Torta de Maçã - Kuroken

Capítulo único: Pode polvilhar um pouco de farinha em cima dessa forma?

Kuroo gostava de agradar, e principalmente, era fascinado em agradar Kenma. Cumprindo seu papel, ele se propôs a fazer uma torta de maçã — a favorita de Kenma — enquanto Kenma estudava para uma prova.

Ele separou os ingredientes. Já era familiarizado com a receita, mas ainda assim tinha seu caderno aberto com a receita anotada. Quando estava separando a quantidade necessária de farinha, sua visão periférica permitiu que ele visse Kenma escorado no batente da porta.

— O que está fazendo? — Kenma perguntou quando percebeu que havia sido notado ali.

— Algo que você gosta.

Kenma chegou mais perto. Viu as maçãs, já cortadas, e analisou toda a bancada. Kuroo pôde ver um pequeno sorriso se formar nos lábios de Kenma quando ele entendeu.

— Eu quero te ajudar — Kenma disse, arregaçando as mangas do seu moletom vermelho.

— Você precisa estudar para a sua prova.

— Eu já estudei — ele respondeu, sem olhar nos olhos de Kuroo.

— Não minta para mim.

— Estou em uma pausa.

— Ah é? E você tem certeza de que quer usar sua pausa para descanso para me ajudar na cozinha?

— É que este é um caso delicado — começou. — Como eu poderia comer uma torta de maçã sem ter supervisionado todo o processo antes? — explicou, com um tom de voz sarcástico.

— Entendo. Então é realmente compreensível que você esteja aqui — Kuroo respondeu e logo continuou. — Já que você está oferecendo ajuda, pode pegar um creme de leite?

Kenma andou brevemente até o armário e pegou a pequena lata. Abriu-a em cima da pia e entregou-a para Kuroo.

— Como estão os estudos? — Kuroo resolveu questionar.

— Normais.

— Sabe que se precisar da minha ajuda para isso eu vou estar à disposição, não é? — ele assegurou.

— Eu sei, Kuro. Você já faz muito por mim, não precisa se preocupar com isso.

— Você sabe o que eu penso sobre isso, não ligo de fazer isso por você. E de qualquer forma, você nunca foi muito bom em exatas.

— Eu nunca fui bom em nada. Nem em educação física. Que vergonha.

— Aquele professor era deplorável, você sabe disso — Tetsurou disse. — Pode polvilhar um pouco de farinha em cima dessa forma? — Kenma assentiu e pegou a forma.

Na época do colegial era comum que os dois estudassem juntos. Eles passavam madrugadas em claro, acompanhados de cafeína e chiclete de canela — porque estes nunca perdiam o gosto. Mas quando eles começaram a frequentar a universidade, Kenma colocou em sua cabeça que ele era um peso para Kuroo. Tetsurou estava claramente se esforçando para arrancar isso da cabeça dele, mas Kenma podia ser bem ignorante em certos momentos.

— Não quero te preocupar com isso, não é problema seu — ele disse. — Nunca pensei que precisaria de matemática para criar jogos.

— Acho que isso faz parte do senso comum. É tipo você achar que não vai precisar de códigos para programação — Kuroo falou e Kenma olhou feio para ele. — Ok, parei.

Kenma observou Tetsurou furar a massa, já colocada sobre a forma, com um garfo e logo em seguida colocá-la no forno.

— Vou fazer o recheio. Enquanto isso, pegue esse resto da massa, abra e corte em tiras — ele disse, enquanto colocava algo que aparentemente era açúcar em uma panela. Kenma seguiu suas ordens. — Isso — ele falou quando viu o trabalho impecável de Kenma.

Kenma se esforçava para deixar as tiras o mais parecidas uma da outra possível quando ouviu o timer do forno apitar. Viu que Kuroo estava ocupado, se concentrando em não deixar o açúcar queimar, e se preparou para tirar a massa do forno.

— Cuidado para não se queimar — Tetsurou alertou-o quando viu o que ele estava fazendo.

— Você está duvidando da minha capacidade?

— Sim. A coisa mais complexa que você sabe fazer na cozinha é ferver água — Kuroo colocou as maçãs na panela junto do açúcar. — Tirando o fato de você saber apertar os botões do microondas.

— Tenho você para o resto.

— Mas no momento eu estou ocupado com as maçãs, então se vire com as suas habilidades culinárias.

— Nem parece que estava preocupado para eu não me queimar há alguns segundos — Kenma pirraçou.

A massa conseguiu sair intacta do forno (Kenma também, se isso interessa).

— Kenken, preciso do conhaque. Está no armário de cima.

— Conhaque?

— Está na receita, e faz muita diferença.

Kenma atendeu ao pedido duvidoso e observou a fumaça saindo da panela quando Kuroo colocou o conhaque lá. Pôde ver Tetsurou colocar um pedaço de manteiga na mistura e voltar a mexer.

Um aroma certamente familiar já predominava a cozinha. Kenma lembrava de todas as vezes em que se acomodava em qualquer canto (às vezes no chão) e jogava em seu PSP enquanto conversava com Kuroo quando ele estava cozinhando aquela mesma sobremesa.

Tetsu desligou o fogo e foi checar a massa. Kenma sorrateiramente apanhou uma colher e pegou um pouco do recheio.

— Muito bom — ele disse. Kuroo olhou para ele e viu a colher em sua mão — Acho que queimei a minha língua — Kuroo deu uma risada.

— Pode trazer a panela com o recheio aqui? — ele perguntou. — Não toque diretamente no cabo, está quente. Pegue um guardanapo — Kenma obedeceu. — Isso. Senão você vai ficar com a mão sequelada — ele continuou. — Além da língua.

Kenma resolveu não se opor, porque ele simplesmente concordava.

Kuroo colocou o recheio na massa e posicionou as tiras que Kenma havia cortado momentos antes. Ele colocou a torta no forno e olhou para Kenma com uma cara ridiculamente orgulhosa.

Quando o timer do forno apitou, avisando que a torta estava pronta, Kenma se dirigiu à cozinha dando pulinhos discretos de contentamento e tirou a torta — tão desejada por ele — do forno.

Kuroo julgou a expressão que Kenma fez quando ele viu torta como algo ingenuamente adorável. Ele não resistiu. Puxou seu celular do bolso e tirou uma foto do rosto de Kenma. Kenma olhou para ele bem na hora.

— Kuro.

— O quê?

— Você tirou uma foto minha?

— Eu? Não. Nunca.

Kenma resolveu deixar para lá, se ele visse sua imagem em algum lugar, ele protestaria. Ele experimentou a torta. Estava como sempre, era um sabor familiar e muito, muito bom.

Mais tarde, Kenma pegou o celular de Kuroo para ver as horas e aquela foto de mais cedo estava como plano de fundo. Kenma não protestou.