Escrito por: RedWidowB
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A pergunta que Park Jimin nunca conseguiu responder, fosse para sua mãe ou aos diversos especialistas que conheceu, era o que exatamente havia acontecido com ele antes de chegar em casa tremendo dos pés à cabeça, na noite do dia 28 de agosto.
Apesar das lembranças não serem ruins, ao acordar novamente em frente àquela porta, Jimin se sentiu fugindo da morte, ou algo similar a ela.
Ele correu de lá, porque não reconhecia mais o rosto que o encarou como o mesmo que se deitou ao seu lado, independente de serem exatamente iguais. Porque sentiu medo.
Doze anos depois, já não conseguia lembrar tão bem do ocorrido, principalmente por, em algum momento, ter começado a acreditar que tudo não passara de um delírio. Afinal, seus fones de ouvido estavam em seu bolso quando retornou para casa, e nenhum vizinho tinha dado queixa da suposta festa que presenciou.
Ter saído escondido, então, transformou-se no ponto de início do surto, e foi nisso que todos passaram a acreditar, inclusive ele.
É claro que ter envelhecido ajudou a afastar cada vez mais a ideia que por muito tempo o atormentou, sobre ter vivido uma noite inteira em uma festa — sua primeira — ao lado de alguém, e em seguida retornar ao início dela, como em um loop temporal. Era besteira, e uma loucura que muito lutou para esquecer, pois acreditar nela também incluía acreditar que havia deixado para trás o rapaz que conheceu, e talvez este estivesse preso ali até aqueles dias.
Sua psicóloga dizia que sentir remorso por alguém que nunca existiu somente o faria mal, e ele aderiu ao pensamento.
Com seus trinta anos, Jimin já conseguia entender que aquele tipo de fantasia só poderia ocorrer apenas em sonhos, alucinações e filmes, logo não deveria pensar seriamente numa pessoa de quem nem ao menos conseguia lembrar o rosto. Que nem era real.
Dessa forma, levava sua vida de forma pacata, ainda do jeitinho que sempre foi: aproveitando as pessoas próximas, evitando aglomerações, ignorando as mídias sociais o chamando de velho e chato.
E mesmo quando Jimin se permitia pensar minimamente fora da coerência, tentando lembrar do que vivera, não se arrependia de ter ido embora. Ele não precisava de uma espiral de ilusões coloridas, independente da espantosa conexão que teve com o rapaz perdido em suas memórias.
Às vezes brincava com seus amigos mais próximos sobre ter perdido sua alma gêmea no delírio que teve anos antes, pois continuava solteiro até aquela altura da vida.
E se foi delírio ou não, não podia nem queria discutir com ninguém. Poderia simplesmente ignorar tudo e seguir seus dias ou fazer piadas sobre isso, exatamente como fez.
É claro que em alguns momentos se sentia sozinho, até de certa forma amaldiçoado pela própria história, já que, exatamente como brincava, depois do incidente com a casa que nunca mais teve coragem de chegar perto, nunca conseguiu se apaixonar por alguém.
A terapia lhe dizia que era um bloqueio emocional, sua família dizia que estava tudo bem e seus amigos repetiam que era apenas sua forma de viver que atrapalhava.
Jimin realmente não tinha uma vida social movimentada, nem se via utilizando aplicativos de relacionamento ou qualquer coisa do tipo. Não era assim que gostaria de encontrar seu alguém.
Somente depois de muitas tentativas e insistência por parte de seus amigos que, em algum momento finalmente se rendeu aos convites que recebia. Jimin decidiu ir à sua primeira festa de fato, que seu melhor amigo planejou para comemorar o aniversário de casamento.
O medo de estar em um lugar assim não existia mais em seu coração, independente de sempre imaginar que faria exatamente como fez em seu delírio: esconder-se da multidão.
Rindo com as comparações que fazia, arrumou-se devidamente para a comemoração, balançando a cabeça negativamente sempre que pensava nas roupas de moletom antigas. Sua terapeuta talvez desistisse e o chamasse de louco qualquer dia.
Chegou à festa de Namjoon alguns minutos atrasado, afirmando ao amigo que fazia parte de seu charme. Hyejin, a esposa maravilhosa do homem, recebeu-o como se fosse parte da família, e o puxou para conhecer os demais convidados com toda a animação que poderia ter.
A música não o incomodou, as paredes não lhe causaram qualquer nível de claustrofobia, e, para uma festa, o clima estava agradável. Ele não sentia vontade de fugir.
Foi assim, caminhando com o braço enroscado ao da mulher e apreciando a nova atmosfera, que Jimin conheceu, entre tantos rostos desconhecidos, aquele que desejou nunca esquecer.
Não decorou os nomes das tias, primas e sobrinhos de Hyejin, nem fez questão de trocar muitas outras palavras com eles depois que o viu.
Min Yoongi, um dos primos de Hyejin, não tinha cabelos vermelhos, muito menos roupas estilosas cobrindo seu corpo um pouco mais miúdo que o do Park. Na realidade, era apenas um homem muito bonito, mas simples, com sua cabeleira negra e a roupa social de um trabalhador comum.
Jimin poderia dizer facilmente que se apaixonou por Yoongi desde o primeiro momento em que trocaram olhares, ou talvez foi quando o desconhecido sentou ao seu lado e perguntou sobre o clima da noite.
Quem sabe fossem os olhos pequenos que o fitaram com tanta atenção, o sorriso doce que parecia esquentá-lo como chocolate quente no inverno e a timidez com a qual ouviu o pedido para conhecê-lo mais...
Ele não saberia dizer ao certo, porém afirmava com todas as palavras que, em sua primeira festa, conheceu o amor de sua vida.
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Venus flytrap | Yoonmin
FanfictionPark Jimin não gostava de festas. Se pudesse escolher não frequentar qualquer uma que fosse, faria-o. Justamente por isso, não entendia como chegou àquela situação, onde aquele homem belo, e desconhecido, dava boas-vindas a ele.