Um Pequeno Favor

prólogo

— Eu vou ao baile com Anthony Chapman.

O silêncio na sala de jantar é cortado por vozes animadas. Eu engasgo com uma ervilha do ensopado e Brooke, minha irmã mais nova, estapeia minhas costas, até que eu me recupere.

Meus olhos estão cheios de lágrimas, talvez pela situação que acabou de ocorrer... Talvez porque minha irmã mais velha acabou de soltar que é par do cara por quem sou apaixonada, desde os meus oito anos.

Meu coração parece ter sido chutado, socado e incendiado. Agora é a hora que preciso subir para o quarto e ouvir Olivia Rodrigo até adormecer.

— Você está bem, querida? — meu pai pergunta, espantado pela cena de horror.

Eu apenas assinto com a cabeça, recebendo um olhar cortante de Amber. Eu destruí totalmente o seu momento de glória e felicidade. Esse momento com certeza vai para sua lista de “porque odeio Bethany Cooper”.

— Como eu ia dizendo... — Amber continua sua história — Ele me mandou uma mensagem hoje, me convidando.

Minha madrasta não consegue evitar o sorriso que parece que a qualquer momento rasgará suas bochechas.
 
A droga do baile é no sábado que vem, na primeira semana da volta ao inferno, ou melhor, volta as aulas. Algumas pessoas começam a fazer convites antes mesmo do início do ano letivo.
 
— Por mensagem? — Garren, meu pai, demonstra seu descontentamento — No meu tempo fazíamos um grande evento para convidar as garotas. Eu convidei sua mãe em um luau que organizei.
 
E deixou minha mãe plantada esperando onde costumavam se encontrar. Ela só foi saber no dia seguinte que meu pai estava namorando a garota mais popular da escola. E o pior: as duas estavam grávidas em um curto espaço de tempo.
 
— Não sei o que é pior, a breguice do papai ou o fato de Amber estar caidinha por aquele idiota — Brooke é cirúrgica, como sempre foi em seus treze anos de vida — Fala sério, o cara é do tipo que fica admirando os músculos na frente do espelho. Eu prefiro Dorian Chapman.
 
É, nem tudo mundo é perfeito. Pela primeira vez, terei que discordar das opiniões da minha irmã favorita.
 
— O quê? — É minha vez de parecer indignada — Dorian é o próprio mensageiro do inferno.
 
Os primos Champan são o destaque da Saint Valentine High School. Enquanto Anthony é um príncipe como Maxon Schreave, Dorian é aquele vilão com caráter duvidoso dos livros de fantasia.
 
Bonito. Cretino. Malvado.
 
Mas eu nunca vou admitir em público que seu rosto é notável.
 
Dorian Chapman é um tópico delicado e proibido na minha vida. Eu jurei odiá-lo para sempre quando ele, sem piedade em seu coração, arrancou a cabeça da barbie que ganhei no natal. Chorei muito enquanto puxava seus cabelos.
 
Naquela época, ele já demonstrava ser um babaca. Mas conseguiu se superar nos últimos anos. Ele é uma espécie de Regina George com pênis, popular por ser um baderneiro e agitar os corredores da Saint Valentine School. Apesar de ser capitão dos Crows, o time de basquete, ele não anda com os atletas sem cérebro, e muito menos com as garotas pompoms. Ele tem sua própria turma de dejustados, e eu os chamo de cavaleiros do apocalipse.

— Eu ainda acho que vocês vão se apaixonar um dia — Brooke exibe um sorriso maligno.

Eu reviro os olhos, sentindo a repulsa me atingir.

Eu enfio o dedo no fundo da garganta, fingindo estar com ânsia de vômito.

—  Eu prefiro que um raio caia na minha cabeça enquanto tomo banho, e que os paramédicos me vejam pelada enquanto me resgatam.
 
Bailey apenas remexe os ombros, como se não estivesse se importando com minha fala totalmente específica.
Eu costumo falar coisas totalmente literais quando estou muito nervosa, e isso costuma me render muitas cenas vergonhosas.
 
— Isso nunca vai acontecer. Dorian não gosta de garotas como ela — Amber solta o seu veneno de forma sutil.
 
E eu odeio garotos com síndrome de bad boy, como ele.
 
Um fato sobre o diabo loiro: eu desconfio que ele era apaixonado por Amber quando éramos crianças. Bom, os dois fariam um belo casal: o diabo loiro e a senhorita diaba.
 
Um silêncio desconfortável abrange o restante do jantar. Minha pouca autoestima restante virou geleia e escapou pelo ralo.
 
— Você também tem um par, filha? — meu pai tenta fingir que se importa comigo. — Quem é ele?
 
Algum personagem fictício, eu penso em dizer, mas seria ainda mais constrangedor ele saber que sou caidinha por pessoas que só existem nas minhas loucuras fantasiosas.
Minha madrasta interrompe o começo do meu discurso de como bailes são machistas, por algum motivo que eu iria inventar.

— É claro que ela não tem — Samantha zomba de forma sútil — Ela não é popular como nosso cristal, querido.
 
Amber é a capitã da líderes de torcida. Talvez seja a garota mais popular da escola. Ela costuma fingir que não me conhece quando nos encontramos pelos corredores.
 
— Por favor, papai — minha meia-irmã tenta abafar o riso — Bethany nem tem amigos, quem dirá um par.
 
A raiva atinge todo o meu corpo. Eu finco minhas unhas na palma da minha mão. E uma ideia brilhante e vingativa acende como uma lâmpada no meu cérebro.
 
— É claro que eu tenho um par.
 
As risadinhas debochadas transformam-se em rostos espantados.  Até Brooke me encara, tirando a atenção do joguinho em seu celular, que sempre joga para nos ignorar na mesa de jantar.
 
Sorrio vitoriosa por dentro, mas logo meu momento de vitória é esmagado como um inseto.
 
— Quem é ele? — Amber tenta parecer desinteressada, mas sei que por dentro está morrendo de curiosidade — Algum esquisitão do clube de xadrez?
 
Eu respiro fundo. Maldito momento que mamãe foi viajar a trabalho e me deixou na mansão da família Adams.
 
— Você vai conhecê-lo no dia do baile — tento falar sem gaguejar.
 
— Mal posso esperar para conhecer o perdedor.
 
Como vou explicar que o único par que tenho é um pôster do Harry Styles de papelão em tamanho real?
 
Céus, onde vou arranjar um par em uma semana?
 
É oficial. Vou ter que subornar algum nerd.