Pré-segunda

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Só existe uma coisa pior do que segundas-feiras: noites de domingo.
Excepcionalmente esse domingo.

Hoje, em especial, é o meu último dia de férias de todas as férias escolares da minha pacata e singela existência. Ano que vem, se eu não decidir o que quero fazer com o resto da vida que tenho pela frente, serei apenas uma jovem desempregada sustentada pelos pais, não mais uma mera estudante. Muito incrível e animador, não?

Tirando esse pequeno melancólico e causador de crise existencial fato, o outro motivo da minha tormenta de "pré-segunda" é, apenas, todo o resto.

Eu não sou nenhum tipo de esquisitona que sofre bullying, ou a excluída que ninguém quer fazer amizade e manter por perto. Nada disso, eu tenho amigos. Sério... Tá, posso não ser a pessoa mais popular e "legal" do mundo. Okay, eu sei disso. Mas a escola não é um lugar tão horrendo para mim, na maior parte do tempo. É só minha ansiedade que ferra com tudo às vezes. Quem sabe, sabe.

Faltam 46 minutos e 17 segundos, e alguns vários milésimos que eu não me importei em memorizar, para segunda-feira. Eu estou tão animada e com tanto medo, muito, muito medo. Meu coração tá batendo naquele ritmo mais rápido e forte que o normal, minha respiração certamente nao está certa, e minha barriga, meu coração... parece que todos os meus órgãos foram transformados em gelo só pra se liquidar e voltar a se transformar em gelo e liquidar e...

- Transformar em gelo, liquidar - repeti as palavras que antes só estavam em minha mente.

Normalmente isso ajuda, jogar fora palavras pela boca dando, assim, espaço as próximas que virão. Ajuda a silenciar. Acalmar.

Eu sei que hoje não vou dormir. E, por incrível que pareça, não é devido somente a minha inquietante cabeça turbulenta. Mas, sim, devido ao igualmente inquietante e tão turbulento quanto, se não mais, novo vizinho que ganhei de presente nas férias.

Se o diabo tivesse que escolher um nome e uma face humana, definitivamente escolheria como hospedeiro Thomas Miller. O garoto mais cafajeste e galinha que eu poderia ter visto na face da Terra, ou melhor, que eu já vi na minha "humilde e afastada de tudo" cidade, também, muito conhecida como Hilton, ou Lilton para os mais chegados.

Sim, hoje, em pleno domingo, faltando 11 minutos para meia-noite, querido Miller está cantando a plenos pulmões, a caixa de som no talo, com sua bandinha de rock fajuta que foi criada com o único e exclusivo intuito de atrair garotas. Que, para minha surpresa e de alguma forma, realmente funciona.

O cão é muito bem articulado, mas não tanto quanto Thomas, o cabeludinho. O garoto mal chegou na cidade e já fez o maior alvoroço.

Tudo bem que em cidade pequena qualquer novidade vira notícia. Mas o menino, em questão de dias, virou a celebridade de Lil' Hilton.

Ele é tipo o Timothée Chalamet, o Justin Bieber, o Harry Styles... Não, melhor, ele se tornou o Alex Turner de Hilton. Perdoe-me, Alex, lógico que você é muito, mil vezes mais, talentoso que ele, sem duvidas. Entretanto, o cafajeste consegue ser mais bonito que o próprio Turner, o que eu considerava ser uma conquista impossível.

Mas o meu vizinho, sem escrúpulos e com uma falta gigantesca de talento musical, ser extremamente gato, não tira o fato de eu ainda querer o meu reconfortante silêncio da madrugada. Mesmo que eu não fosse dormir, de qualquer jeito, eu gostaria de ter o direito da possibilidade de uma calma noite de sono.

Tal possibilidade foi tirada de mim há quase dois meses atrás.

O jovem Miller é filho do antigo Miller, um quarentão viciado em álcool com tendências agressivas. O pai de Thom, assim como o mesmo, também era, e ainda é, conhecido por causar muita confusão. Esses foram um dos vários motivos pelos quais a mãe de Miller deixou o marido para trás e levou apenas o filho de 6 anos, nosso famoso roqueiro, e a filhinha recém-nascida.

Isso é um Clichê Where stories live. Discover now