Antes De Tudo

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   Os primeiros raios de sol entram pela janela para me lembrar que o dia começou. Nada legal. Tudo que eu queria era poder acordar e não ter que pensar na escola e em como não sou bem vinda nela.

   Há anos peço para os meus pais me mudarem de escola, mas eles dizem que como ela é a melhor escola da cidade não posso desperdiçar essa chance. Tudo sobre o que os meus pais falam é faculdade. Não aguento mais. Eles não entendem que eu prefiro ir no parque e me apresentar com o Phill, e ganhar dois dolares por hora, do que ir para a estupida e sem um pingo de graça Stanford e me tornar médica. Não OBRIGADA.

   Mesmo com uma tremenda vontade de continuar na minha quente cama, me levanto. Imediatamente percebo que está frio e os pelos do meu braço se arrepiam. O inverno. Não que aqui na Virginia fosse quente e de repente ficasse fria, mas eu sou da California e ainda não me acostumei totalmente com o frio, mesmo tendo me mudado há cinco anos.

   Depois de tomar um banho e vestir minhas roupas, desço para o andar de baixo e percebo que meus pais já foram trabalhar. Mal de ter pais médicos. Saem cedo. Chegam tarde. Minha mãe, Diana, doutorado em cardiologia. Meu pai, Tom, doutorado em neurologia. Somos uma família feliz, pelo menos é o que todos dizem. Brigamos, sim. Tudo que acontece na casa é culpa minha. Se um prato quebrou. Se a comida queimou. Se eles ficaram doentes. Pois é, eu não tenho uma irmã ou um irmão, então foi a única solução que eles encontraram. Não sou mimada, por incrivel que pareça, muito pelo contrário, segundo eles: "Estamos te criando para a vida". Vida de médica que eles queriam dizer. Você deve imaginar como eu vivo.

   Meu café da manhã está em cima da mesa que se encontra no centro da sala de jantar. Junto com a comida, um bilhete que eles salvaram no computador e imprimem todos os dias: "Bom Dia, minha querida, nós pedimos desculpa por não estar ai, tivemos que ir cedo para o hospital. Tenha um ótimo dia e uma boa aula. Te vemos a noite, Anne. Nós te amamos. Mamãe e Papai. PS: aproveite o café da manhã que a mamãe fez com muito carinho para você.". "Mamãe e Papai", desnecessário. Dezesete anos se passaram e eles ainda querem que eu chame eles de mamãe e papai. Não vai acontecer. Amo eles.

   Enquanto como, meu celular vibra me avisando que uma mensagem chegou. Phill. Todos os dias ele passa aqui em casa para nós irmos caminhando para a escola juntos. "Já estou quase chegando". Termino rapidamente o meu café da manhã e vou escovar os meus dentes. Pouco tempo depois, a campainha toca. Eu abro a porta e lá está ele. Lindo e maravilhoso como sempre, com seus olhos castanhos claros e seus cabelos pretos.

   - Bom dia, Anne - Ele diz com a sua voz meio rouca por conta de que acordou cedo.

  - Bom dia, Phill - Eu digo trancando a porta atrás de mim.

  Nós começamos a nossa pequena jornada até a escola falando sobre coisas aleatórias e pouco importantes, até que ele revela algo muito interessante sobre o seu final de semana.

   - Lembra da Dallia? - Ele me pergunta com um sorriso no rosto.

   - Da onde eu deveria conhecer ela?

   - Da escola, ela é do segundo ano. -Vendo a minha expressão de confusão ele começou a explicar: - Ela deu uma mega festa ano passado. Cabelo loiro, olhos azuis?

   - Não. O que tem ela?

   - Ela estava no casamento do meu tio, esse final de semana, e a gente conversou e - Ele fez uma pausa. Meu coração acelerou. - você sabe que eu sempre achei ela muito gata, então quando eu tive a oportunidade de a beijar, eu fiz isso, e depois eu fiz isso mais algumas vezes.

   Eu tenho certeza que fiquei com cara de que ia chorar, porque o Phill parou e ficou olhando para mim.
   - O que aconteceu? - Ele perguntou pegando na minha mão.
   Você quer saber o que aconteceu, Philippe, eu gosto de você a dois anos, e agora que eu pensava que você gostava de mim, eu estava completamente errada. Como eu pude pensar que ele preferiria ficar comigo ao invés de ficar com todas as outras meninas do colégio, que praticamente babam por ele? Eu sou tão burra.
   - Nada - Essa foi a minha resposta. - Acho q meu olho tá irritado.
   - Tem certeza? - Ele me olhou com uma cara de desconfiança.
   - Claro que eu tenho.
   Ele continuou falando sobre algumas coisas que aconteceram, mas eu só estava me concentrando em me manter em pé.

   Assim que chego a escola, abro o meu armário, que por sinal é o mesmo do ano passado, coloco meus livros dentro e  checo o meu horário de aula. Eba, biologia avançada, aonde eu estava com a cabeça quando assinei o meu nome naquela lista? Ah, é verdade. Meus pais. Maravilha.

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⏰ Última atualização: Dec 03, 2015 ⏰

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