Rever Você

184 33 13
                                    

22 de outubro de 2020.

Algo com certeza não estava certo, Siyeon pensou enquanto encarava ameaçadoramente o grupo de estudantes que devia ter um quarto da sua idade.

As mãos minúsculas de Gahyeon apertaram, sofridas, o tecido de seu avental, buscando algum tipo de conforto. O uniforme da garçonete tornou-se úmido pelas lágrimas. Siyeon encarou a criança em seu encalço, preocupada, buscando uma explicação.

- Quem é você? - Ouviu uma voz infantil.

Siyeon subiu a cabeça para encarar o pequeno menino de semblante desconfiado que tomou a frente daquele grupo de infratores. O garoto tinha cabelos negros que sugavam toda a luz do ambiente e apesar da anterior perseguição, seus olhos eram inocentes, como os de toda criança. Mas não se deixou enganar, Gahyeon ainda tremia e soluçava em seu pescoço.

- Quantos anos você tem? Quatro? - Lee ignorou a pergunta do garoto, impaciente. - Não deviam estar na escola?

- Eu tenho seis! - Vociferou o menino. Os dois outros pestinhas que o acompanhavam encaravam hesitantes.

- Eu não quero saber se você é o Papa, garoto, dê o fora daqui. - Não deu importância alguma para as crianças.

Talvez estivesse sendo dura demais com os meninos, mas não conseguia evitar, seu instinto protetor falava mais alto. Levantou-se, levando Gahyeon consigo. A menina estava esquisitamente muda, como nunca tinha visto antes.

- Acho melhor voltarem para a escola antes que a Gahyeon aqui me diga onde vocês estudam e eu ligue pra diretora. - A ameaça pareceu assustar o grupo de meninos, mas o petulante ao meio continuou a falar.

- E por que nós precisamos voltar mas ela não? - Ele indagou, com birra.

Todos esses moleques riquinhos falam bonito desse jeito? Quando criança, Siyeon mal conseguia pronunciar "papel higiênico" direito. Não importa. Se eles continuassem trazendo argumentos lógicos para a conversa, a loira acabaria brigando com os meninos no meio da rua.

- O que está acontecendo aqui? - Ouviu a voz de Yongsun não muito longe.

A cozinheira se aproximou com uma feição confusa, porém raivosa. Moonbyul se esgueirava logo atrás dela, com curiosidade. Solar pareceu compreender rapidamente a situação quando avistou a menina chorando no colo de Siyeon. Yongsun se posicionou a frente da Lee, e por mais que a loira não conseguisse ver sua face ela tinha certeza de que não estava nada bonita.

- Vocês estão afastando a clientela, seus pirralhos malditos, saiam daqui! - Solar brigou, com sua típica voz ácida. - Atazanando minha garçonete... Anda, dêem o fora!

Bateu o pano de prato que segurava com força no próprio ombro, e os meninos deram um passo para trás assustados. Vendo que não surtiu o efeito necessário, Yongsun movimentou o pano de novo, dessa vez mais perto dos meninos, que saíram correndo, assustados. Siyeon suspirou aliviada e passou a andar em direção ao restaurante.

Em suas costas, Yongsun habitualmente blasfemava contra Deus e o mundo. No entanto, assim que chegaram à área externa do restaurante, onde ficavam algumas mesas, Solar pareceu se calar. Siyeon repousou com delicadeza a menina em cima de uma das mesas. Gahyeon relutou em se afastar, mas logo desistiu. A mochilinha em suas costas escorregou e caiu acima da superfície de vidro.

Ambas as mulheres pareciam esperar alguma reação da menina, mas ela não veio.

- Se eu for lá dentro pegar um copo de água para você, você vai fugir? - Siyeon perguntou, calma.

Gahyeon olhou incerta para Solar, antes de balançar a cabeça negativamente, fungando.

Então, a Lee mais velha se levantou e partiu com pressa para dentro do restaurante. Solar seguiu atrás dela enquanto Moonbyul permaneceu lá fora.

Consertar Você - SuayeonOnde histórias criam vida. Descubra agora