Chove já há alguns dias, o céu cinza cobre meu mundo. Pode não ser solitário, apesar de saber que estou sozinho. Vago por aquilo que chamo de memórias, não consigo decifra-las. Seriam algo que já vivi, mas não me recordo? Porém se são lembranças, quer dizer que em algum momento as vivi. De certo pode ser que sejam fragmentos de um outro tempo. Tempo que hoje acinzentado me agonia; preso fico quando está nublado, não chove e não tem sol. Odeio, pois assim me enxergo, sempre nublado.
Nunca algo definido, apenas um turbilhão de átomos e moléculas que se chocam e se agrupam em algo que chamamos de organismo, entretanto elas me descrevem. Já que nesse grande cúmulos, que vai se espalhando e cobrindo nimbos até que em um momento as duas frações de estado travam batalhas de controle, e rajadas e chuvas começam outra vez.
O saber de que sou o agrupamento de várias coisas infinitamente microscópicas, ainda me frustra, por que me custa. Custa demais saber que dentro de minha imensa significância, não significo, apenas existo e me encontro em uma vida que não basta apenas viver, deve-se sentir e nem sentindo pareço estar, pois nublado vivo.
Entretanto o que seria o viver que conheço?Conhecer? Aprender? Gozar dos prazeres ou me privar de pudores que me exibem ao alheio? Alheio a tu que olhas. Tanto para ti, como para mim, "tu és o alheio!" Mas o que alheio fizeste para que o temas? Trancastes, batestes, furtou-te?
Complicado, não entendo porque em meu vasto curto território na imensidão do meu viver, tu entras aqui para abalar minha tranquilidade dentro de minha formosa e sofrida, corrida contra o nada para o meu tudo que me faz continuar e PARE! Só pare! Saia de meu campo de visão. Estás a mudar meu estado e mudanças não são bem-vindas se forem para que me alteres, não gosto quando trovejo e precipitação não é de meu feitio.
Mas tu trovejas também...porquê?
Porque se agrupa tanto a ponto de até mesmo trovejar como eu trovejo, não se misture a mim, o seus trovões não me favorecem, és quente e calor não me agrada! Me enlouquece, então saia.
Agora que saiu me faz saudar a forma que tinha antes de passar por aqui, agradeço que se dissipe, assim não me custa vê-te novamente. Mas mesmo que retornes, não serei eu que verás.