1. Te encontrei

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Raquel Murillo

Ele me deixou uma carta, aquelas em que por pedido de desculpas sempre terminam com:

Eu me arrependo
Faria tudo diferente
Eu te amo, por isso faço tais coisas

Respiro fundo, amasso devagar a folha escrita a mão com letras cursivas e bem redondas. Desde que saí da polícia por amar esse homem, tenho pago todos os meus pecados e mais de algumas pessoas junto.

Eu sabia que me arriscar e me envolver com um criminoso renderia consequências graves. Não podemos ficar muito tempo em um lugar só.

Em apenas 1 ano mudamos para 3 países diferentes. Não usamos celulares, qualquer tipo de tecnologia rastreável é proibida.

E sabem como Sérgio se irrita quando algo sai do controle.

Estamos na Tailândia, uma casa enorme de praia, maior parte é silêncio, quando a noite cai, ficamos ao som de grilos e sapos.

Bem melhor do que os sons de bombas explodindo e homens gritando fora do banco da Espanha.

- Raquel, meu amor...venha deitar, são cinco da manhã.

Sérgio me abraça por trás e encaixa seu rosto em meu pescoço. Roçando sua barba recém cortada, causando arrepios nada agradáveis.

- Ah, estou sem sono...pare Sergio! Sabe que não gosto disso, me dá coceira.

O homem ri, reviro os olhos sem ele perceber e faço um coque com uma caneta que achei perto de mim.

- Quando estou lá embaixo você não reclama...

- Ora, é porque está lubrificado e... a sensação é diferente!

- Você tem resposta para tudo, não é mesmo?

- claro, porque sempre estou certa.

Ele se inclina para me beijar, apenas me deixo levar.

- Podemos sair hoje?

Peço, com olhos de gato. Preciso sair, ver gente, ser uma pessoa normal.

- Se puder não chamar muito atenção...

- Eu nunca chamo atenção!

- Da última vez que saímos no Canadá, você bebeu tanto que ficou em cima da mesa rebolando para uma mulher estranha...

- Ela era muito bonita.

- Pare Raquel, você não é lésbica.

- Qual o problema se eu fosse?

Eu recebo um silêncio estranho de sua parte.

- Você não é! Não teria coragem para isso.

- Não entendi o que disse...

- Deixa, vamos...se arruma que iremos para o festival que está tendo na vila.

Ele sai calado, coçando a cabeça. Eu poderia ser bi, quem sabe? Não vejo erro nisso, tem umas mulheres lindas por aí...

Tiro esses pensamentos e vou me arrumar.

O festival da Tailândia me lembra Palawan, uma das primeiras regiões que passamos. Toda a decoração colorida e bem marcante da tradição.

Assim como toda festa em que me disponho a ir e me divertir como nunca, comecei a dançar acompanhando as demais moças que ali estavam.

Sinto olhares e percebo que não eram só de Sergio, talvez uma moça branca de traços espanhóis chamasse a atenção dos nativos.

- Quer alguma bebida?

Sérgio pergunta e sem esperar resposta sai andando e não demora a voltar com dois copos coloridos na mão.

- Obrigada!

Bebo tudo de uma vez e o líquido gelado pulsa em minha cabeça como sorvete.

- Aí!! Doeu....

Reclamo, devolvendo o copo a ele.

- É que existe uma forma mais decente de se beber.

Dei de ombros e continuo a dançar, a bebida fazia efeito aos poucos, era fraca com qualquer tipo de álcool, ainda bem que eu tinha um guarda costas que não me deixa exagerar.

Enquanto danço e dou piruetas no ritmo da música agitada, parece que vejo alguém conhecido, cabelos ruivos lisos que reconheceria de longe.

Apertei os olhos para ter certeza mas não achei a imagem que havia imaginado. Alicia estaria bem longe daqui, fazem cinco anos do assalto, ela não seria doida de continuar me procurando depois de tudo o que falei para ela, ou seria?

Sinto muita vontade de ir ao banheiro e com dificuldade acho uma porta escrito feminino em inglês.

- Achei!

Entro no espaço onde tem um espelho grande com três pias, ao lado duas cabines desocupadas.

Me sento no vaso, agoniada para me aliviar. Fecho os olhos quando finalmente faço xixi.

Ouço barulho de salto adentrar no banheiro e sem esperar a porta da minha cabine abre com tudo.

- Olá Lisboa.

- Alicia?

- Te encontrei!

Seu sorriso de lado me assusta e perco a noção do tempo e espaço. Talvez tenha perdido bem antes disso...



B.R
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Tá, mas eu tô aqui de novo!!!

Que saudade de escrever, ainda mais histórias que nunca vão acontecer nem no mundo fictício.

Ralicia 4ever

Bad RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora