I was made for lovin' you

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Os primeiros raios de sol entravam pela janela e aqueciam a pele nua das minhas costas. O farfalhar das folhas das árvores do nosso quintal, com a brisa leve de uma manhã de verão e o som de vozes masculinas abafadas, vindas do andar de baixo me fizeram despertar. Tateei meu corpo ainda com os olhos fechados e me lembrei da noite passada. O cheiro dele estava impregnado nos lençóis, a sensação do toque em minha pele ainda era tangível. Estiquei meu corpo com certa dificuldade e abri os olhos com cuidado para evitar a claridade vinda de fora. Sentei-me na cama apoiada nos cotovelos e olhei ao redor, na falsa esperança de vê-lo adormecido ao meu lado, mas em seu lugar estava Fritz, enrolado em seu próprio corpo, os pelos negros contrastando com o bege claro da coberta, era uma imagem corriqueira, já que ele sempre ocupava o lugar de seu dono todas as manhãs quando ele saía.
Olhei nossas roupas no chão e sorri para mim mesma, recordando o momento exato que elas foram parar ali. Levantei me arrastando, meu corpo nu se arrepiou com a brisa gelada que balançava levemente as cortinas. Fui para o banheiro e encarei meu reflexo bagunçado no espelho: descabelada, com cara de cansada porém, feliz. Tomei um banho morno, fiz minha higiene matinal e voltei para o quarto para procurar algo para vestir. Fui até a cômoda e escolhi um short jeans e uma camiseta dele, do "Halloween". Prendi meus cabelos em um coque alto e despojado e desci para onde as vozes, antes abafadas e agora completamente audíveis, vinham.

Um par de olhos, emoldurados por um óculos de grau, me encarou enquanto eu descia as escadas.
– Good morning, sunshine! - disse alegremente. – Você tá péssima...
– Também te amo, Daniel! - dei um beijo em sua bochecha e segui para a cozinha.

O cheiro do café fez meu estômago resmungar, era tudo que eu precisava para começar o dia.
Como de costume, Elídio estava sentado no chão, apoiado no batente da porta que dava para a varanda dos fundos, enquanto Anderson estava no fogão preparando alguma coisa.

– Bom dia, acordou Bibi? - Elídio indagou ao me ver.
– Só o corpo, a alma tá fazendo download ainda. - retruquei sem muita emoção enquanto beijava sua testa. – Oi amor. - cumprimentei Anderson.
– Oi, bom dia! Dormiu bem? - desligou o fogo e veio em minha direção. Eu, automaticamente, afundei meu rosto em seu peito e o abracei.
– Bem eu dormi, só não o suficiente, esses dois bocudos não calam a boca e chegam na casa dos outros de madrugada! - respondi emburrada e isso o fez sorrir.
– Ei! Que culpa eu tenho se vocês são um casal que transa? Eu durmo cedo. - Daniel respondeu da sala. – Depois de 20 anos casado, essa é a última coisa que eu penso.
– Valeu, idoso! - Andy provocou. – Vem amor, toma um café, acabei de passar, vai te dar mais ânimo.

Ele apanhou uma caneca no armário, serviu o café trouxe pra mim, mas antes de me entregar, me deu um beijo e sussurrou um "bom dia, princesa" quase inaudível. Sorri em resposta. Sentei à mesa e tomei um gole do café de olhos fechados, saboreando o gosto amargo e quente. Os meninos continuaram o assunto que estavam discutindo antes de eu descer e pelo que eu entendi, a conversa era sobre a viagem para Portugal com o espetáculo "Improvável" . Dani tinha resolvido questões com a produção do evento de lá, Elídio ficou de confirmar quem seriam os convidados e o Andy estava resolvendo as coisas do Clube Barbixas, para deixar tudo em ordem antes de se ausentarem. Eu ouvia, mas não prestava muita atenção, só ficava olhando admirada para eles e pensando como aqueles três adolescentes cabeludos do Colégio Jardim São Paulo se tornaram a companhia de comédia mais relevante e bem sucedida do país atualmente? E eu, estava lá desde o início e agora sou casada com um deles. Olho para os três e vejo como me orgulho da nossa amizade, do companheirismo deles, de como eles nunca se separaram e nem deixaram de ser amigos em nenhum momento.
É engraçado porque eu jamais me imaginaria casada com o Anderson. Somos amigos de infância. Ele, a Karina, esposa do Dani e eu, nos conhecemos desde muito pequenos. Eu conheci as ex-namoradas dele e ele, os meus ex; eu e a Ka sempre íamos aos shows das bandas que ele e o Dani participavam; quando os Barbixas começaram, nós ajudávamos na bilheteria, na divulgação, a contatar os convidados; enfim, eu e o Andy sempre fomos grandes amigos mas, existiu um momento na nossa relação de amizade que eu ouvi o "badalar dos sinos" e percebi que ele era o homem da minha vida.

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