A dor de quem ficou

25 1 0
                                    

Quando fecho os meus olhos, tudo que vejo são os teus.

Como posso viver assim? Escuto tua voz em meio ao silêncio, sinto teu cheiro onde você nunca esteve e vejo tua imagem sabendo que você não está. Acho que estou enlouquecendo.

Todos dizem que é normal, que faz parte do processo de perder. Que o choro e o luto precisam ser sentidos, mas eu odeio sentir. Não estou achando proveitoso e nem que estou amadurecendo. Será que isso vai durar para sempre?

Meu peito aperta mais uma vez e uma lágrima escorre dramaticamente pelo meu rosto. Não posso limpá-la, sinto que meu coração irá desmanchar se eu tirar minha mão. Encolho-me um pouco mais, lamentando a situação patética a qual me encontro. Afinal, ninguém morreu, a não ser, é claro, o amor.

" Eu te amo tanto, que às vezes dói... — Diz, olhando-me como se pudesse enxergar minha alma. — Consegue entender isso? — Concordo, sem dizer nada. Trocamos sorrisos e sinto meu peito apertar de felicidade"

Mordo meus lábios com força, contendo um grito de dor quando a lembrança me atinge. Eu estava tão feliz que nem podia imaginar um fim. Agora tudo que passamos parece tão distante, mesmo que o dia trágico tenha sido há alguns dias. Tento conter a tristeza abraçando meu próprio corpo, apertando meus braços até sentir uma dor diferente.

Por que começamos algo que pode acabar? Qual a graça do risco? Dou uma risada chorosa pensando nos meus próprios lamentos, pois enquanto estava dando certo aceitei todas as condições. Porque não achei que fosse acabar.

Tento puxar o ar com força, para me acalmar, mas nada adianta. Esfrego meu rosto com tanta força que consigo sentir ardência. Não aguento mais me sentir assim, só quero que isso acabe de uma vez.

— Por favor... — Suplico em sussurro, para ninguém.

Sento-me na cama, aproveitando a pausa do choro que vinha contínuo. Olho ao redor, no escuro, procurando por nada exatamente. Só escuto a minha respiração irregular pela ansiedade e o movimento da cidade que não parou com o meu sofrimento. É tudo tão injusto.

"— Acho que nós combinamos... Digo, não por fora, sabe? Mas por dentro. — Escuto, sem interromper, por gostar de ouvir seus devaneios românticos. — Se esse negócio de almas gêmeas existir, nós com certeza somos um par! — Sorrio, concordando."

Fecho os olhos com força como se tivessem me batido, a dor faz com que eu prenda a respiração e as nossas vozes preenchem o ambiente. Tampo os ouvidos na esperança que tudo desapareça, em vão. Demoro a me recuperar da nova lembrança, mas não choro. Acho que gastei todas as minhas lágrimas.

Levo as mãos ao peito para tentar controlar meus batimentos acelerados, preciso me levantar e comer, não sei quando foi a última vez que o fiz. Não sei que dia é hoje.

Mas não quero saber que dia é hoje, não quero comer, não quero fazer coisa alguma. Tudo parece tão errado. Acho que não gastei todas as lágrimas, porque voltaram a cair e cair sem parar. Eu só não quero me mexer. Estou com medo de simplesmente não me aguentar de pé, porque tudo dói.

"— Eu sei que te machuca que eu não esteja por perto o tempo todo... — Suspira, em frustração, é uma conversa difícil de qualquer forma. — Mas somos pessoas separadas, com suas próprias vidas e desejos... — Eu sei disso, fui eu quem disse isso primeiro, mas não muda a falta que faz. — Estamos nos esforçando para isso dar certo, ok? Vai valer a pena, eu prometo."

Não valeu a pena. Ou valeu? Não consigo decidir.

Arrasto minhas pernas para fora da cama e toco o chão frio com os pés descalços, a primeira sensação não dolorosa que sinto hoje. Na verdade, sinto até alívio em perceber que não morri. Respirar dói.

Agarro a ponta da cama com força, depositando o restante da minha energia em uma tarefa cotidiana, enquanto ignoro que voltei a chorar. Ao ficar de pé, soluço. A dor não passou nem um pouquinho e quero voltar para a cama. Choro alto mais uma vez na tentativa de expurgar esse incômodo que se alojou no peito.

Sento de volta, deito outra vez e me cubro até a cabeça.

Se eu fingir que não existo, a dor vai embora?

"— Tudo em você é bom, sabia? — Nego com a cabeça, de olhos fechados, para aproveitar o carinho que me é destinado. — Seu cheiro, seu rosto, sua voz... Seu amor. — Seu beijo termina a mensagem e aproveito ainda mais."

Toco meus lábios com saudade daquele carinho. Eu deveria ter aproveitado mais, ter me esforçado mais, ter dito mais. Eu fiz tudo que eu podia, digo, mas não acredito em mim.

Seguro meu travesseiro contra o peito, acariciando o espaço que ficou vazio e choro mais. Não consigo abrir os olhos. Então me odeio um pouco, como posso depositar tanta emoção em outra pessoa? Como pude perder tanto de mim?

Eu ainda estou aqui, em pedaços, mas aqui. Você que partiu.

Mas eu não te culpo. Talvez só um pouco.

Na verdade, te culpo sim.

"— Eu também estou me cansando, por favor, não seja egoísta. — Você quase gritou, pude sentir a irritação na tua voz e continuo chorando sem te encarar. Não quero olhar e entender que estamos perdendo. Estou rezando em silêncio para que seja um pesadelo, mas eu sei que não é."

Eu poderia ter dito algo, que mudaria o resultado? Nesse tempo em conjunto poderíamos ter feito algo no caminho que nos traria outro final? As lágrimas não param de sair, continuo vendo nossos rostos felizes de antes. Não paro de pensar nos e se...

Só que mesmo que eu planeje diferentes destinos imaginários, sei que não foi por acaso que acabou.

E acho que é por isso que dói mais. Não posso culpar forças que não vejo.

Eu sinto muito.

Respiro fundo mais uma vez, dando uma trégua ao meu corpo e tentando me levantar. Faço o mesmo processo e fico de pé. Caminho reto para o banheiro, preciso me limpar de toda essa angústia. Tiro minhas roupas com paciência, lembrando dos toques de afeto que recebia por toda parte. Entro no chuveiro e choro um pouco mais, esfrego por todo lugar como se fosse possível apagar todas as memórias.

"— Te acho a pessoa mais linda do mundo, por dentro e por fora. — De longe, não respondo. É uma despedida cruel. Não escuto o resto de suas justificativas, porque para mim não faz sentido. Mas eu não sei mais como lutar por nós, por isso eu aceito."

Mesmo que meu coração grite que eu podia ter lutado mais, eu sei que fiz de tudo. Ultrapassei todos os meus limites e me perdi no caminho. Amei mais do que podia e agora preciso me reencontrar.

Minha sanidade parece voltar aos poucos e consigo vestir outra roupa. Acendo as luzes e encontro o caos que meu espírito refletiu no lugar. Respiro fundo para ser paciente comigo. Eu preciso comer algo mesmo sem vontade alguma.

A dor continua aguda, fazendo meus olhos se encherem sempre que paro um segundo e os pensamentos voltam a me rondar. Deixo que as lágrimas escorram enquanto junto minha bagunça.

Queria poder ficar mais dias em sofrimento absoluto, mas amanhã é segunda e o mundo não espera porque meu amor acabou.

A dor de quem ficouOnde histórias criam vida. Descubra agora