Lanchonete

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Como de costume Cecília tinha mania de matar aula para ficar na lanchonete emfrente à escola. Pois sabia que ninguém sentiria a sua falta, os professores eprincipalmente seus colegas pareciam não se importar se estava ou não em sala.Mesmo estando animada para terminar a escola, faltavam menos de um ano, mas umpouco mais de um semestre para se ver livre de todos. Ainda mantinha alguns costumesde anos atrás.Quando começou a frequentar a lanchonete apenas queria se esconder de seusproblemas e seus colegas – o que parando para pensar grande parte se unia em umaúnica coisa – costumava deixar a lanchonete quando o sinal da escola tocava, poispassava a ficar um pouco movimentado.Mesmo não frequentando muito as aulas, suas notas estavam na média, pois não erauma aluna que se destacava por suas notas e méritos, mas ao mesmo tempo não erauma aluna problemática – sim no contexto social – quando se trata de necessitar doauxílio dos professores para estudar. Então não havia motivos para ser lembrada porseus professores.Mesmo sendo estranho passar grande parte do seu dia em uma lanchonete evitandotodos com exceção da garçonete não estava ajudando a ter dias melhores e maisdivertidos, desta forma não iria conseguir ser a pessoa melhor ao qual tentou,entretanto não queria deixar a sua rotina confortável e também não teria riscos, poisnão sem novos conhecidos, sem perigos - ao menos era o que dizia a si mesma para seconvencer de que não deveria ter amigos.Enquanto comia e fazia a lição para que não ficasse atrasada nas matérias que nãoentendia muito bem, sem perceber uma mulher entra e senta no banco à sua frente.- Posso ajudar? - falava um pouco intrigada, mas assustada ao mesmo tempo.- Me desculpe - estava um pouco desnorteada.- Tem uma mesa vaga bem ali.- Estou incomodando tanto assim? - não imaginou que seria expulsa tão rápido.- Sinto muito, mas é que não devo falar com estranhos!- Está certa, mas você tem o que? Quatro anos? - sorriu.- Só pra você saber eu tenho dezoito anos!- Que bom pra você, eu também.- Cecília! - Estendeu a mão.- Prazer, Ynessa! - cumprimentou-a.- Não deveria estar na escola? - sorriu.- Engraçadinha, mas poderia te dizer a mesma coisa - olhou-a com o mesmo olharque recebeu.- Está matando aula com essa roupa?- O que há de errado com a minha roupa? - disse duvidosa e olhando para suaroupa - e você que está de uniforme? com certeza deveria estar na escola. Umadica, se quer matar aula, não seja tão óbvia.- Vou tentar me lembrar disso amanhã - disse rindo - mas porque está aqui?- Acho que devo desculpas por ter entrado correndo e sentado aqui...- Deve mesmo - olhou-a nos olhos fixamente esperando uma resposta.- Mas - apenas continuou a falar, como se não tivesse sido interrompida porCecília - senti que estava sendo seguida por alguns caras lá fora, então sóentrei.- Sinto muito, já passei por isso e não é nada bom.Por alguns instantes ambas ficaram em silêncio, pois mesmo querendo confortar umaà outra não sabiam exatamente o que dizer, apenas tinham que mostrar que nãoestavam sozinhas, pois muitas vezes um silêncio e uma companhia é mais confortantedo que milhões de palavras.Mesmo o sinal da escola tendo tocado, Cecília não deixou a lanchonete e também nãodeixou Ynessa trocar de mesa.A mesa estava toda bagunçada com papéis, cadernos, canetas e lanches e bebidas.Cecília estava rodeada com as coisas da escola, mas também estava passando algumascoisas a limpo, pois como tinha a mania de comer e escrever muitas das suas folhasacabavam sujas, por seus dedos e também por condimentos. Ynessa também ocupava amesa com suas folhas, mas pode ser considerada um pouco mais organizada do queCecília, deixava suas folhas empilhadas, desta forma não deixavam a ordem que tantoprecisava.- Isso tudo é lição? - mexia nas folhas - já entendi o porque mata aula!- Você também tem bastante folha - olhava buscando palavras, mas estavam embranco - quer ajuda? - perguntou receosa.- Não tudo bem eu dou conta - voltava a olhar para suas coisas.- Deve dar conta mesmo, estão em branco - sussurrou com medo de Ynessa ouvir.- Elas não estão em branco! - olhava para Cecília, pois queria ver cada expressãoem seu rosto.- Me desculpe - falou sem jeito - eu não deveria me meter nas suas coisas!- Está desculpada - olhava em seus olhos - mas, eu não deixo meus planos àmostra para qualquer um!- Então agora eu sou qualquer um? - disse com um olhar quente - não fui euquem escolheu sentar aqui!Ficou sem jeito com o seu olhar, não sabia como deveria responder.- Acho que devo entender o seu silêncio como um "sim" - para disfarçar um levesorriso em seus lábios voltou a olhar para sua lição.- Vejo que gosta disso!- Disso o que? - fingia não entender.- Sabe do que estou falando, de deixar as pessoas sem graça!- Talvez!- Uma dica, é por isso que não tem muitos amigos!- Vou tentar me lembrar disso na próxima! - sorriu demonstrando desinteresse,mas não era verdade.- Me diga, porque está aqui sozinha? - não conseguia negar sua curiosidade - estáse escondendo de quem? ou o que?- Diz você primeiro! - cruzava os braços se apoiando na mesa e inclinando em suadireção. Tentava ser ameaçadora.- Acho que devo essa - pensava o que deveria responder - eu larguei a escola parame concentrar em um projeto.- Que projeto? - não podia negar que ficou mais curiosa.- Não, não é assim que funciona!- Tudo bem! - respirou fundo - apenas digamos que ninguém na escola sente aminha falta e estudo muito melhor sozinha, então...- Então prefere ficar aqui, sozinha de frente pra escola!- Sim - falava com um leve arrependimento em sua voz que tentava disfarçar!Enquanto conversavam Cecília sempre olhava o horário em seu celular, pois tinhaque estar em casa no horário marcado para que nem sua mãe nem ninguém desconfiassede nada, pois ficaria de castigo para sempre se ela chegasse a suspeitar de algo.Com a morte de seu irmão não sabia mais como seriam as coisas, mas sabia que nadamais seria igual, mesmo que quisesse voltar no tempo, sabia com todas as suas forçasque isso jamais seria possível.- Está atrasada para alguma coisa? Uma festa talvez! - deixava seu sorrisotomar conta de seus lábios.- Você é cheia de piadas! - se mantinha séria - Eu preciso ir, tenho que buscar aminha irmã na escola.Mesmo tendo dito isso, não sabia com toda a certeza se deveria buscar Júlia, apenaspensar que sua mãe pudesse não estar tão bem para isso. Queria ser útil pelo menosuma vez.- Que fofa você é! - sua voz soava sarcástica, mas realmente a achava fofa - deveir.Cecília começou a arrumar suas coisas.- Pode deixar que eu pago! - sorriu - vai ser um presente meu por me ajudar!- Obrigada! fico devendo essa! - levantou-se e estava prestes a começar correr.- Vou cobrar!Mesmo que no início tudo estivesse dando errado, não imaginou que sentar-se comCecília poderia ser tão engraçado. Talvez mesmo que o dia possa ter começado mal, nãotermine tão mal, entretanto ainda está no horário do almoço, ou seja, ainda está cedopara começar a sofrer por algo que nem tem certeza se pode ou não acontecer.Ynessa pensou em perguntar se poderia e até se deveria acompanhar Cecília, poisdesta forma as chances de serem abordadas por alguns homens diminuíram, mas achouser demais para um primeiro dia, afinal acabaram de se conhecer.Mesmo que não quisesse confessar seu olhar e seu sorriso entregavam facilmente quehavia gostado de conversar e conhecer Ynessa, mesmo que sua mente dissesse que não severiam novamente, em seu peito a resposta era outra.Felizmente sua escola não era longe da de Júlia, apenas alguns quarteirões dedistância, mas o horário de saída e de entrada e de saída são um pouco próximos entãoprecisava correr um pouco.Chegou em frente a escola de Júlia ofegante por conta de sua mini corrida até lá.A sua chegada foi no exato momento em que a sala de Júlia estava sendo dispensada,precisou recuperar seu fôlego com apenas duas longas respirações.- Olá, maninha! - tentava não demonstrar o cansaço.- Cecília! - abraçou-a fortemente.- Pronta para ir pra casa?- Mas nós vamos andando ? - é longe!- Eu sei que é longe, mas podemos caminhar devagar e olhar a paisagem!- Mas só isso? - parecia triste.- Tudo bem, eu te pago um sorvete.- Eba! - pulava de alegria.- Mas vai ter que me prometer que não vai contar para a mamãe!- Prometo!