Capítulo 1

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Emma 

Não gosto de diários. Nunca gostei de nada em que eu precise relatar a minha vida, pra ser sincera. Bem, eu posso abrir uma exceção pra aqueles planners, já que sempre anoto o que eu preciso fazer no dia para não me esquecer, mas, claramente, não é a mesma coisa que um diário. 

Como pode um negocinho tão sem vida que é um caderno com folhas em branco receber algo tão importante e confidente que é a nossa história? 

Bem, não que a minha seja muito interessante, mas, mesmo assim. 

Apesar da minha falta de compreensão, meu terapeuta falou que isso iria me ajudar muito a ser aquela menina sorridente e corajosa que eu era a dois meses atrás. E eu torço com todo o meu coração que ela tenha razão. 

Bom, então vamos lá. 

Querido diário (meu Deus que ridículo), 

Meu nome é Emma Redfield, moro na Califórnia e tenho 16 anos. Estou no segundo ano do ensino médio. Minhas aulas começaram segunda- feira passada. Hoje é terça, se quer saber. Não, não tenho muitos amigos. Não sou uma pessoa muito...fácil de fazer amizades, ainda mais agora.  A minha única amiga se chama Josie. Ela é minha amiga desde os nove, mas desses meses pra cá a gente vem se afastando porque não estou com muita cabeça pra aconselhá-la em relação aos seus namoros (que nunca dão muito certo), ou pra ajudá-la a colar nas provas. 

Não me leve a mal, por favor. É só que eu... eu não estou na minha melhor fase, sabe? 

Tá, tudo bem. 

A dois meses atrás eu tive um acidente um tanto... perturbado. 

Eu... eu tive um acidente de carro. Eu e minha irmã, na verdade. Só que ela não está mais aqui pra dizer pra mim que tudo vai ficar bem. Agora ela não está mais aqui pra acariciar meus cabelos enquanto eu dormia em seu colo. Agora ela não está mais aqui. 

Eu tenho o estranho costume de perder as melhores coisas que a vida me dá. E foi exatamente o que aconteceu. Eu perdi a melhor parte de mim. Eu perdi ela. Pra sempre. 

Droga, não era pra eu estar chorando. Não foi o idiota do terapeuta que me disse que escrever aqui ia fazer com que essa dor me abandonasse? Não está funcionado. 

É, o nosso carro caiu da ponte. (Pronto, escrevi. Satisfeito seu terapeuta de merda?). 

Me lembro como se fosse ontem da água engolindo o nosso caro e de nós desesperadas pra tirar o cinto de segurança. O meu eu consegui tirar, agora o da minha irmã emperrou. 

Fui ajudá-la a tirar o sinto, mas estávamos afundando cada vez mas rápido. Faltava pouco para morrermos afogadas. Até que ela me olhou com os olhos marejados e me disse: 

- Já consegui Em. Vai indo que eu vou logo atrás de você. 

Assenti aliviada. Dei um beijo em sua bochecha. 

- Tudo vai ficar bem. Eu...eu te amo muito, tá? Agora abra a porta e nade bem rápido. Não olhe para trás. 

- Você vem logo atrás de mim, certo? - perguntei exausta, tentando manter minha cabeça fora da água. 

- Certo. Agora corra. 

A água inundou nosso carro. Tentei prender a respiração e nadei o mais rápido que pude para a superfície. 

- Liv, conseguimos! - disse ao chegar na superfície.  - Meu deus nem acredito. - digo trêmula - Liv? Liv??? 

Onde ela está?? 

Droga, droga, droga. 

- Liv! Onde você está?? 

"Tudo vai ficar bem. Eu...eu te amo muito, tá? Agora abra a porta e nade bem rápido. Não olhe para trás."

Não. NÃO! 

Pois é. Liv nunca tinha conseguido tirar o cinto. Ela só percebeu que se eu fosse ajudá-la a tirar o cinto, provavelmente não teríamos conseguido de qualquer jeito. Ela preferiu poupar a minha vida a ter que salvar a dela. 

Eu me odeio por isso. Me odeio tanto por isso. Eu a odeio por isso. 

Minha irmã morreu! Ela morreu porque eu fui ingênua o suficiente e a deixei morrer. Eu ao menos tentei salvá-la. 

Quando o corpo de bombeiro nos resgatou já era tarde demais. 

"Sua irmã está morta. Sinto muito. " 

E é esse o motivo que a ansiedade e a depressão entraram na minha vida e nunca mais saíram. E é exatamente por isso que, se eu pudesse voltar no tempo, eu voltaria, nem que se, pra salvar a vida dela, eu teria que acabar com a minha. 





Até que a morte nos separeOnde histórias criam vida. Descubra agora