Eu estava morrendo.
Essa era a única explicação para o jeito que meu coração estava palpitando, como se realmente quisesse saltar do meu peito. Eu estava ofegante, como se tentasse puxar todo o ar do mundo para mim, mas era tudo uma tentativa falha, pois nenhuma molécula de oxigênio parecia ser suficiente. Minhas pernas estavam tremendo e sentia um suor frio descer pela minha testa, passando pela ponta do nariz, e caindo dali em direção ao chão.
Comecei a pensar em toda minha existência, provando que aquele papo de "a vida passar em frente aos seus olhos" quando se está morrendo era verdade. Então comecei a pensar que deveria ligar pro 999 e percebi que não funcionaria na Coreia do Sul, e que na verdade eu não sabia o número de emergência mesmo morando ali por mais de um ano.
Quando achei que tudo estava perdido, consegui ouvir, mesmo que o tambor que eram as batidas do meu coração dificultasse, um barulho atrás de mim que parecia uma risada. Quando abri os olhos, a visão meio ofuscada, consegui enxergar Hoseok sentado no banquinho de madeira que havia logo em frente ao balcão que dividia a sala da cozinha em meu apartamento.
Jung Hoseok era um puta partidão. Cabelo tingido em vermelho — vermelho mesmo, tipo aqueles tomates maduros —, sorriso radiante, corpo atlético e flexível, risada contagiante, papo legal... Ele era tudo de bom. E era, também, o meu melhor amigo na Coreia do Sul. Acabamos nos conhecendo no meu primeiro mês no país quando me perdi pelas ruas de Seul à procura da escola de inglês onde seria professora.
Parecia ser o destino sendo bonzinho comigo, porque Hoseok dava aula na academia de dança logo ao lado, e foi como se todos os planetas tivessem se alinhado para que a gente se conhecesse e virasse amigos. Já havia se passado um ano e alguns meses, e desde então nossa amizade havia evoluído para aquele clichê de séries americanas, que as pessoas vão à casa uma da outra sem ao menos pedir permissão e coisas assim.
E, tudo bem, eu não ligava. Gostava da presença de Hoseok. O problema naquele dia era que, quando meus olhos finalmente conseguiram focar, eu percebi que Hoseok estava rindo muito de mim. Rindo tanto que ele nem conseguia fazer som com a própria risada. Era como se eu estivesse assistindo um vídeo sem som de alguém cujo rosto estava ficando com a mesma cor de seus cabelos de tanto que ele gargalhava.
— Ei... Isso é... extremamente... desres... peitoso... — falei pausadamente, porque ainda não havia recuperado o fôlego. — Talvez... você pudesse... ligar para... o 911?
A risada dele finalmente começou a fazer barulho, ao mesmo tempo em que ele batia os próprios punhos nas pernas, sacudindo-se violentamente. Até me perguntei por um momento se quem precisava da ambulância era ele, não eu, mas então Hoseok controlou sua risada, ao mesmo tempo que limpou uma lágrima que queria descer de seu olho esquerdo, e disse:
— O que é 911?
Revirei os olhos, triste por saber que o número de emergência americano não era o mesmo na Coreia do Sul — achei que a globalização tornaria esse número universal, mesmo que na Inglaterra fosse 999.
— 999? Ou 193? Se bem que essa... é uma emergência... médica. Então... 192?*
— Do que você está falando? — Hoseok riu, dessa vez audível. — Fazer o vídeo de 15 minutos de HIIT* da Chloe Ting, que eu claramente falei para você não fazer, fez mal para você, hein...
Sim, eu estava morrendo, e sim, era por causa de um vídeo de 15 minutos de exercício da Chloe Ting, mas eu juro que eu realmente estava entrando em óbito. Talvez meu corpo nunca tenha reparado que eu tinha músculos e meu coração nunca tenha necessitado bater tão forte para circular tanto oxigênio, e essa seria a causa da minha morte: uma tentativa de me tornar gostosa para o verão.
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Projeto Verão | Jeon Jeongguk
Teen FictionDepois de muito procrastinar e cansar da vida de sedentária, Mia Fletcher, britânica que mora há um ano na Coreia do Sul, decide começar a treinar na academia - muito por influência de Jung Hoseok, seu melhor amigo. Ela deveria estar feliz por final...