Capitulo 3

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  "Nós últimos dias venho observando a novata, da qual não sei o nome, ela parece ser bem alegre, mas não conversa muito com as pessoas, ela gosta mais de ficar em seu quarto lendo, sei disso pois ela sempre deixa a porta aberta. Sempre que ela me vê, ela abre um sorriso radiante, eu não entendo muito bem o por que ela faz isso, sinto que ela quer se aproximar de mim, mas acho que ela espera que eu faça isso, mas nunca fui boa em fazer amigos, e tenho medo de confiar em alguém de novo, isso me levou a ruína."
    Assim que fecho o diário, Elizabeth abre devagar a porta do meu quarto, nem preciso levantar o rosto pra ver quem é, pois só ela abre a porta com tanto cuidado assim.

- Boa tarde girassol. - Diz ela com um sorriso encantador.

- Olá doutora Eliza. - Falo também sorrindo.

- A terapia já vai começar, te encontro na sala?. - Ela fala com um olhar de esperança, faz muito tempo que não vou as terapias em grupo.

- Acho que sim doutora, ainda sou bem vinda?.

- Mas é claro Ísis, todas vocês são. Te vejo daqui a 5 minutos. - Ela dá uma piscadinha e sai em seguida.

     Me levanto, coloco meu casaco de tecido fino, calço minhas pantufas, e lá vamos nós terapia!
    A sala não está cheia (como de costume), as cadeiras ficam em um formato de círculo Então me sento em uma cadeira que fica bem de frente para Eliza. Algumas meninas já estão se acomodando, outras ficam na porta conversando, e eu como não perco tempo, vou logo ver o que tem de bom na mesa dos lanches, geralmente só comemos no final da terapia, mas eles não podem proibir a gente de comer, aliás muitas meninas vem pra terapia justamente para desabafar sobre o vício de sempre comer algo e logo em seguida colocar pra fora a força, então eles não proíbem, pois são nessas terapias que algumas meninas sentem vontade de comer, coisa que elas evitam. Eu entendo elas, é bem difícil desabafar sobre algo que te dói, é como se aquilo te cortasse por dentro, parece que seu coração sangra um pouco só por você falar.
   Vejo que tem bastante salgado, mas vou logo em uns donuts lindos, até que percebo que tenho companhia.

- Olá menina dos cortes sinistros. - fala a garota que fica ao lado do meu quarto.

- Olá garota do quarto ao lado. - Falo dando um sorriso pra ela.

- Garota do quarto ao lado? Gostei, já me chamaram de muita coisa, mas disso é a primeira vez... gostei de você. - fala ela pegando um salgado e colocando na boca.

- Também gostei de você, me chamo Ísis. -Estendo a minha mão direita pra ela.

- Meu nome é Jordan. - Ela aperta a minha mão.

- Como o jogador de basquete?. - Não sei por que, mas isso me fez rir como uma louca.

- Aaa não ri, não tenho culpa se minha mãe era louca pelo Michael Jordan. - Ela fala rindo também.

     Ficamos rindo uma da cara da outra, não me lembro a última vez que rir tanto na minha vida, só paramos de rir quando Eliza pede para que todas se sentem, pois já ia começar a terapia.
   Eliza conversa com todas nós, faz exercícios de meditação, nos lembra como agir numa crise de ansiedade, e nos fala como é importante manter o diálogo, que é nossa tarefa sempre conversar com alguém. Até que ela entrega folhas para cada uma de nós, e pede pra escrevemos sobre uma lembrança que foi marcante na nossa vida. Fico relutante, mas quando percebo já estava escrevendo, aliás sempre tive muita facilidade pra escrever. Todas terminam e então Eliza fala:

- Bom meninas, a segunda parte do nosso exercício, é ler o que vocês escreveram, não é obrigatório, mas caso algumas de vocês queira ler, fique a vontade.

    Três meninas levantam suas mãos para ler, as lembranças delas são alegres, sinto um pouco de inveja disso, queria ter também uma lembrança alegre, mas antes que eu perceba, coloco isso pra fora:

- Quem me dera ter algo tão alegre pra compartilhar. - Falo bem baixo, mas não baixo o suficiente para Eliza não ouvir.

