Capítulo Único

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O homenzinho ao meu lado

Todos os dias eu acordo desejando morrer, mas como sou muito covarde pra fazer alguma coisa de vez em quando eu pego um avião e secretamente eu desejo que ele caia.

Hoje esse meu desejo está se tornando realidade, logo hoje que eu não quero morrer, logo hoje que eu o conheci.

Meu nome é Osamu Dazai tenho 29 anos e trabalho como funcionário público, aqueles que me conhecem acham que eu tenho uma vida decente, por eu ter um bom emprego, estabilidade financeira e sou sociável, mas ninguém sabe a verdade.

A verdade é que eu não tenho nada nem ninguém, nunca conheci meus pais, tenho uma dívida imensa que parece aumentar a cada ano e não tenho ninguém que se importe comigo, qual a razão de viver em um mundo como esse?

Sempre fui sozinho, nunca tive ninguém, apenas pelo que me pareceu um breve momento eu tive um amigo, mas ele morreu em meus braços há três anos atrás, foi aí que eu perdi as esperanças e comecei a desejar mais ardentemente o abraço da morte.

Hoje em especial tudo parecia dar errado, acordei mais cedo que o normal com os vizinhos gritando e brigando, mas ainda assim cheguei atrasado no trabalho por causa de um acidente no metrô, inúmeros problemas surgiram no meu setor e meu chefe colocou a culpa de todos eles em mim, perdi o dinheiro que estava na minha carteira em uma confusão no metrô e esbarrei em um bêbado na volta pra casa que me deu um soco na cara, enfim mais um dia de merda.

Todos os dias são ruins, mas o de hoje em especial estava superando todas as expectativas e eu só queria morrer... Foi a primeira vez que pensei em outros métodos, mas a coragem ainda não veio, então decidi pegar um avião mais uma vez.

Comprei a passagem mais barata, só de ida, pois meu desejo era ir pro além e nunca mais voltar, sem bagagem, já que minha dor já era pesada demais para carregar.

A noite estava fria e algo me dizia que uma tempestade se aproximava, um tempo perfeito para atingir o meu objetivo! Eu usava meu sobretudo de sempre e mesmo assim eu ainda sentia frio, mas estava tudo bem, tudo acabaria logo, ao menos era o que eu sempre esperava.

Sentado no último assento do avião, no lado da janela, pois na minha cabeça esse era o lugar mais perigoso para se sentar eu suspirava delirando com o término daquela imensa dor que esmagava o meu peito, meu rosto um pouco inchado e dolorido do soco de mais cedo não se comparava a dor acumulada dos sofrimentos dos últimos anos.

Minha paz logo foi interrompida por um homem que alegava que eu estava em seu lugar.

-Esse é o meu lugar, saia. - Disse ele rudemente.

Eu sorri ironicamente, pois não me importava em que lugar iria sentar desde que alcançasse o meu objetivo, mas algo no tom de voz dele me fez querer brincar com ele.

-Eu cheguei primeiro, então esse lugar é meu.

O homem de cabelos vermelhos ficou tão vermelho quanto, agitou o papel em sua mão e gritou:

-Esse lugar é mais espaçoso e por isso paguei a mais por ele! - ele apontou pros números no papel - Está vendo aqui? O lugar é meu!

Olhei pra ele medindo sua altura com meu olhar irônico, ato que ele percebeu imediatamente.

-Mas o senhor é tão pequeno, pra que precisa de mais espaço?

O homem parecia que ia explodir, com certeza eu havia tocado em um ponto crítico pra ele, mas ele não pôde questionar, emburrado ele sentou do meu lado e pela primeira vez eu me senti vivo, aquele homenzinho carrancudo sentado ao meu lado era bem divertido.

O homenzinho ao meu lado (Soukoku)Onde histórias criam vida. Descubra agora