Alucinação

107 11 0
                                    

Quando seu coração acelera e você sente aquele frio na barriga, isso não é paixão, é medo.

Sentimentos são confusos e se parar pra pensar, amor é só uma ideia bem questionável vendida pelas pessoas. Você não vai se apaixonar se não soube o que é, como é ou se quer aquilo.

Desde sua adolescência, Law sempre foi o garoto curioso, o que perguntava de tudo e questionava qualquer coisa que fosse; e mais importante, ele descobriu como se sentia bem quando entrava em alguma situação de perigo.

Como ficava a ponto de chorar de emoção quando pulava a janela de seu quarto na madrugada, só pra andar por aí e correr o risco de entrar numa situação de perigo.

Foi numa dessas saídas, aos dezesseis anos, que conheceu Corazón, um motoqueiro bad boy muito respeitado nas bandas do norte da sua cidade.

E numa cidade pequena, é claro que todos conheciam aquele loiro de cara pintada, que andava por aí caindo, seja de moto ou sem ela. O garoto se encantou por aquele homem de intenções questionáveis e resolveu que pediria pra dar uma volta com ele.

Seu coração batia tão rápido quando se levantou e deu seus primeiros passos até o bando de pessoas onde o loiro estava. Ele era enorme, pensava Law, e se ele aceitar? E se cairmos? E se eu morrer na queda? Seu coração acelerava cada vez.

Aquela sensação de adrenalina, a pupila dele se dilatava a cada passo que ficava mais e mais perto do homem.

Um dos caras avistou o garoto e riu apontando para ele, fazendo todos, inclusive o loiro, o encararem confusos.

— Um garoto? — a voz grossa dele fez as pernas de Law ficaram bambas, era perfeito. Como a idealização de um sonho, um fetiche de homem perfeito. Como ele ficaria sem a maquiagem? Como ficaria se eles estivessem num momento íntimo? Os cabelos loiros molhados de suor, as peles se tocando e como seriam seus gemidos, Law queria saber. Todos continuavam encarando ele, que preso em seus pensamentos, olhava fixo o chão, criando coragem pra falar. Corazón continuava falando algo mas ele não ouvia nada além da sua própria respiração.

— Eu... — disse ainda de cabeça baixa, a poucos centímetros do mais alto — Queria dar um volta na sua moto — ele ergueu a cabeça, seus olhos bem abertos encararam os do loiro, que tinha a boca aberta, surpreso pela proposta. Law engoliu em seco antes de continuar — Com você?

Todos pararam de rir diante daquela demonstração de coragem e Law viu quando os olhos, antes apáticos de Corazón, se transformaram e ganharam um brilho quase infantil. Aquilo fez Law perder um pouco o tesão que sentia, mas nunca desistiria de andar de moto, de sentir o vento nos cabelos e a pressão na pele, ou até a excitação de agarrar a cintura de um homem mais velho quando a velocidade fosse a mil, quanto mais errado melhor.

— Claro — Ele sorria contente, Corazón amava mostrar sua moto a adolescente, tinha tanta vontade de inspirar mais pessoas a amar os veículos que ele tanto amava.

E enquanto ele caminhava na frente, Law sentia sua bexiga cheia, ele estava quase mijando nas calças de tão nervoso e aquilo fazia seu sorriso, ainda que tremido, não deixar o seu rosto. Qualquer um que o encarasse naquele momento teria medo daquela expressão tão descontrolada.

Quando subiu na garupa daquela moto tão alta, eles não estavam de capacete, por pedido de Law, e a primeira coisa que fez foi colar seu corpo ao do mais velho e agarrar aquela cintura malhada e dura.

Quando Corazón ligou a moto, Law enfiou seu rosto nas costas dele e cheirou como um louco, o cheiro de nicotina misturado ao de álcool, cheiro de queimado e no fundo, suor misturado a um perfume barato com cheiro de madeira. Ele foi a loucura e quase teve uma ereção, só de pensar no quão bem aquele homem poderia ser numa cama.

Quando a velocidade veio, Law se lembrou que estavam numa moto em movimento, e a estrada vazia era a única paisagem que ele podia vislumbrar, as placas desgastadas e o céu escuro, a pouca iluminação e a sombra deles projetada no chão.

