Completos (final)

83 7 184
                                    


2 anos depois...

Ontem

O suor frio umedecia minha testa. Sentada no chão ao lado da privada, sem forças para levantar, a única coisa que eu conseguia fazer era respirar fundo e tentar me recuperar do repentino mal-estar que me levou àquela situação. O gosto ruim na boca, a dor no estômago, e o corpo trêmulo... eu tentava buscar em minha mente o que eu tinha comido na noite anterior para ter acordado daquele jeito. Não havia comido nada além de uma salada com frango, não andava com muito apetite esses últimos dias e sempre preferia comer algo leve antes de ir deitar. Não tinha sido isso que me fez mal.
Eu estava sozinha em casa. Era um domingo e Anderson tinha saído para correr e eu decidi dormir até mais tarde, o que não durou muito, já que logo depois estava debruçada na privada colocando todo conteúdo do meu estômago para fora.
Resolvi tentar me levantar, e depois de certo esforço, cá estava eu encarando meu reflexo deplorável no espelho. Os olhos vermelhos devido ao recente esforço, o rosto pálido e suado, os cabelos desgrenhados, sim, era o reflexo da derrota. Joguei água no rosto na tentativa de afastar aquela sensação ruim, coloquei pasta na escova e comecei a escovar os dentes, enquanto o fazia, olhei ao redor da bancada do banheiro e avistei minha necessaire de cuidados íntimos e me dei conta de algo: eu estava atrasada e pelos meus cálculos, há uns dez dias.
Esse mês foi tão corrido que não me dei conta. Automaticamente comecei a ligar os pontos. Seios doloridos, ando bastante estressada e chorona, o enjôo matinal, aquele perfume do Andy que pedi para ele não usar porque começou a me dar dor de cabeça e eu sempre gostei...
Será? Talvez seja coisa da minha cabeça, ou será que não? Anderson e eu nos cuidamos, eu tomo pílula há séculos, não é possível! Mas e se for? Só tem uma forma de descobrir.
Fui até nosso quarto e revirei minha gaveta de calcinhas. Eu havia comprado um teste, quando desconfiei há alguns meses, porém não usei porque assim que cheguei da farmácia naquela ocasião, minha regra desceu, então não foi necessário.
Mas desta vez, ao olhar para aquela embalagem, meu coração acelerou e minhas mãos tremeram, mas não tinha jeito, eu tinha que ter certeza.
Voltei ao banheiro, respirei fundo e fiz o bendito teste. Agora precisava aguardar cinco minutos para sair o resultado. Com certeza esses foram os cinco minutos mais longos e mais angustiantes da minha vida. Usei esse tempo para pensar, Anderson e eu nunca conversamos sobre filhos. Ele é um ótimo tio, o filho da Luana e as filhas do Alexandre amam o Andy, e ele adora passar tempo com os sobrinhos, mas não é a mesma coisa. Ser tio é muito diferente de ser pai. A família Bizzocchi é uma família grande, muito festeira e unida, acredito que tia Ceci e tio Billy ficariam encantados em ser avós mais uma vez, agora do filho do meio, mas será que é isso que o Andy quer? E eu? Será que estou pronta para ser mãe? Nunca foi algo que eu passasse muito tempo pensando, mas acredito que o desejo de ter um filho sempre esteve aqui. Olhei para o cronômetro do celular e ainda faltava um minuto. Eu estava tão nervosa que andava de um lado para o outro, entrando e saindo do banheiro. As unhas das mãos já não existiam mais, e meu coração parecia que pularia para fora do meu peito. Me vi em todas as situações possíveis naqueles segundos finais, pensando em como seria se realmente fosse verdade. O alarme do celular tocou e me apressei em desarma-lo. Olhei o teste em cima da pia, e antes de ler o resultado respirei fundo, fechei os olhos e mentalizei um "seja o que Deus quiser."

Grávida. Era o que dizia a tela do pequeno aparelho. Levei minha mão à boca sem acreditar no que meus olhos estavam vendo. Um misto de emoções me invadiu e eu já não controlava mais as lágrimas. Era real, eu estava mesmo grávida e pelo que dizia o teste, há mais de quatro semanas. Levei alguns minutos para me recompor do susto e uma alegria sem tamanho me invadiu. Me olhei no espelho erguendo a blusa e deixando minha barriga à mostra. Não havia nenhuma evidência de gestação, mas estava lá, tinha um pequeno ser humano crescendo dentro de mim.
O tilintar de chaves me despertou dos meus devaneios e logo em seguida a voz de Anderson veio do andar de baixo.

I was made for lovin' youOnde histórias criam vida. Descubra agora