- Vamos?Em resposta apenas balançava a cabeça, pois estava pensando em que sabor iriaescolher. Chocolate? Morango? Baunilha? com ou sem cobertura? Estava indecisamesmo antes de chegarem à sorveteria e ver quais os sabores que poderia escolher.Chegaram tão rápido à sorveteria quanto Cecília na escola de Júlia.Apenas Júlia escolheu o sorvete, pois Cecília havia comido um lanche comacompanhamento poucos minutos atrás, mesmo que a corrida até a escola tenha abertoum pouco - talvez muito - o seu apetite precisava chegar em casa e almoçar em família.O caminho até chegarem em casa foi demorado e cansativo, mas conversaramenquanto caminhavam para que parecesse mais rápido.Mesmo que estivessem cansadas, chegaram em casa com um sorriso no rosto, poisMaria ainda não havia se recuperado, e seu pai ainda não havia chegado.- Meninas - falava um pouco perdida - o que fazem aqui? - esfregava os olhospara esconder suas lágrimas.- Ceci foi me buscar na escola e - por pouco não disse que havia tomado sorvete -voltamos andando.- Obrigada minha filha - estava perdida no tempo e em sua dor.- Não foi nada mamãe - percebia a tristeza em seu olhar e ao mesmo tempoestava aliviada por Júlia não ter falado nada do sorvete - Jú deixe as suascoisas no quarto para prepararmos o almoço!- Tá bom!Júlia saiu correndo para seu quarto, queria muito tirar o uniforme da escola, eraquente e o pano pinicava, sentiu-se mais leve depois de tirar ele.- Obrigada por tudo minha filha!Maria estava contente com toda a ajuda de Cecília, mas sentia que isso poderia serculpa, mesmo que no momento precisasse de ajuda, a culpa não era dela.Em resposta à Maria, Cecília apenas sorriu e concordou com a cabeça, pois não sabiao que dizer para confortá-la, então pensou que ajudando com as tarefas lhe dariaalgum tempo para processar a morte de Luiz.Tanto Cecília quanto Júlia não sabiam cozinhar muito bem, mas nada que umapesquisa rápida na internet não pudesse resolver.- Então Jú, o que vai querer almoçar?- Que tal a macarronada da vovó? - disse com entusiasmo.- Delicioso!Quase todo o final de semana Maria deixava Cecília e seus irmãos com seus pais, poissem escola precisavam de atividades que os deixassem longe dos Lobos.Maria jamais negou seu amor louco e ardente por Diego, abandonou sua antiga vidapor ele, mas mesmo que o amasse não queria dizer que concordasse com os seus negóciose até alguns rituais de família. No dia de seu casamento, Diego lhe prometeu queninguém jamais lhe faria mal, pois protegeria esta família com seu sangue se preciso.Até a morte de Luiz, jamais havia quebrado a promessa.Quando criança Cecília esperava ansiosa pelo passeio até seus avós principalmentepelo delicioso almoço, uma macarronada que sua avó dizia que lhes ensinaria a receitaum pouco antes de morrer, pois era uma de muitas receitas de família. Luiz e Cecíliaacompanhavam cada etapa do preparo, tentavam descobrir a receita por conta própria,mas nunca descobriram o "ingrediente secreto", o qual era passado de geração emgeração apenas na idade e no momento certo.Durante o preparo Júlia e Cecília se divertiam e riam juntas como a anos não faziam,mesmo que Júlia ainda não fosse tão velha para se lembrar de tudo Cecília não era airmã mais carinhosa, pois mesmo Cecília não possuía muitas lembranças boas edivertidas com sua irmã mais nova, talvez essa pudesse ser a primeira a qual Júliarealmente se lembraria, mas não queria que essa fosse a única.O preparo do almoço demorou mais do que o de costume, pois nenhuma das duasestava familiarizada com a cozinha. Maria levaria mais ou menos uma hora - parafazer e arrumar tudo - mas como não tinham experiência não conseguiam adiantarnada, apenas entravam em crises de riso quando as coisas não saiam como planejado.Depois de quase duas horas tentando preparar o almoço que por poucas horas não setornaria um jantar Júlia já estava realmente ficando com fome, Cecília estava sesentindo fraca e Maria ainda estava sem fome, mas seu corpo mostrava sinais defraqueza, pois não conseguia comer.- Vamos almoçar? - não sabia se estava bom, mas faminta.