— Vai mais rápido — ele disse no ouvido do loiro, que riu e acelerou, aquilo fez o garoto ir a loucura, soltar seus braços e os abrir, aproveitando o vento, sentindo a adrenalina, sentindo o perigo em cada célula viva do seu corpo.

Quando Corazón fez uma curva, mesmo que a velocidade fosse reduzida aos poucos, Law respirou fundo e pôde sentir a sensação de ida, um sentimento que ele mesmo nomeou de quase morte. E sorriu, porque gostou dela, se pudesse faria dela sua melhor amiga.

O loiro foi gentil, o que fez Law perder um tanto do interesse que tinha dele. Aquele homem deveria ser perfeito, deveria o fuder em cima daquela moto no meio da estrada deserta e não ser gentil e oferecer uma carona.

Mas aceitou.

O loiro o deixou na esquina de casa e desceu junto, fez pezinho pra ele subir pela janela e não correr o risco de se machucar. E o que ganhou em troca foi um selinho discreto e um sorriso pequeno antes de ver a janela se fechar.

Depois de ouvir o barulho do motor ficando cada vez mais distante, Trafalgar Law dormiu como um anjo.

Tinha dito sua primeira paixão: a adrenalina.

Deixando claro que Corazón, alguns dias depois, chamou Law pra dar uma outra volta na sua moto. O garoto todo animado pensou que dessa vez ele conheceria uma adrenalina ainda mais intensa, mas quebrou a cara.

— Sinto muito, Law — Corazón começou se desculpando, logo quando pararam no fim da estrada onde havia um lago congelado — Não podemos ser mais que amigos, espero que entenda.

Ele entendeu. Aquela foi sua primeira desilusão amorosa mas, ao menos, ganhou um amigo sincero, quase como um irmão.

Com o passar dos anos, reprimindo suas vontades e fazendo de tudo pra não deixar transparecer o quanto gostava de se colocar em situações de extremo perigo, Law encontrou um novo objetivo.

O que muitos chamariam de sonho, Law chamava de válvula de escape. O que muitos chamariam de profissão, ele chamaria de paixão. Talvez obsessão.

Com dezoito anos, algo fez os olhos do agora quase adulto brilharem, a medicina moderna, a área cirúrgica.

Ele viu na medicina, nas cirurgias, momentos de atração de perigo, momentos onde faria coisas ruins com boas intenções vinculadas.

Afinal, cirurgias nada mais são que cortar as pessoas para fazê-las melhorar, piada feita por um colega de estágio muito falante, Law odiava ele.

Com o passar dos anos, aquele fogo da adolescência foi passando, ele se formou, foi trabalhando em diversos hospitais e ajudando muitas pessoas, às vezes ganhavam gritos por não conseguir salvar a vida de algum paciente, mas tudo isso era normal na vida de um médico.

Havia um enfermeiro alegre, que tinha perdido seu pavor de sangue com hipnose, pelo menos essa era a história que ele contava que fazia todos rirem e acharem ele super simpático, Ace era seu nome.

Cabelos castanhos e sardas avermelhadas, ele se gabava por ser uma mistura perfeita dos genes dos seus pais, Law nunca teria interesse em alguém tão extrovertido, tão falante e tão aberto.

Trafalgar gosta de mistérios, de coisas que não parecem, mas são.

Ele nunca esperou nada daquela família, Ace era apenas seu melhor amigo, pela convivência e por que ele não desgrudava de si, e o seu irmão mais novo era só o irmão mais novo do seu melhor amigo.

Ace vivia falando do garoto, além de um tal de Sabo que morava fora do país.

— Me chamo Luffy — se apresentou com um sorriso que passava a perfeita imagem de inocência, como uma criança. Como Law quando era mais novo e conheceu Corazón, bobo e inexperiente. Law nunca sentiria nada por alguém assim — É um prazer te conhecer, Ace fala muito de você.

Seria divertido descobrir que o que parece, não é, certo Law?

Faça você mesmoOnde histórias criam vida. Descubra agora