único.

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Hueningkai estava tenso. A aula de espanhol estava prestes a acabar, e o garoto mal via a hora de entregar a cartinha que fez para seu professor.

Mas não era uma cartinha de amor, longe disso! Na cartinha, estava escrito algo que era de grande importância para si.

Hueningkai é transboy, se descobriu há menos de dois meses, e foi super bem aceito por seus pais e suas irmãs. Desde o momento de sua descoberta, Kai explicou para cada um de seus professores o que é. Mas, ainda não havia conseguido se revelar para seu professor de língua espanhola. Ele é seu professor predileto, ama suas aulas pois ele é bem humorado e muito carismático. Mas tinha receio de que não seria aceito, ou respeitado pelo dito cujo. E se ele fosse transfóbico?

Entretanto, o jovem na noite anterior escreveu uma carta à mão para o professor, com o pedido de que ele o chame por seu nome masculino e pelos pronomes ele/dele.

Agora, todos os alunos estavam guardando seus materiais para irem para suas casas. Kai guardou suas coisas, colocou sua mochila nas costas e pegou a cartinha, a olhando e a dando um beijinho de boa sorte. Caminhou até a mesa do professor, aproveitando que todos os demais alunos já haviam saído desgovernadamente da sala de aula e o chamou a atenção.

— P-professor, tem um minuto? — O garotinho de mullet hair perguntou timidamente. Nesse exato momento sentia como se diversas borboletas estivessem em sua barriga. Era uma sensação de ansiedade e receio, tudo ao mesmo tempo.

— Claro, Kaliyah. — Oh, ele havia chamado Hueningkai pelo seu nome morto... isso doía. — Pode falar.

— Bem, eu gostaria de dizer uma coisa para o senhor... mas eu não tenho psicológico estabelecido para isso. Então escrevi.. essa cartinha aqui. — Mostrou o papel com um envelope, todo decorado e com detalhes coloridos.

— Tudo bem, mas... se for aquela espécie de carta, digamos que... de confissões amorosas, recomendo você jogar fora. Você é apenas minha aluna e-

— Não, fique tranquilo. Não é nada disso! — Colocou a carta na mesa do mais velho — Apenas... leia ela cautelosamente, e na sua próxima aula... me... dê uma resposta. — Ditou as palavras, encarando fixamente o chão, com os olhos fechados e sua voz trêmula.

— Certo, irei lê-la imediatamente...

— Até amanhã, ou até a sua próxima aula... — Saiu, sem desenvolver nenhum contato visual com o professor, fechando a porta da sala deixando-o confuso e curioso sobre a carta.

O homem pegou o papel, abriu o envelope, e sorriu ladino ao ver ele todo decorado com adesivos do personagem Molang. No qual é o predileto de sua aluna.

Finalmente, pegou a carta e a abriu, começando a lê-la.

Olá professor Eluan! Como o senhor está? Espero que esteja bem. Suponho que o senhor deve saber quem é o autor desta carta, não é?... Bom, eu gostaria de falar com o senhor sobre uma descoberta na minha vida. Mas não tenho coragem de falar com o senhor frente a frente. Bem, eu sempre tive uma grande paixão por roupas masculinas e por outras coisas desse gênero. Desde pequeno, mais ou menos desde os nove anos. dois meses atrás, tirei todas as minhas conclusões... me descobri transexual. Meus pais e minhas irmãs sabem disso, e por sorte fui muito apoiado por eles. Recebi tanto apoio e carinho, que no mesmo dia passei pela minha transição de gênero. Cortei meu cabelo, doei minhas roupas femininas e comprei novas masculinas, e outras coisas. Uma semana depois, fiz uma cirurgia de diminuição de seios, e estou usando binders para ocultar um pouco dos meus. Agora, me chamo Hueningkai. Kaliyah é o meu nome morto, a Kaliyah morreu. Estou lhe pedindo em meio desta carta, para que o senhor compreenda-me e que encarecidamente, me chame pelos pronomes masculinos. Todos da sala sabem que sou trans, e todos os professores também. Menos o senhor, pelo menos alguns minutos antes de vós ler esta carta. Então, por favor, em qualquer situação, me chame pelo meu atual nome e pelos meus pronomes corretos. O senhor não tem culpa, pois não sabia, mas agora que sabe, você não é obrigado á aceitar, mas pelo menos respeite-me e respeite minha identidade de gênero.
Eu sou assim, e não vou mudar... Me descobrir transexual me fez dar vida á um eu que eu nem sequer sabia da existência. Meus gostos mudaram, e para a melhor. Ser quem eu sou, é tão bom. É um misto de sensações, é surreal e inexplicável... Eu me sinto bem, sendo quem eu realmente sou.
Obrigado pela compreensão professor, e obrigado por ter desperdiçado minutos de sua vida lendo essa carta de um garoto transexual tímido com medo de ser julgado pela sociedade. ❞

— Hueningkai

Deixou uma lágrima teimosa escorrer por seu rosto. Aquelas palavras haviam sido tão tocantes para si... Eluan estava feliz por sua.. ops, seu aluno.

— Meu pequeno está crescendo... — Disse, sorrindo para o papel e fazendo com que uma lágrima caísse na carta. Ele é professor de Hueningkai desde seus quatorze anos, e agora o rapaz com seus dezenove anos, e se descobrindo nesse mundo o deixa muito feliz.

Hueningkai poderá contar com o apoio de seu amado professor de espanhol. Pois ele irá sempre apoiá-lo, independente de sua decisão, se ela fazer com que o estrangeiro se sinta bem, ele poderá contar com total apoio de Eluan.

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