30 | NÃO SEJA O MEU SEGREDO

445 51 130
                                    

30
     NÃO SEJA  O MEU SEGREDO 
ADAM

3 MESES ANTES
ELA ESTÁ FODENDO COM A MINHA CABEÇA
FINAL DO OUTONO EM BAYFIELD

O fim de tarde estava barulhento e aglomerado na praça central de Bayfield. Atrás da estrutura de madeira que serviria como palco, Elliot e eu esperamos pacientemente a nossa entrada extremamente desagradável. Aquilo era fodidamente chato. E apesar de querer muito ligar meu habitual foda-se e não estar ali, mas com a maioria dos isolados da cidade, no Flannigan's, não tinha escolha.

Sobre o banco improvisado, com o falatório infantil próximo das candidatas a novas Miss Sunshine, esfrego as mãos no meu rosto. Estava exausto. Estava irritado. Estava sem paciência. Estava onde não queria.

Mas esse era o preço a ser pago pelas minhas escolhas. Agora parecia tudo tão sem sentido.

Meus dedos coçam minha nuca que pinica.

— Você está com batom no pescoço.

O homem ao meu lado solta. O encaro diante daquele absurdo. Nego com a cabeça. Se tivesse batom no meu pescoço eu saberia. Cacete. Eu tinha que saber.

— O que? — o encaro sem acreditar.

Os lábios rosados do meu amigo alargam-se. Seu indicador sem permissão corre até a gola da camiseta e a puxa para trás, analisando minha pele. Seu corpo reclina-se para frente, dando mais atenção do que gostaria a algo que certamente não estava ali.

Ele ri.

Eu me remexo no banco desconfortável.

Cacete.

— Na verdade — começa cantarolando — Você está com batom por todas as costas.

— O que? — solto ficando em pé, inutilmente — Que merda — rosno irritado, incapaz de confirmar sua afirmação — Que bosta. É sério?

Elliot balança a cabeça em confirmação.

Ranjo os dentes, lembrando dos lábios mentirosos e dissimulados tocando toda a minha pele e respondendo que não tinha feito nada. Aquela pirralha era fodidamente maluca.

Por que diabos encher minhas costas de beijos?

E para piorar foi o Elliot a perceber isso, o que deixava uma sensação estranha, finalmente caindo a ficha que estava transando com a irmã dele. Que estava mentindo para ele. E aquela maluca só faltava escrever na minha testa que estávamos fazendo algo.

— A noite foi quente — seu cenho balança cheio de insinuação — E você nem lembra.

— Eu [...] — arfo incapaz de completar a mentira.

Poderia dizer a verdade e levar um soco ali em frente a uma plateia infantil, ou poderia me calar como um covarde. Merda. Não era covardia, mas como chegar para um amigo e dizer: Cara estou comendo a sua irmã, mas é só isso, não se preocupe, não vamos ter nada sério.

Elliot iria quebrar a minha cara. Eu quebraria a minha cara.

— A Teresa estava inspirada — comenta.

Engulo a verdade. A verdade de que aquilo não era obra da Teresa, mas da maluca da Tate Evans, sua irmã. Aquela garota iria me deixar maluco antes que pudesse prever.

Bufo.

— Tranquilo cara, nem dá para ver — dá de ombros.

Bufo.

HEART [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora