto e forte, usa uma camiseta e uma calça de moletom. Ele está ainda mais molhado que eu, estendo a toalha para ele.

– Valeu – ele sorri para mim, é um sorriso muito bonito, ele é muito bonito.

Mas não digo nada e vou me sentar no banco de sempre, minha mochila também está molhada, mas ao menos nada dentro dela molhou, então puxo meu notebook e meu caderno de dentro, enquanto Emi me traz um café quente.

– Não acha melhor voltar para casa e tomar um banho quente? Pode acabar pegando um resfriado – ela diz, Mei deve ter uns 20 anos, sei que trabalha aqui de manhã e frequenta a universidade da cidade, aprecio sua preocupação.

FEELINGS - Bokuto KoutaroOnde histórias criam vida. Descubra agora