Capítulo 1

24 8 12
                                    

   "Eu não sei bem quando eu cheguei aqui, isso faz muito tempo, viver com pessoas iguais a você ou até pior que você  te deixa um pouco fora do ar, sem noção de tempo, não é fácil dormir e acordar dentro de um hospital psiquiátrico, não é fácil por que aqui você não tem pra onde fugir, aqui você encara os seus problemas de frente diante dos seus olhos, no começo assusta, você se pergunta: "O quão longe eu fui?", " Por que eu fiz isso?", mas na verdade, bem lá no fundo você sabe o que te levou a ir tão longe.
  Aqui dentro tudo é muito estranho, uma hora é tudo quieto, um silêncio total, e no outro é aquela gritaria sem fim, com o tempo você se acostuma mas é claro que você não é obrigado a gostar disso tudo. Aqui fede a produto de limpeza o tempo todo, o cheiro deixa até a pessoa mais sã louca. Não tem um pingo de cor, tudo branco, não é atoa que Cecelia pergunta pra todo mundo se ela tá morta, aqui parece um purgatório, é como se todo mundo estivesse esperando seu dia pra morrer. Eu já ia me esquecendo, meu nome é Ísis Cooper, e bem vindo querido diário a porra do meu mundo."

                              °°°°°°°°°

- Como se sente hoje Ísis?.

- O mesmo de sempre Henry, tudo um tédio sem fim.

- Eu sei que sim Ísis, você me fala isso todos os dias. Mas quero saber como está sua saúde mental?.

- Bom... me sinto sozinha, abandonada, parece até que me largaram aqui pra morrer ou coisa do tipo - Falo séria olhando pra ele.

- Entendo que se sinta sozinha, mas por que abandonada?.

- Meu pai parou de vim, minha mãe sempre está com pressa, até quando ligo ela tem que falar rápido, parece até que todo mundo seguiu suas vidas e me esqueceram aqui.

- Talvez você tenha uma impressão diferente das coisas, sempre há uma razão pra tudo, sei que eles têm uma razão, mas você tem que falar como se sente pra eles, eles não sabem dos seus sentimentos, tenho certeza que vai mudar quando você se abrir Ísis. - Ele fala gesticulando com as mãos.

- Pode ser que minha mãe entenda, compreenda, mas eu não espero muito do meu pai, ele sempre foi assim, ausente em tudo, então não tenho muitas esperanças nele, ele nem deve sentir minha falta.

- Não custa tentar Ísis, sei que ele deve sentir saudade de você, aliás você já está aqui a 3 anos, qual pai não sentiria falta da filha?.

- 3 anos? Eu tô aqui a 3 anos?. - Falo surpresa.

- Está sim, você não lembrava?

- Eu não fazia ideia que era tanto tempo assim... - Falo confusa.

   O alarme toca, sinal que a sessão acabou.

- Bom Ísis, nosso tempo acabou, mas na quinta eu quero conversar melhor com você sobre sua perda de noção de tempo, ok?.

- Claro, Doutor Henry, esperarei ansiosa. - Falo sarcástica.

Já é final de tarde, então vou pro meu quarto e fico desenhando qualquer coisa que me vem na cabeça. Ouço a voz de pessoas falando e como sempre fui curiosa, fui dar uma olhada. Sempre deixo a minha porta fechada, não gosto quando as pessoas passam e olham pra dentro do meu quarto. Abro um pouco a porta e coloco a cabeça pra fora, vejo a enfermeira Eveline falar com uma garota na porta do quarto ao lado do meu, a menina está de costas pra mim então não faço ideia de como é seu rosto, mas ela está com as mesmas roupas que eu estou, e isso me chama muita atenção, fico mais curiosa pra saber, quem é essa menina?, por que ela está aqui?, ela é meio estranha como os outros?, ela é como eu ?.
  Devo explicar a vocês coisas básicas desse lugar que me recuso a chamar de casa, mas não vejo opção já que estou aqui a 3 anos, ainda não acredito que estou aqui a tanto tempo, mas isso é uma conversa pra depois. Nesse hospital psiquiátrico chamado Sandler, temos a ala vermelha para os pacientes com psicose ou mais conhecido como esquizofrenia, são esses que muitos de nós chamamos de birutas ( inclusive são os que mais tem por aqui ), eu sei que é um pouco cruel, mas é bem difícil não chamar uma pessoa dessa de doida quando você está comendo e um deles te ataca com um garfo de plástico, sim um GARFO DE PLÁSTICO, então não me julguem, nesse dia eu surtei e quase morri. Temos também a ala laranja para pacientes com depressão maior, ala verde para pacientes com transtornos alimentares, ala azul para pacientes com a síndrome do pânico e crise de ansiedade extrema, e por última a minha ala, ala amarela, para pacientes que tentaram cometer suicídio, sim eu sei, vocês devem estar pensando: " Como essa garota animada e sarcástica tentou suicídio?, por que ela tentou fazer isso ? ", e lá vai a minha resposta pra essas perguntas, nem sempre um sorriso no rosto vai transparecer alegria ou felicidade, pode ser um pedido de socorro e você nem sabe.

Quem Era Jordan Stevens? ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora