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Confesso que não gostava muito de festas juninas, mas depois de passar dois anos sem, por conta da pandemia, eu comecei a sentir muita saudade desse clima junino, das músicas, das danças e principalmente saudade das comidas. Hoje acontece o arraiá da cidade e como em qualquer interior do nordeste, é uma data importante.

Quando cheguei na praça, tinham poucas pessoas, mas rapidamente lotou. Acredito que todos da cidade estavam com o mesmo sentimento que eu, saudade. As danças iam acontecer no centro da praça, o local estava cercado por algumas cordas para impedir que o público atrapalhasse os dançarinos. O palco onde a banda fica está a alguns metros do local das danças e a banda já estava tocando as músicas clássicas de São João.

Eu estava com muita fome e o cheiro forte de mungunzá não estava ajudando. No caminho para as barracas de comida, encontro meu amigo, Marcos.

- Mulher e tu não atende mais o celular não, é? - Ele pergunta enquanto me abraça.

- Perdão, esqueci de tirar do silencioso. - Entrelaço nossos braços e guio Marcos para a barraca de comidas.

- Quando o teu celular não está no silencioso, né? - Ele ironiza.- Tá procurando o quê?

- Mungunzá. - Respondo, apontando para um cardápio enorme exposto na lateral da barraca.

- Que ótimo, porque eu estou louco por um crepe.

Fizemos nossos pedidos e escolhemos uma mesa um pouco distante de toda a muvuca de pessoas indo e vindo.

Só agora percebo que Marcos levou a sério a nossa conversa de vir a caráter. Ele está usando um macacão jeans claro, por baixo do macacão está uma camisa de manga longa laranja quadriculada, nos pés um coturno marrom escuro e em seus cachos estava um enorme chapéu de palha.

Marcos é o tipo de pessoa que fica lindo de qualquer jeito. Ele tem essas sobrancelhas cheias e naturalmente bem feitas que me dão inveja, seu rosto é bem definido e sua pele é morena, uma das pessoas mais lindas que conheço e eu juro que não estou falando isso só porque ele é meu melhor amigo.

- Nanda e aquela história de vir a caráter, hein? - Ele comenta como se estivesse lendo meus pensamentos, enquanto limpa sua boca com um guardanapo.

- Bem, eu estou a caráter. - Respondo falsamente ofendida. - Olha minha camisa quadriculada, olha minha bota!

Confesso que quando dei a ideia de vir a caráter, não imaginei que seria tão difícil. Então aqui estou eu com uma regata preta, uma camisa verde quadriculada por cima, calça jeans e botas pretas.

- Nanda, você tá parecendo um emo deslocado. Quando você terminar de comer, nós vamos comprar um chapéu de palha para você.

- Não quero! - Digo comendo mais um pouco do mungunzá. Senhor, como eu senti falta disso.

- Amor, eu não perguntei. Termina logo isso. - Ele responde piscando para mim.

🌽

Mesmo com muita reluta, Marcos me arrastou para a barraca de acessórios e aqui estou eu, escolhendo um chapéu de palha. Não foi isso que imaginei para minha noite de São João.

- Queria deixar claro que não foi isso que imaginei para minha noite de São João. - Exponho o que estava pensando.

- Bom, a ideia de vir a caráter foi sua, então...

Paro de prestar atenção quando vejo Cecília se aproximando da barraca com seus amigos. Cecília é do terceiro ano, um ano mais velha que eu. É aquele tipo de pessoa que todos querem ser amigos. Sabe dançar, canta, é linda e simpática. A existência dela chega a ser injusto, ela é aquele tipo de pessoa perfeita.

Uma noite de São JoãoOnde histórias criam vida. Descubra agora