CAPÍTULO 2 - REBECCA

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Eu me apoiei contra a porta, fechei os olhos e cravei as unhas nas palmas das mãos

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Eu me apoiei contra a porta, fechei os olhos e cravei as unhas nas palmas das mãos. O meu coração batia velozmente no peito, exatamente como a primeira vez que o vi.
Não.
Não podia me permitir voltar a sentir essas coisas. Paguei um preço alto demais por amá-lo, e não estava disposta a sentir o gosto amargo da decepção outra vez.
Tudo o que deveria sentir por Michael era ódio. Só isso restara dentro de mim. Era nesse sentimento que eu deveria me concentrar, repeti a mim mesma pela milésima vez.
— Rebecca? Tudo bem?
Abri os olhos e me deparei com Brianna saindo da suíte.
— Você ouviu?
Brianna maneou a cabeça em resposta. Mesmo Michael já tendo ido embora, a tensão que ele causava parecia habitar aqui, forte e pulsante.
— Acho que ele não vai se dobrar como os outros.
Eu trinquei os dentes ao constatar o quanto ela estava certa. Mas não permitiria que fosse ele a ditar as regras.
— Ligue para a França...
— Não! Você disse que não tocaria em Carol — Brianna caminhou até mim, exaltada. — Deixe-a de fora. Já a atingiu demais, lembra?
Eu não queria envolver Max, Carol e a pessoa mais importante no mundo para mim: minha filha. No entanto, Michael não me dava escolha, a não ser atacar.
— Isso foi antes — Antes de ele se portar como um idiota orgulhoso. — Deixa, eu mesma faço isso.
Entrei em contato com a recepção do hotel e pedi que me conectassem em uma ligação internacional.
— Bonjour, Monsieur Barrot. Comment allez vous? — cumprimentei o advogado francês com a voz doce e cheia de charme. — Très a bien...
Enquanto eu dizia a Barrot o que precisava que fizesse por mim, observei Brianna retornar ao quarto e sair dele com sua bolsa, deixando o hotel discreta e silenciosamente. Estava aborrecida comigo. Eu queria ter podido explicar que não executaria a ameaça até o final, caso Michael ainda se mantivesse irredutível. Mas tinha que fazê-lo acreditar que eu não estava brincando. Iria atingi-lo onde mais doía: a sua família.
— Salut. — despedi-me, em seguida recolhi as pastas e documentos espalhados no sofá e em cima da mesa.
Eliminei todos os rastros de que estive aqui e fui embora. Queria ir para casa, precisava da única pessoa capaz de me dar paz.
— Onde está a Olivia?
— Perto da piscina, brincando com Abigail. O que aconteceu, Rebecca?
Deixei a pergunta de minha mãe no ar e disparei até onde minha filha estava. Avistei-a dançando e cantando em volta da cadeira de rodas. O meu pequeno anjo, que enchia a minha vida de felicidade. Perto dela, sentia que toda dor e tristeza que carregava em minha alma quase desaparecer.
— Mamãe!
Eu estendi as mãos e ajoelhei para aninhá-la com um abraço forte.
— Eu amo você — Sorria e chorava ao beijar o rosto da pequena. — Eu a amo muito. É toda a razão da minha vida. Não importa o que aconteça, querida. Será sempre a razão da minha vida.
— Por que você chora? — Com os dedos delicados, Olivia apagava o rastro de lágrimas em meu rosto. — Não gosto de te ver chorar, mamãe.
Era por esse pequeno milagre que tinha que me manter forte, mesmo quando me sentia fraca, como nesse momento. Ser alguém melhor para ela. Mas, para ser alguém melhor, precisava eliminar a pior parte de mim, a parte destruída que ainda ardia em meu peito.
Só assim poderia renascer e seguir adiante.
— Não vou mais chorar — murmurei, beijando-a. — Prometo.
— Vem brincar comigo e com a Abbi — Olivia me arrastava pela mão. — Ela também chorou hoje, está triste porque tem saudade do tio Alex. Podemos fazer uma festa para ela ficar melhor?
— Podemos, sim. O que acha de fazermos uma festa do pijama essa noite? Você gostava, lembra?
Em Londres, às vezes, tinha a presença de duas ou três de suas amiguinhas da escola.
— O que você acha, Abbi? — Olivia perguntou à menina que se aproximava lentamente em sua cadeira de rodas.
Aprendi a amar a garota frágil e corajosa como alguém de minha família.
— Eu nunca tive uma festa do pijama — Apesar de falar pausadamente, Abbi demonstrava ser a mais animada delas. As duas janelinhas entre seus dentes e o sorriso largo era encantador, seria impossível não me apaixonar ainda mais por ela. — Posso ligar para o Alex e contar para ele?
Ao pegar o meu telefone na bolsa, olhei a quinta mensagem de Alex, perguntando se tudo ocorreu bem. Ele queria se livrar de Stacy logo, para começar logo a reforma no palacete e levar Abigail para morar com ele. Desde que tinham chegado a Uptown, Abbi e a senhora que cuidava dela ocupavam a antiga casa da governanta, nos fundos da mansão dos meus pais, pois era onde ele preferia ficar quando estava aqui. E também era mais fácil para a menina se locomover sem ter que subir e descer escadas.
"Desculpe. Prometo que falo com você depois", enviei a mensagem.
— Use meu celular — Disquei para ele e entreguei o aparelho para que Olivia ajudasse a pequena a equilibrá-lo no ouvido.
Enquanto as duas contavam empolgadas a aventura que teriam essa noite, eu sussurrei à senhora para manter os olhos grudados nas duas enquanto entrava e trocava de roupa.
Substituí o vestido elegante por jeans e camiseta, e os saltos por sapatilhas mais confortáveis.
Estava protelando a conversa com Alex, sabia disso. Não era justo com ele, que já fez tanto por mim, mas precisava de um pouco mais de tempo e paciência. Isso o aborreceria. Pelo pouco que ele já disse, conviver com Stacy estava sendo seu pequeno inferno na terra.
Quando propus o acordo, imaginei que seria algo divertido para ele. Mas por algum motivo, Alex parecia odiar a bruxa tanto quanto eu odiava. Restava descobrir o porquê.
Os meus problemas se multiplicavam ao invés de serem riscados da lista. Deveria, naquele momento, estar retornando a ligação de Alex e comemorando mais uma vitória, mas, ao invés disso, o que eu tinha agora eram mais motivos para me lamentar.
Fui para o quarto de Olivia e estaquei quando encontrei minha mãe olhando através da janela, onde era possível ver as duas meninas correndo e brincando lá fora.
— Vim pegar algumas peças para Olivia. Vamos fazer uma noite só de garotas na casa da Abbi, você se importa?
— As duas irão amar.
Abbi era a única amiga que minha filha tinha na cidade agora. Era natural que ficassem ainda mais próximas.
— Quer se juntar a nós?
— Eu adoraria, mas teríamos que arranjar uma bela peruca para o seu pai — gracejou ela. — Então é melhor eu manter a fera aqui em casa comigo.
Ela não exagerava. De forma alguma meu pai ficaria em casa sozinho enquanto nos divertíamos noite afora. Mas sabia que o real motivo é que desde que se reconciliaram, um pouco antes de me encontrarem, ele já não suportava ficar muito tempo longe da esposa.
— Como foi com o Michael? — Ela afastou-se da janela e ocupou a cama da neta, enquanto eu analisava o guarda-roupa. — Marcaram a data?
Eu fui para a parte de roupas próprias para momentos descontraídos com minha filha e pensei se respondia ou não a pergunta irônica.
— Ainda não.
Ouvi o suspiro atrás de mim, que também resolvi deixar passar despercebido. Já entendia a postura dos meus pais, e de todos que eram contra as minhas decisões. Não precisava que repetissem a cada segundo que me viam.
— O que ele disse sobre Olivia?
— Não falamos sobre ela.
Isso e a forma arrogante com que Michael me tratou mantinham os planos firmes. Em nenhum momento ele perguntou sobre a menina.
— Por quê? É a filha dele.
— Michael não quis saber dela antes, por que acredita que ele quer saber agora?
— Talvez se tivesse tentado...
Eu estava cansada de tentar. Estava cansada de esperar, queria ações, e não promessas.
— De que lado você está, mamãe? — Peguei um vestido de princesa que Olivia amava e dois pijamas com desenhos de fadas. Prendi-os contra o meu peito como uma armadura. — Com quem fica sua lealdade? Por que o Michael está pouco se importando com nós duas.
Surpresa; não. Ela me encarou com uma expressão magoada. Em seus olhos brilhava nada mais do que tristeza.
— Não é porque eu a amo que tenho que concordar com tudo o que você faz, Rebecca.
Pela primeira vez desde que iniciei minha vingança, senti vergonha da pessoa que me transformei.
— Desculpe — Sentei-me ao lado dela e segurei sua mão fria. — Está dando tudo errado, mamãe. Achei que seria tão fácil... Mas Michael é irritante e orgulhoso.
Ela apertou a minha mão com carinho.
— Talvez sejam mais parecidos do que imaginam. Só não vá tão longe ao ponto de não saber retornar.
Ela se levantou e beijou minha cabeça antes de sair silenciosamente.
Sozinha no quarto de Olivia, refleti sobre as palavras de minha mãe. O conselho havia chegado tarde demais, já tinha cruzado essa fronteira.
Não era mais possível voltar.

 Não era mais possível voltar

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Temos que dizer: avisamos. Mas, infelizmente você não podia nos ouvir.
Querem mais um capítulo hoje?

Em busca do perdão  - Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora