Dia a dia

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Resiliente a Paixão

Brasil: Rio Grande do Norte – Natal

Capítulo 1: Dia a Dia

Segunda-feira, 07h01min

No fone de coloração alva, posicionado
unicamente entre as cartilagens da orelha esquerda, ornada por ínfimos pares de argolas douradas, reproduzia a melodia aprazível, combinada a batidas acentuadas de Hard 2 Face Reality, formada por um feat entre Justin Bieber e Poo Bear. Os fragmentos cantados pelo cantor canadense acariciavam meu tímpano sensível, levando-me a ronronar ao que tinha minhas pálpebras oclusas e os lábios entreabertos, cedendo à moleza que aquele dia gélido proporcionava, enquanto descansava minha cabeça apoiando-a na vidraça da janela do transporte público.

Meu cenho, no momento, manso, evidenciava a profundidade de minha sonolência, decorrência de pouco descanso e múltiplas atividades e preocupações. Esses fatos foram o suficiente para que minha estrutura de exígua estatura mergulhasse na serenidade progressivamente, segundos após acomodar-me no banco estofado do ônibus lotado, tanto que fôra quase imperceptível para mim o solavanco que meu corpo cedeu assim que o longo veículo freou abruptamente. Subitamente, meu sistema nervoso liberou o hormônio de Epinefrina em minha corrente sanguínea, trazendo-me a prudência de volta, ao que senti inclinar-me de acordo com o movimento de força do veículo, abrindo meus olhos com destreza e instintivamente espalmando minha palma destra no peito do passageiro ao lado, impedindo um viável acidente, sendo possível sentir seus batimentos cardíacos acelerarem, assim como os meus.

— Mas que caraio, motorista! — o indivíduo sentado ao meu lado berrou, um pouco desorientado, em conjunto aos demais passageiros revoltados.  — Todo dia ele passa por aqui e mesmo assim, esse homi num vê o quebra-mola, não? — murmurou para uma senhora ao seu outro lado, irritado, sendo acompanhado pela idosa. — Vou reclamar na secretaria de transporte, nem um cinto de segurança que preste essa mulesta tem.

Embora ainda surpresa com o ocorrido, não fui capaz de não achar graça da forma que meu amigo reclamava sobre as diárias freadas surpresas de Josué, o motorista, que insistia em não procurar um oftalmologista para tratar de sua seria miopia, chegando a fazer os passageiros voarem alguns centímetros sobre seus assentos ao passar os quebra-molas. Porém, me contive para não atiçar ainda mais sua ira, que parecia ser ejetada por seus poros.

Aconcheguei-me um pouco mais confortável no banco, alojado no fundo do ônibus, recoloquei meu fone (que havia caído com o alvoroço), agora em ambas as orelhas, mudando a música ao apertar o pequeno botão instalado no fio, fechando com lentidão meus olhos cansados ao começar a tocar At My Worst, de Pink Sweats, suspirando levemente ao que sentia meu corpo voltar àquela gostosa dormência de minutos atrás.

Resiliente a Paixão - Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora