20 e poucos anos

13 0 0
                                    

''Nossa, faz muito tempo que não escrevo. Na verdade, não acho que alguém vá se interessar em ler isso.

Oi, eu sou a pam e bem-vindo ao blog mais instigante que você vai ler.

Hoje, vou escrever sobre a tristeza de completar 20 anos e sentir-se acomodado. Tome um chá e se acomode.

Aviso: talvez o conteúdo cause confusão mental e choque de realidade, por isso não é indicado para telespectadores sensíveis e com rumo na vida.''

- Vai escrever isso? 

Senti uma voz suave atrás de mim e ajeitei o óculos, pronta para escrever mais um parágrafo. Eu mal percebi que ela estava curvada lendo, o que mais refletir que eu seria uma vítima muito fácil de um invasor, será que eu deveria fazer algum curso de luta? ou será que eu só lerdeza.

-Achei que tinha trancado a porta. 

Disse revirando os olhos em brincadeira.

Olivia riu e foi em direção à cozinha para pegar o café que eu havia feito, tirou o casaco e o jogou na bancada.

-E Eu gosto de desiludir as pessoas tá? , assim não criamos expectativas com vidas irreais.

Dou espaço e escrevo mais uma linha. 

''péssimo texto'' penso, será que eu deveria arrumar essa introdução esta muito clichê  

Ela veio desfilando com as botas novas, que possivelmente ganhou do namorado. Na verdade, Olivia conseguia tudo o que queria. Ela era o meu oposto: confiante, bonita e muito determinada ou apenas não sabia como ser uma perdedora. As botas combinaram perfeitamente com o casaco marsala e o vestido preto.

-Quais expectativas? Faz um mês que não sai de casa, sua mãe acha que você está com depressão e você está com a mesma roupa desde que saímos. Está falando com ela? Tá tomando banho?

-Minha mãe? - disse, arqueando a sobrancelha para o computador. Eu estava enfrentando o que os escritores chamam de bloqueio criativo. Brinquei com os dedos na tecla, na esperança de que minha amiga saísse pela porta, mas perdi as esperanças quando ela se sentou no braço do sofá ao meu lado com uma xícara de café. Eu sabia que ela estava me olhando e provavelmente percebeu que eu a evitava.

Era normal ela achar que eu estava definhando em casa, solteira, sozinha, com o emprego ruindo, boletos atrasados e uma faculdade fracassada. A verdade é que chegar aos 20 anos pode ser um momento de reflexão e tristeza para muitas pessoas. A sensação de estar acomodado e de não ter alcançado as metas esperadas estava me destruindo por dentro. Eu não sabia o que fazer e me sentia mal.

Às vezes, eu sentia como se a cadeira me engolisse, e tinha a sensação de que o som ambiente ficava abafado, como se, por um milésimo de segundo, eu ficasse surda. Eu faço uma lista de tarefas para o dia, e minha meta é chegar até o fim. Mas, quando vejo, a lista está no chão junto comigo, e eu não fiz nada o dia inteiro. Sinto-me cansada o tempo todo, mesmo sem ter feito esforço físico.

-Olha, eu sinto muito a sua falta nas aulas. Eu sei que está passando por um momento difícil e não quero que lide com isso sozinha. Talvez se a gente voltar às visitas com o terapeuta ajude.

Olivia colocou a mão sobre meu ombro e eu coloquei a mão sobre a dela

-Eu não preciso de terapeuta, eu preciso de uma ideia - disse, levantando e tirando os óculos antes de ir em direção ao banheiro.

Olivia me seguiu pelo corredor e fechei a porta, lavando o rosto. Minha coluna doía e eu precisava urgentemente de uma cadeira decente para estudar. Enquanto a água escorria, senti Olivia se aproximando.

Entre encantosOnde histórias criam vida. Descubra agora