oneshot

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"Na verdade, a vida é muito bonita, e eu tenho tempo"


Pov Iris

Se você descer no metrô República e andar em direção ao Anhangabaú, pouco antes de chegar no teatro municipal, tem uma viela com vários sebos de livros e discos, e no final, um restaurante de comida árabe. Sei o cardápio de cor, e o atendente me conhece, e o antes dele me conhecia também, e o dono também sabe quem eu sou. É nosso restaurante, e sempre vai ser.

Quanta idiotice, eu penso enquanto estou no metrô voltando para casa e vejo no seu instagram que você está de volta ao Brasil. Chegou ontem.

"Bruninho está de volta ao Brasil, o jogador desembarcou em um voo noturno na madrugada desta sexta- feira em São Paulo"

Nos comentários da matéria todos estão dizendo que é para o dia das mães que é no final de semana. E deve ser mesmo, o Bruno nunca perdeu uma oportunidade de estar com a família.

Será que ele vai ficar em São Paulo?

Vamos lá, eu e o Bruno namoramos, por 5 longos e incríveis meses antes dele se tornar o jogador astro e ídolo mundial, e isso faz anos. Na real, eu tenho no meu apartamento tupperware no freezer com mais tempo do que o nosso namoro. Faz quase 7 anos que eu não vejo pessoalmente, só por fotos e notícias, e claro nos jogos de vôlei na TV. Ele não deve nem lembrar meu nome, será que ele pensa em mim?

A verdade é que o Bruno foi o meu primeiro grande amor, ele foi meu primeiro namorado, meu primeiro beijo e tudo o que eu puder colocar primeiro na frente, foi com ele. Ele foi a primeira pessoa que me disse para ir mesmo, e fazer enfermagem, que me incentivou e disse que o mundo era meu. Acho que ele nem sabe que realmente fiz enfermagem, terminei o curso com muito suor e acabei trabalhando no Einstein. Eu tive outros namorados, até morei com um, mas já aceitei meu destino de eterna solteirona. No final, acho que acabei sendo casada com meu trabalho. O Bruno foi meu amor estrela cadente, que passou.

Não consigo resistir a nostalgia do momento no metrô e desce na República, só para pegar um kebab para ir comer e encerrar a noite.

Pov Bruno

Mas.que.grande.porra

É tudo o que minha cabeça consegue pensar quando eu abro pela terceira vez o tiktok dentro do uber. Como eu fui esquecer do caos que é o centro de São Paulo? Sexta de feriado, dia das mães próximo, como eu achei que ia estar, hein Bruno?

A balada está a 15 minutos de distância e eu não aguento mais ficar com a bunda colada no carro, escutando o motorista dizer coisas sobre a nova faixa que implantaram. 15 minutos é longe? Dá para ir andando?

Quero ir andando, tô me sentindo sufocado aqui dentro com o cheiro de couro do banco.

Eu preciso sair.

"Olha seu Osvaldo, eu agradeço muito a corrida e já tá tudo pago no aplicativo, o senhor não vai perder a corrida, mas eu vou andando aqui, tudo bem?" pergunto já me arrumando para sair do carro e vendo por qual é o melhor caminho

"Mas é perigoso essa hora no centro, seu Bruno, vai pelo menos de metro, que está mais perto"

Faz anos que eu não ando de metrô em SP, será que ainda sei? Na teoria é a mesma coisa no mundo inteiro, né?

Dou um tchauzinho para Seu Osvaldo, desço uma rua e entro no metrô em direção a balada.

É tudo meio igual e meio diferente, algumas pessoas olharam para mim e apontaram, mas ninguém veio efetivamente falar comigo. Gosto disso, não sou ninguém.

Lover - BruninhoOnde histórias criam vida. Descubra agora