Desfecho - Catruchio

o dia do desfecho

São Paulo, 1928

Festa de Noivado de Bianca Batista e Edmundo das Neves

- E, desde já, sintam-se todos convidados para o casamento!

Bianca exclamou e todos em volta sorriram, animados, inclusive Catarina, apesar de ela não prestar atenção a nada em sua volta. Ela somente conseguia apertar involuntariamente suas apólices contra o peito, enquanto mantinha seu pensamento perdido em todas as coisas que tinham acontecido em tão pouco tempo. Estava tão aliviada de finalmente ter recuperado sua fortuna que se sentia extasiada de animação, quase eufórica.

Sua vida tinha mudado tanto nesses últimos meses...

ELA tinha mudado tanto.

Não reparou que o delegado e o detetive já tinham sumido, e nem que algumas pessoas que estavam presentes no momento da revelação também haviam ido embora.

Só sentiu uma necessidade imensa de respirar fundo, sentir ar puro entrando por seus pulmões pelo menos por alguns instantes, que nem olhou para os lados quando se dirigiu porta afora, em direção ao suntuoso jardim da casa de seu pai.

Também não percebeu que Petruchio, longe apenas alguns passos dela, a observava atentamente e a seguiu pelo mesmo caminho que fizera, como se houvesse uma espécie de ímã que os ligasse.

Catarina havia se sentado nos degraus em frente à porta, ainda agarrada às apólices, quando ele sentou-se nas escadas também, um degrau abaixo do dela, para que ela pudesse enxergá-lo parado aos seus pés.

- Catarina... - Sua voz chamou-a docemente, e uma sensação boa percorreu por todo seu corpo. Ah, a voz dele novamente tão próxima... - Ocê tá bem?

Petruchio lhe perguntou, preocupado com seu torpor, ou que talvez tudo isso tenha sido demais para ela. O que era uma grande bobagem, ela era a mulher mais forte que ele conhecia.

- Sim, estou bem.

Petruchio reparou na barriga de sua gravidez, já saliente. Como o tempo havia passado rápido... E ele, que havia ficado tão feliz ao descobrir que seria pai, nem havia acompanhado esse momento de perto. Talvez tivesse a chance de ter mais um filho, para quem sabe poder passar dia após dia vendo a barriga crescer... Quem sabe se ele teria essa sorte...

- Sua barriga tá linda.

Catarina sorriu levemente enquanto abraçou a barriga, cobrindo-a com as apólices. Ela havia sido sua companhia nos últimos dias em que tentava amenizar sua dor. Ela e a criaturinha que crescia dentro dela, que apesar de sugar toda sua energia, era o que a mantinha firme.

- É... Cresceu bastante.

- Catarina, nós precisamo conversá.

- Sim, nós precisamos.

- Mas eu preciso falá primero, tô com muita coisa entalada na minha garganta.

- Está bem, Julião Petruchio. Comece.

Seu olhar doce e cúmplice foi o incentivo que ele precisava.

- Eu lhe devo um pedido de desculpa, meu favo de mel. Porque eu devia de tê te contado que tudo era um plano, má eu sabia que ocê ia tentá me impedí... E além do mais, Marcela acreditô mais ainda quando viu que ocê foi embora da fazenda. Aquele dia, aqui na sala de estudo de seu pai, eu queria te contá... Quando ocê me disse todas aquelas coisa bonita, eu queria agarrá ocê e voltá pra casa e esquecê tudo isso...

Catarina deitou seu pescoço para o lado, os olhos atentos e emocionados, ouvindo tudo que ele falava. E o movimento não passou despercebido a ele. Ela ficava ainda mais bonita quando fazia isso.