PRÓLOGO

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CRIANDO UM HOMEM

Mansão Wayne / Bristol / 16h24 / 21 de setembro de 1953

- Droga, garoto! Levante-se!

Thomas Wayne mais uma vez se encolheu ao ouvir a voz. Era um reflexo enraizado nele. Em todos os seus quinze anos de vida aquele recuo
havia sido tão natural quanto respirar, tão automático quanto piscar.

- Não é assim que se segura uma arma!

Patrick Wayne era um grande homem em uma grande cidade, com mãos largas e fortes que, Thomas não tinha dúvida, haviam dobrado e dado forma ao próprio aço que estava nas fundações de Gotham City. Sua
voz superava seu tamanho, rugindo na escuridão, ecoando nas paredes invisíveis em uma cascata de ecos que chegava às entranhas da terra. A lanterna de mão do velho lançava uma coluna de luz amarela que feria os olhos do garoto.

- Agarre a coronha com a mão direita na altura do gatilho para poder erguer o cano pelo guarda-mão! E que inferno, segure-a cruzada sobre o corpo com o cano para baixo.

Thomas reajustou devidamente a forma de segurar a escopeta. As
mãos tremiam tanto que tinha medo de deixá-la cair. Suor se acumulava
entre as omoplatas sob o suéter e a camisa com colarinho, a despeito do
frio úmido da caverna. Alguma parte de sua mente registrou o fato de que
os jeans novos ficariam destruídos. Era uma distração de sua mente. Ele
sentiu o que viria a seguir.

A grande mão bateu nas costas de Thomas, empurrando-o para dentro
da caverna. O jovem odiava o escuro. As paredes e o teto invisíveis da caverna o oprimiam. Ele curvou os ombros, se apertando enquanto tropeçava nas pedras de xisto soltas que eram esmagadas sob seus pés.

- Custe o que custar, garoto, vou fazer de você um homem - rugiu Patrick
atrás dele.

Thomas conhecia aquela combinação melhor do que os coquetéis que sua mãe o fazia preparar para ela toda noite - e, ultimamente, toda tarde
também. Seu pai conseguira desenvolver doses iguais de fúria e álcool com um toque de decepção. Nunca importava de onde vinha - quem ou o que irritara o velho era irrelevante, Thomas sabia. Tudo o que importava agora era que Thomas havia se tornado o centro da insatisfação do pai... Novamente.

Sua própria masculinidade havia sido de alguma forma ameaçada, e agora a masculinidade seria injetada no filho a qualquer custo.

- Acha que aqueles quadrinhos irão mantê-lo vivo em Gotham City?
Lá fora é matar ou morrer, não é como aquele mundo de quadrinhos em
que você vive! E você hoje vai aprender a matar, filho. Você irá matar alguma coisa!

Ele podia ouvi-los.

Mesmo acima da voz tempestuosa do pai ele podia ouvir os morcegos acordando.

Era de tarde, e ele atrapalhara seu descanso. A luz fraca das Evereadys
que se esgotavam na lanterna do pai refletia em mil pares de olhos cobrindo o teto acima deles.

Os morcegos estavam em casa sob a Mansão Wayne, e, ao entrar, Patrick
e o filho haviam perturbado o silencioso equilíbrio na caverna entre o mundo acima e o mundo abaixo.

- Vamos com isso, garoto!

O temor se aprofundava. Ele não conseguia impedir que as mãos
tremessem. Tentou erguer o cano da escopeta, mas aquela coisa pouco familiar parecia insuportavelmente pesada, e ele não conseguiu mover os
braços. Lágrimas queimaram seus olhos, se acumulando e escorrendo pelas faces na escuridão.

Thomas tentou falar por entre lábios trêmulos.

- O que você disse, garoto?

Thomas podia sentir a presença massiva do pai crescendo acima dele
enquanto a luz fraca balançava em suas mãos.

Wayne de GothamOnde histórias criam vida. Descubra agora