II

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  Vivi portanto só, sem ninguém com quem pudesse amar, até o dia, cerca de seis anos atrás, em que viajava para Nova York de avião. Alguma coisa se quebrava no motor. E não havia ninguém para consertar, eu sentia em pânico enquanto a aeromoça pedia com calma para que colocássemos a máscara. Era, para mim, questão de vida ou morte.
Só dava para oito dias a água que eu tinha.

  Na primeira noite edormeci pois sobre a areia, a milhas e milhas de qualquer terra habitada. Estava mais isolado que o náufrago numa tábua, perdido no meio do mar. Imaginem então a minha surpresa. Quando, ao despertar do dia, uma vozinha estranha me acordou. Dizia:

- Por favor ... desenha- me um porquinho da Índia!

- Hem?!

- Desenha-me um porquinho do Índia...

Pus-me de pé, como atingido por um raio, esfregue os olhos. Olhei bem. E vi uma pessoa inteiramente extraordinário, o garoto de cabelos loiro, só que, mais velho. Eis o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele. Meu desenho é, seguramente, muito menos sedutor que o modelo. Não tenho culpa. Fui desencorajado, aos doze anos,  pela minha família, e só sabia desenhar ele quando era um garoto.

   Olhava pois essa aparição com olhos redondos de espanto. Não esqueçam que eu me achava a mil milhas de qualquer terra habitada. Ora, o meu homenzinho não me parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo. Não tinha absolutamente a aparência de uma pessoa perdida no deserto, a mil milhas da região habitada, quando pude enfim articular palavra, perguntei-lhe:

- Mas ... que fazer aqui?

  E ele repetiu- me então, brandamente, como coisa muito séria:

  - Por favor ... densenha-me um porquinho da Índia...
  

   Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse a mil milhas de todos os lugares habitados e em perigo de morte, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta. Mas lembrei-me, então, que eu havia estudado de preferência artes plásticas e disse ao garoto (com um pouco de mau humor)  que eu não sabia desenhar um porquinho da Índia.

Respondeu- me:

  - Não tem importância. Desenha- me um porquinho da Índia.

  Como jamais houvesse desenhado um homen, refiz para ele um dos dois únicos desenhos que sabia. O desenho do garoto pequeno. E fiquei estupefato de ouvir o homen replicar:

  - Não! Não! Eu não quero uma cópia minha, preciso é dum porquinho da Índia. Desenha-me um porquinho da Índia.

  Então eu desenhei.

  - Não! Esse já está muito doente.

   Desenhei outro.
   Meu homen sorriu com indulgência:

- Bem vês que isto não é um porquinho da Índia. É um hamster ... olha o tamanho...

  Fiz mais uma vês o desenho.
  Mas ele foi recusado  como os precedentes:

- Este aí é muito velho. Quero um porquinho que viva muito.

    Estão, perdendo a paciência, como tinha pressa, como tinha pressa de ir embora, rabisquei o desenho ao lado.

      E arrisquei:

- Está é a caixa. O porquinho da Índia está dentro.

  Mas fiquei surpreso de ver iluminar- se a face do meu pequeno homenzinho:

- Era assim mesmo que eu queria! Será preciso muito capim pro meu porquinho da Índia?

- Por quê?

- Porque é muito pequeno aonde eu moro ...

- Qualquer coisa chega. Eu te dei um porquinho da Índia, de nada!

   Inclinou a cabeça sobre o desenho:

- Não é tão pequeno assim... Olha! Adormeceu...
 
  E foi desse modo que eu travei conhecimento, um dia, com o pequeno jimin.

   

        Eis o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele

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        Eis o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele.
  

 

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⏰ Última atualização: May 29, 2022 ⏰

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O Pequeno Jimin [jk/jm]Onde histórias criam vida. Descubra agora