Um segredo de família

Já é o quarto pássaro que se choca contra minha janela essa semana, sinto como se ele tivesse cada vez mais próximo.

Desde aquele dia eu não consigo mais ficar em paz, Se for verdade e daqui a 4 dias algo terrível acontecer? Estou ficando paranoico.

Os pesadelos estão cada vez mais constante, aquele homem de chapéu está ali parado no escuro da noite. No sonho estamos num milharal, sinto como se ele me observasse. No início pensei ser um espantalho mas sinto como se fosse um demônio hibernando, prestes a acordar.

Hoje no sonho ele estava na mesma posição, com os braços abertos, pendurado naquilo que mais parece ser uma cruz, quando vi seu rosto mexer e olhar em minha direção.

Acordei molhado com o suor e com o corpo doendo, era como se fosse tão real que meu corpo consegue sentir toda a tensão, era como se eu realmente estivesse de pé na frente daquele demônio.

Devo está ficando maluco.

Há alguns meses meu pai morreu, não estou indiferente com sua morte, meu pai viveu muitos anos. Estava doente e nunca contou a nenhum familiar, infelizmente só se soube da doença quando não podíamos mais fazer nada. Depois do enterro, me vi relembrando minha infância ao seu lado, ele era difícil, mas eu sabia que ele fazia o possível para ser um bom pai.

Há algumas semanas atrás tive que limpar a casa de meu agora falecido pai, tudo estava onde sempre esteve, os moveis, toda a quinquilharia, tudo exatamente igual quando eu era mais novo..

Organizei cada item de sua coleção de moedas, seus livros e tudo mais que iria para doação, meu pai acumulava bastante coisa e seria difícil se desfazer das coisas que estavam lá desde de minha infância.

Depois de todas as coisas arrumadas, todos os livros encaixotados, cansado de toda a arrumação acabei adormecendo no sofá da sala, tive um sonho terrível, acordei num pulo. Fui até a cozinha bebi um copo com água, de repente ouvi um barulho vindo do andar de cima, algo  havia caído, subi as escadas, parei no corredor, quando ouvi novamente o barulho.

Estava vindo do sótão, eu nunca mais havia entrado no sótão, depois da morte da minha mãe vivia sempre trancado e meu pai dizia para mantermos distancia.

Resolvi ser hora de saber o que meu pai escondia naquele cômodo, como não tinha a chave, arrombei a porta. O barulho da porta sendo arrombada ecoou pela casa vazia e sem vida.

Eu não podia acreditar no que vi, todo esse tempo eu não tinha me dado conta do que havia no sótão.

Ao entrar me deparei com uma espécie de santuário, estatuetas, símbolos desenhados nas paredes, velas e castiças. A sala toda parecia uma capela e no canto, um altar, eu nunca havia visto algo parecido. Uma estatueta de um ser com asas, corpo de homem, garras no lugar das mãos, pés como de águia, era como se do próprio diabo ou talvez um anjo caído.

Senti medo e pavor, no altar perto da estatueta fotos da minha mãe.

Meu pai era adorador de algum demônio? Alguma seita maligna?

Eu não conseguia ficar na casa, o medo me tomava, calafrios percorriam meu corpo, comecei alucinar, estava ouvindo sons como se fossem de algum ritual.

Sai correndo desesperado, peguei o carro e fui direto para meu apartamento, me joguei no sofá e ainda muito impressionado com tudo que tinha visto, apaguei.

No outro dia me despertei com meu celular tocando, minha tia ligando para dizer que o corretor iria passar na casa de meu pai e eu precisaria mostra-la a ele.

Pensando em tudo que vi no sótão, o medo percorreu meu corpo, os sons que ouvi me vieram a mente.

Cheguei na casa, fiquei na sala decidido a não voltar a subir as escadas. Já haviam se passado duas horas e o corretor não havia chegado, resolvi ligar, minha tia explicou que o corretor havia sofrido um acidente, não era nada sério, mas que não poderia ir naquele dia.