Lagarto

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Desço as escadas do prédio um pouco mais agitado do que de costume. Tenho muitos documentos para arrumar e relatórios de casos que foram jogados nas minhas costas para fazer. Mesmo atuando no campo com mais frequência, as papeladas ainda são o meu principal problema. Olho para a hora no meu celular que retiro do bolso da minha calça. Disse ao Kunikida que voltaria em menos de 15 minutos com as bebidas que ele e o resto do pessoal pediram. Pelo menos a Naomi não veio comigo dessa vez, poder andar um pouco sozinho é um sentimento maravilhoso. Por mais que ela seja muito importante para mim, a companhia constante da minha irmã pode ser sufocante às vezes.

Atravesso a porta e a luz daquele dia consome toda a minha visão. O céu está completamente limpo, poucas nuvens podem ser vistas e o azul é tão intenso que chega a dor nos olhos. A rua está agitada, pessoas conversam, riem e parecem seguir as suas vidas sem nenhuma preocupação. O dia realmente parece ser um como outro qualquer e eu espero que sem problemas para Agência de Detetives Armados. Olho rapidamente ao redor como de costume para poder seguir meu caminho, mas antes que possa fazer isso reparo em uma figura familiar encostada em um pilar no canto da construção onde trabalho.

Tá de brincadeira né, o que esse cara da Máfia do Porto está fazendo aqui em frente a Agência? Eles não cansam de serem chutados pela gente toda vez que entram no prédio?

Minha expressão fica um pouco mais séria, a ansiedade e a insegurança que antes eu sentia com mais intensidade começam a se dispersar calmamente. Não é o momento de arrumar problemas. Todos lá em cima estão ocupados demais resolvendo coisas mais importantes e urgentes, se algo tiver que acontecer entre a Máfia e Agência eu tentarei esclarecer agora, sem envolver os outros desnecessariamente. Desço os poucos degraus que levam até a calçada e me aproximo daquele rapaz.

Ele parece extremamente casual nesse lugar, como se apenas observasse algo e não notasse a minha presença. Não posso me aproximar demais, não sei o que ele tem planejado. Gostaria de pensar que estou confundindo as pessoas, mas não é o caso. Infelizmente, eu reconheceria aquele cabelo avermelhado em qualquer lugar. Além disso, não acho que existam muitas pessoas em Yokohama que usam uma jaqueta cropped verde com pelos na gola, então não tem erro. Este é um daqueles caras que me prenderam no esconderijo na Máfia, naquela situação que envolveu toda a confusão da infecção do Presidente e do Chefe da Máfia, e que já invadiram o prédio da Agência diversas vezes. Realmente, qual é a dessa vez? 

- Ei, oh ruivinho da Máfia? O que você tá fazendo aqui novamente? Dá logo o fora daqui!- grito pegando-o de surpresa o fazendo virar em minha direção e se afastar.

- Mas que porra ein! Logo você era quem tinha que aparecer?- Ele me olha com uma expressão animada e decidida, como se aquilo fosse de fato algo bom- Então terei que resolver isso agora mesmo.

- Neve Leve- falo sem hesitar

Antes que ele pudesse tomar impulso e vir para cima de mim, ativo a minha habilidade. Nesse momento, a realidade começa a distorcer, dando lugar a um cenário esverdeado que se mistura ao meu corpo e faz com que eu desapareça aos olhos dele, como a camuflagem de um camaleão. Ele olha em todas as direções enquanto a neve cai lentamente envolvendo o espaço ao seu redor. Ele tenta me procurar mas é em vão, eu não irei aparecer até que seja necessário. Sua expressão agora está mais intensa, suas linhas faciais se tornaram mais marcadas e o sorriso provocativo deu lugar a dentes cerrados. Rapidamente mudando sua postura ele pega a arma, que estava escondida, em uma agilidade inexplicável. Tenho que tirá-lo logo dali antes que comece a atirar de maneira imprudente e acerte as pessoas que não tem nada haver com essa guerra interna.

- EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AQUI EM ALGUM LUGAR, DETETIVEZINHO DE MERDA. É MELHOR VOCÊ APARECER ANTES QUE AS COISAS PIOREM.

Então como se nunca estivesse estado ali eu apareço atrás do membro da Máfia e o seguro pela parte de trás da sua camisa branca e pelo seu antebraço o puxando, antes que possa ter qualquer reflexo, para um beco próximo ao prédio da Agência de forma que pessoas inocentes não sejam envolvidas no que estiver prestes a acontecer. Usando o meu próprio peso como impulso eu lanço o ruivo no chão fazendo deslizar um pouco até parar, me encarando com uma expressão de confusão com raiva.   

15 MINUTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora