Pesadelo

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Trevense, outubro de 2013

No incessante lúgubre de uma mente atormentada, o barulho da chuva que caía do lado de fora já não era relevante, tampouco o vento fazendo alguns galhos baterem na janela. Naquele momento tudo era escuro, um imenso vazio preenchido pela falta de sutileza. As pernas tremiam e a pele embranquecia mais do que o normal. Ali, aquela garota era apenas uma refém, um passarinho tentando escapar do inferno.

-Ei...

Mesmo sem frio, sua pele se arrepiou.

-Ei...

E mesmo que vivesse aquele momento cem mil vezes, a sensação seria a mesma. Sempre. A dor de cabeça que não passava e a necessidade de sair dali faziam os músculos arderem de tal forma que a garota sentia que iriam se desfazer a qualquer momento.

As vozes em sua mente já não sussurravam. Todas elas passaram a ser algo mais. Mais maligno. Mais alto. Mais real.

-Rachel!

E Mesmo que se sentisse a pessoa mais covarde do planeta por isso, a menina correu, lutando contra a fraqueza que insistia em lhe atingir a cada passo. Havia uma presença além da dela, podia sentir. Algo, ou alguém, mais sombrio do que pudesse descrever.

Sua única reação era correr. E quando o corpo já não aguentava e os pulmões imploravam por uma trégua ela parou, bem a tempo de finalmente ver a única coisa naquele mar de escuridão que pudesse tocar e sentir-se presente no momento. Era uma parede branca tão alta que parecia não ter fim, como tudo naquele lugar.

Ela se perguntava se aquilo poderia ser mesmo real, então levou as mãos trêmulas em direção à solidez da parede, soltando um suspiro e uma lágrima, os dois ao mesmo tempo, ambos carregados de emoções diferentes para aquele momento.

A garota olhou por cima dos ombros, procurando pela presença que não podia descrever. Mas as vozes roucas pararam. Encostou-se na parede esperando que algum milagre fizesse daquela ação um descanso para o corpo e para a mente.

A lágrima solitária abriu passagem para várias outras que desciam rolando pelo rosto, deixando um rastro frio pela pele. As pontas de seus dedos estavam cada vez mais embranquecidas pelo aperto nas próprias pernas. Uma incerteza sobre o que viria a seguir fazia com que seu corpo inteiro enrijecesse e todas aquelas sensações tomassem conta de tudo.

Em meio ao desespero a jovem viu uma pequena gota de tom avermelhado cair entre os olhos e escorrer pelo nariz pequeno até ir de encontro ao joelho onde estava apoiada. Ela levantou a cabeça por um momento e levou as mãos até o rosto, passando as pontas dos dedos no rastro em vermelho forte. A garota tinha um grito preso na garganta quando percebeu do que se tratava.

Quase que por instinto, os olhos azuis arregalados procuraram a parede mais uma vez, somente para ter a visão de uma enxurrada de sangue que escorria por ela.

As pernas trêmulas se puseram em pé e a jovem caminhou para trás, tentando de alguma forma se afastar de tudo aquilo. Em sua cabeça passaram mil formas diferentes de como aquilo acabaria, nenhuma era certa. As costas dela bateram com força em algo, quase a fazendo cair se não houvesse sido virada com tamanha brutalidade.

A criatura de quem ela tanto fugiu estava ali em sua frente, mas ela não conseguia ver seus olhos e muito menos fugir. Sua vida estava para ser tomada diante de seus olhos.

O ranger da porta foi rápido, fazendo-o parecer um delírio em meio a inquietação de uma mulher de cabelos negros adentrando o ambiente. Como um raio, a mãe da garota entrou pela porta do quarto depois de ouvir um grito desesperado, se deparando com a imagem de Rachel sentada na cama e com olhos mais arregalados do que achava ser possível.

-Era o monstro de novo - a garota tentava explicar de alguma forma o que havia acabado de presenciar -Ele vai me achar! - era o que ela dizia repetidas vezes enquanto segurava os braços da mãe com força.

-Ei, Rachel, meu amor! - a mais velha tomou o rosto da garota entre as palmas das mãos trêmulas -Foi só um pesadelo. Lembra da respiração como treinamos, está bem? - ela respirou calmamente para que a filha pudesse se concentrar -Está tudo bem... - ela garantia -Precisa descansar!

Calmamente, Melissa deitou a cabeça da filha no travesseiro e beijou sua testa com ternura. Quando viu o olhar da jovem se tornar mais tranquilo, levantou e caminhou em direção a porta. Pela janela, pôde observar a chuva que permanecia forte do lado de fora, que encharcaria toda a terra do jardim por alguns dias.


-Mãe - Rachel chamou por uma última vez a atenção da mãe para si -Tranca a porta... - pediu com a voz baixa e cansada.

Melissa deu as costas para fazer o que já estava habituada a fazer em noites como essa, cada vez mais comuns, e trancou a porta cheia de crucifixos pendurados por fora para voltar ao próprio quarto. Não antes de se escorar e respirar fundo, buscando uma maneira de lidar com todo aquele medo e desconforto em seu coração.

A muito custo Rachel conseguiu voltar a dormir depois do pesadelo que a assombrava por muitas noites. É como se a mente dela fosse um navio, e o medo sua âncora. Sentia-se presa nessa vida de solidão. Mesmo com a mãe se sentia sozinha. Ninguém mais fazia o que ela era capaz, talvez por isso ninguém a entendesse.

Desde que se lembrava, sempre havia sido assim, Rachel e Melissa: uma criança assustada, inteligente e empática; E uma mulher esforçada, bondosa e amorosa.

O medo constante de um dia a "maldição" separa-la de Melissa fazia as noites serem cada vez mais longas para Rachel. E ela sabia... Ela sentia que tudo só estava começando...

Quem é vivo sempre aparece, né?

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Quem é vivo sempre aparece, né?

Queria me desculpar com as pessoas que acompanham essa história pelo sumisso tão repentino, mas vou voltar como se nada tivesse acontecido.

Obrigada por ler esse pequeno prólogo! Dessa vez não vou prometer constância na atualização dos capítulos porque eu sei que não sei cumprir horários e estou com um bloqueio criativo brabo!!

A autora manda dois beijinhos no coração de vocês 😘😘

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⏰ Última atualização: Feb 21 ⏰

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