- O que disse Ísis?.

     Todas as meninas olham pra mim, inclusive Jordan, que me olha com curiosidade.

- Eu disse que queria ter uma lembrança boa, de algo que foi marcante e bom, mas não tenho.

- Então por que não lê sobre a sua lembrança? Pode encorajar outra menina que também não tenha uma lembrança boa a se abrir.

- Não sei se é uma boa ideia. - Falo sentindo a minha garganta arder.

- Tente Ísis.

      Minhas mãos soam um pouco, seguro o papel firme nas mãos, fechos os olhos lembrando do exercício de Eliza de respiração. Fechar os olhos, respirar devagar, concentrar na respiração, e respirar devagar. Até que aos poucos, as palavras vão saindo da minha boca.

- Era uma tarde, de alguma semana que eu não sei, não faço questão de lembrar, eu e minha mãe estávamos esperando a psiquiatra nos chamar. Eu nunca tinha estado num lugar daquele antes, eu nem sabia direito o que um psiquiatra fazia.  Entramos na sala, sentamos e a doutora, médica, sei lá, me fez muitas perguntas, das quais não lembro também, o tempo apagou isso da minha cabeça. Ela só anotava as coisas enquanto eu respondia, e nisso eu me sentia exposta, me sentia também com medo do que nisso ia terminar, até que ouvi, " você tem depressão e ansiedade", ali o meu mundo caiu, a minha ficha caiu, eu só conseguia me perguntar, " Como eu cheguei nesse ponto?", essa pergunta não saia da minha cabeça, tudo veio na minha cabeça, as crises de ansiedade, os ataques de pânico na escola, os cortes, meus deus, quantos cortes eu tinha no braço?, mas a principal pergunta que surgia na minha mente era: " por que eu tenho que sofrer tanto?".
     Assim que término de ler, percebo que a sala está em um silêncio absoluto, levanto minha cabeça e todas estão olhando pra mim, porém vejo que Jordan sorri pra mim, isso me aquece um pouco, mas não impede que eu me sinta exposta novamente, não impede que minhas mãos fiquem trêmulas, antes que eu faça algo, eu falo:

- Desculpa doutora Elizabeth, eu não consigo. - Largo a folha na cadeira e saio andando rápido da sala, ouvindo Eliza chamar o meu nome.

     Vou correndo pro meu quarto, me jogo na minha cama, e começo a chorar, todas essas coisas aparecem na minha mente, e isso dói, lembrar de tudo isso dói demais, é como se me rasgasse por dentro. Até que escuto alguém dar leves batidas na porta.

- Seja lá quem for, vai embora. - Falo chorando.

- Só vim te fazer companhia. - olho em direção a porta e vejo Jordan, parada me olhando.

- Não sou uma boa pessoa pra se fazer companhia no momento. - Falo sentando na cama.

- Tudo bem, eu não sou uma boa pessoa em momento algum. - Ela entra, fecha a porta e senta do meu lado.

- Foi horrível né?, todo mundo deve achar que sou uma louca. - Falo envergonhada, enxugando o rosto.

- Bom, eu acho que não, mas se acharem mesmo  isso, que se foda essas pessoas, todas estão nesse buraco por um motivo diferente, mas mesmo assim somos iguais.

- Odeio tudo isso, tenho vontade de fugir daqui, quero sumir desse lugar de merda.

- Eu também quero isso, e olha que acabei de chegar. Mas não se preocupe menina dos cortes sinistros, sei que não sou grande coisa, mas estou aqui pra você, digamos que você tem uma amiga. - Ela fala sorrindo.

- Amiga? - Olho pra ela confusa.

- Claro, por que não?.

- Não sei por que alguém ia querer ter a minha amizade, eu sou um problema ambulante.

- Bom minha cara menina dos cortes sinistros, sinto em te informar, mas eu sou fã de problemas.

     Começo a rir, e ela também. Enxugo meu rosto por completo e ficamos conversando sobre várias coisas que costumávamos fazer lá fora, entre essas conversas surgiam várias risadas, risadas que me fazia até esquecer que estava em um hospital psiquiátrico. E foi assim o início de uma linda amizade.

Quem Era Jordan Stevens? ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora