Whisper

CAPÍTULO I

O primeiro dia de aula foi um desastre.
Todos pareciam estar empolgados em rever os amigos e contar sobre suas viagens durante todo o verão, alguns faziam planos para o novo ano escolar e até colavam papéis em seus armários cujo título escrito em destaque dizia: "Metas 2016". Eu não tinha nenhuma meta em mente, esperava apenas que houvesse algumas mudanças. Mas a verdade é que nada mudou, com excessão dos poucos alunos novos que percebi não havia nada de diferente. Os mesmos grupinhos de amigos, os mesmos professores, o mesmo prédio velho caindo aos pedaços que parece não ouvir a palavra "reforma" há uns bons anos. Como se não bastasse, Melanie passou em minha casa mais cedo do que o previsto e fomos o mais rápido possível para o colégio. Sinceramente, não entendo porque tamanha empolgação, durante todo o caminho eu pensei umas 30 vezes em jogar Mel do carro pra ver se pelo menos assim ela parava de falar sobre "o último ano".
"_Imagina só como vai ser bom, nosso último ano no colégio. Sabe o que significa?! Que finalmente não teremos problemas em arrumar nossos pares para o baile, garotos lindos vão nos chamar pra sair. Vai ser tudo perfeito! Além disso, não teremos que aturar a antipática da Emily e sua turminha querendo ser melhor do que todos. Anima Valerie, sorria estamos chegando!"
Assim que descemos do carro e passamos pela porta de entrada percebo que ela mudou de ideia. Nada seria como ela pensava, pra começar Emily foi a primeira pessoa que vimos, ela estava com um garota que eu não conhecia e as duas usavam saias curtas, blusas justas e sandálias de salto, suas bocas parecia pregar com a quantidade de gloss. Eu queria correr daquele lugar mas bem nessa hora o sinal tocou, já não tinha como escapar.

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Assim que a aula terminou Melanie insistiu para que eu fosse almoçar com ela na casa de sua avó, quando finalmente parou de insistir me deixou em casa, e aqui estou eu deitada em minha cama olhando para o teto de meu quarto esperando que a hora passe. Não tenho sono nem ânimo para fazer algo então permaneço quieta, dessa vez observando meu quarto. Um lugar simples onde passo a maior parte do meu tempo. Perto da porta fica a mesa do computador, na parede esquerda minha estante de livros que encontra- se bem organizada dividindo espaço com os DVDs dos meus filmes preferidos e de todas as temporadas das melhores séries que já vi como "Supernatural", "Diários de um Vampiro" e"The Walking Dead". Na parede oposta está meu armário de roupas e no centro minha cama, próxima à minha cama fica a janela. Sobre a mesa está alguns CDs e uma caixa branca com detalhes dourados da qual não abro mão. A caixa foi um presente de meu pai, ele dizia que eu devia guardar nela coisas que eram importantes para mim, mas desde que ele se foi ela serve apenas como um pequeno depósito. Depois que meu pai morreu - há um ano e seis meses - eu entrei em uma depressão e desde então recebo acompanhamento de uma psicóloga, a Dra Lauren. Apesar da imensa melhora e de já não estar mais doente, há dias em que tenho algumas recaídas. Quando isso acontece eu passo a maior parte do tempo em meu quarto escrevendo, lendo ou ouvindo músicas, quando essas crises são um pouco mais fortes do que o comum eu arrumo outro meio de esquecer a dor. As marcas em meus pulsos são profundas mas não as faço com intenção de suicídio, é apenas uma forma de esquecer todos os problemas já que assim me concentro na dor. Sei que isso não é legal porém nem tudo é fácil como gostaríamos. Em uma pequena caixinha escondida em meu armário estão as vilãs: 6 lâminas afiadas das quais não consigo me livrar, por mais que eu tente.
A verdade é que com excessão de Melanie e de meu irmão Jordan, ninguém mais se preocupa comigo, mamãe é uma escritora e passa a maior parte do tempo em seu escritório ou viajando. Ela sempre foi uma ótima mãe, dividia o tempo com o trabalho e com a família, mas depois que papai morreu se tornou uma mulher ocupada demais e não liga para a minha vida, no fundo sei que ela me culpa pela morte de meu pai. Jordan tem 22 anos e trabalha em um escritório de advocacia, um dos melhores da cidade. Talvez eu seja suspeita para falar mas ele é lindo, os cabelos negros, olhos castanho esverdeados, pele branca. Mel sempre teve uma queda por ele e às vezes até penso que rola algo, se isso realmente acontece fico feliz por eles mais prefiro não ficar informada sobre a vida amorosa de meu irmão.
Melanie também é uma pessoa linda tem os cabelos negros, pele bronzeada, olhos pretos intensos e sempre foi poucos centímetros mais baixa que eu fazendo com que ela pareça mais delicada. Talvez ela seja mesmo mais delicada do que eu, em todas as brigas que ela já esteve eu tive que entrar no meio para defendê-la. Em tantos anos de amizade não houve - até hoje- nenhuma briga entre nós e olha que já teve motivos. Quando estávamos no sétimo ano Mel colocou um papel coberto de cola na cadeira da professora de História, quando ela levantou e ficou de costas toda a sala começou a rir, o papel que dizia "Chute me" ficou realmente colado na saia dela. No final, eu acabei levando a culpa e indo pra diretoria já que a letra que estava no papel era minha e Mel não assumiu a culpa, até tentei explicar que eu não tinha colocado aquele papel ali, mas não teve outro jeito, no outro dia papai foi chamado na escola. Ele não deu ouvidos a diretora Jhanete quando ela falou que eu deveria ficar de castigo, pois já sabia verdadeira história e apenas disse a ela que veria o que fazer.  Por fim, ele me levou pra casa e disse que eu era uma garota muito corajosa por aceitar uma culpa que não era minha mas que devia tomar mais cuidado com isso, disse também que nem sempre ele estaria lá para me ajudar quando eu arrumasse confusão. Eu só não esperava que ele estivesse certo.

Quando desperto de meu devaneio já me sinto sonolenta, lentamente as lembranças vão saindo de minha mente, tento me manter acordada mas cada vez mais mergulho em um sono profundo.