- Sim, estou faminta! - mesmo não estando com fome, preferiu mentir por suasfilhas, não queria que o esforço e gentileza de ambas não significasse nada, naverdade significava muito.A mesa estava posta, tentaram fazer da mesma forma que Maria, mas não estava tãodelicado quanto; mas isso não importava.Ver suas filhas se dedicando e também se ajudando aquecia o seu coração um poucomais, vê-las tentando cozinhar e mesmo estando tudo uma bagunça isso nãoimportava.Todas sentaram-se à mesa, aparentemente parecia delicioso, mas não tinham certezaquanto ao gosto. Cecília serviu a todas, começando com sua mãe. Enquanto colocavano prato o macarrão se amontoava, havia deixado cozinhar por tempo demais, pareciamole, nem um pouco parecido com o que comiam quando criança.Todas deram a primeira garfada juntas, Maria pensou que seria a primeira, mas afome falava mais alto.Mastigaram receosas, o tempero não estava certo, não chegava nem aos pés da receitada vovó e também não ganharia nenhum prêmio, mas para uma primeira vez estavagostoso e o mais importante foi feito com amor, o amor de suas duas filhas.O dia foi tranquilo, Júlia sentia muita saudades de Luiz, mas mesmo assim tentavaser uma boa filha e distrair sua mãe, conseguia ver o seu olhar triste e sem vida apenasolhando em seus olhos , queria sua vida de volta, mas sabia que por mais que tentassejamais teria o mesmo brilho em seus olhos.Cecília passou o restante do dia trancada em seu quarto com a desculpa de que tinhamuita lição de casa, mas apenas queria ficar sozinha, Júlia e Maria passaram orestante do dia maratonando séries e alguns desenhos.A noite foi tranquila e sem surpresas.Para que fossem andando para a escola precisariam acordar mais cedo.Cecília levantou-se para se arrumar, mas assustou-se ao perceber que estava sozinhaem seu quarto, correu para o quarto de seus pais e também não encontrou ninguém.Assustada e pensando ser um pesadelo começou a correr pela casa procurando alguém,quando chegou na sala de estar e deu uma olhada rápida e não viu nada, apenas atelevisão ligada, enquanto procurava o controle para desligá-la viu sua mãe e suairmão dormindo juntas no sofá, provavelmente pegam no sono enquanto assistiam asérie.Ficou em dúvida se deveria ou não acordar Júlia, depois de alguns minutosolhando-as dormir preferiu deixar que ambas descansarem.Antes de sair deixou um bilhete em cima da bancada explicando que havia idoandando para escola, e se demorasse muito para sair não precisaria se preocupar.Finalmente estava em frente a porta, preparando-se para sair e ouviu o som de umcarro, pensou ser o vizinho saindo para trabalhar, deixou a casa sem medo. Mas estavaenganada!- Bom dia! - falou rápido e andava tão rápido quanto.- Estere - caminhou até Cecília - onde você vai?- Para a escola! - virou-se e voltou a andar.- Não quer que eu te leve?- Se eu dissesse "sim" me levaria mesmo para a escola? - estava irritada - me fazum favor, se quer mesmo ser um bom pai, entre, tome um banho e um café bemforte para tirar esse bafo de álcool e leve Júlia para a escola, mas só para aescola!Quando terminou de falar virou-se e saiu, não queria mais vê-lo ou ouvir sua voz,mas Diego continuava gritando para que voltasse, ignorou-o e caminhou algunsquarteirões e então parou para respirar . Seus olhos estavam lacrimejando, não queriaque seu pai a visse chorando, precisava sair!Quando seu fôlego voltou e sua mente ficou mais clara e calma, pegou seus fones evoltou a caminhar, precisava de música para que não pensasse em nada que a lembrasseprincipalmente seu irmão, pois mesmo não querendo admitir para si mesma uma parteainda se culpava.Mesmo não querendo fazer o que Cecília lhe pediu, sabia que ela tinha razão e teriaque entrar com a esperança de que Maria não o visse dessa forma.Entrou em passo sorrateiros tentando não fazer qualquer barulho, quando viu todasas luzes apagadas respirou fundo e sorriu como um agradecimento por não ter ninguémacordado, caminhava se segurando na bancada da cozinha para não cair, caminhoulentamente até o banheiro, pensou em usar o do seu quarto, mas não podia arriscaracordar sua esposa.Depois de um banho e uma xícara de café bem forte e um perfume para disfarçar ocheiro que não saiu achou melhor acordar Júlia para que se arrumasse.Antes de entrar na escola Cecília parou em frente a lanchonete, questionava-seperguntando se deveria entrar e também se veria Ynessa novamente, mas não poderiamatar aula dois dias seguidos , mesmo que a sua avó tenha conversado com a diretora eseus professores, então não levou falta, mas era melhor não arriscar. Achou melhorestar na sala de aula, mesmo que não quisesse.As horas pareciam não passar para Cecília, pois passou a manhã trancada em umasala com pessoas que mal sabiam da sua existência e também não ligavam para ela.Nos breves momentos que tinha, olhava pela janela buscando lembrar de bonsmomentos, para se esquecer onde estava.Quando Maria acordou foi acordar Cecília, mas quando não a viu entrou em pânico,andava de um lado para o outro da casa atrás de sua filha, Júlia e Diego tomavam ocafé tranquilamente para saírem.- O que está procurando, querida? - mastigava um pão com manteiga.- Cecília! - Estava angustiada.- Ela já foi! - Continuava a tomar o seu café da manhã.- Explique! - disse exaltada - o que disse á ela Diego?- Nada! quando cheguei... - parou de falar.- Chegou? ela não passou a noite em casa? - sua preocupação aumentou.- Ela foi andando para a escola! - é tudo o que sei.Após ouvir esta frase ficou furiosa com Diego, mas não queria discutir na frente deJúlia, mas apenas com seu olhar era possível saber que estava bastante irritada com ele.Por muito pouco Júlia não chegou atrasada na escola, pois Diego sempre fazia umcaminho diferente, faltavam apenas alguns minutos para os portões se fecharem, foientão que acelerou e então chegou na escola para deixá-la a tempo.Diego deveria voltar para casa para conversar com Maria, mas não sabia onde issolevaria, pois estava com medo de que isso significasse o fim de seu casamento. Por medocontinuou dando voltas sem saber aonde chegaria, muito menos para onde deveria ir.Após alguns minutos passou por um bar enquanto dirigia e o seu único reflexo foiparar nele. Entrou, sentou-se e pediu uma cerveja, o atendente tentava puxar papo,mas Diego apenas olhava fixamente para o copo; o atendente achou isso muitoestranho, mas não o bastante para se importar ou fazer algo, apenas o deixou sozinho.36Diego passou aproximadamente cinco minutos observando o copo cheio de cerveja nasua frente, mas ao invés de beber, pegou sua carteira e colocou o dinheiro ao lado docopo, levantou-se, guardou a carteira e saiu sem olhar para trás. Decidiu enfrentarMaria e o que ela quisesse lhe dizer.Cecília agradeceu por finalmente ser a última aula do dia, não aguentava mais estarpresas aquelas paredes, mas não queria esperar o sinal tocar, aproveitou que aprofessora já havia feito a chamada, pediu para ir ao banheiro, pegou suas coisas esaiu! precisava ir à lanchonete, atravessou a rua correndo por muito pouco a moto nãoa atropelou, mas Cecília é esperta demais para deixar isso acontecer. Entrourapidamente, olhou de um lado para o outro procurando onde deveria se sentar.Finalmente soube o lugar certo.- Passei a noite toda pensando no que me disse!- Então quer dizer que pensou em mim? - sorriu.- Não foi isso o que eu disse! - parecia constrangida.- Mas também não negou! - não conseguia esconder a malícia em seu sorriso e seuolhar.- Gosta de fazer isso? - não escondia a irritação em sua voz.- De dizer a verdade antes de você? - sorriu - na verdade gosto bastante - voltoua olhar para seus papéis.- Como faz isso? - estava intrigada, mas também furiosa.- Apenas deixo o meu instinto me dizer o que fazer - tomou um gole de suco-deveria tentar, é divertido, apenas faça!Sem responder e simplesmente seguimento o seu instinto como Ynessa lhe falou,pegou uma de suas batatas fritas e mastigou lentamente.- É você aprende rápido! - Estava orgulhosa, mas acima de tudo estava gostandodo que via.Cecília sorriu e deu uma leve piscada como resposta.- Mas para ser franca - olhou para todo o estabelecimento - acho que vocêtambém pensou em mim! - devolveu o sorriso malicioso.- Quem sabe! - piscou!Cecília queria ficar mais, mas não podia, precisava voltar para casa, mas antes desair, pegou uma das folhas que estavam em cima da mesa e tomou o lápis da mão dela,rapidamente escreveu o número de seu celular e saiu sem dizer nada.Não sabia se deveria buscar Júlia, voltar para casa ou simplesmente esperar sua mãeaparecer. Estava parada em frente a porta e seu celular tocou.- Aló! - parecia perdida.- Pode voltar e sentar comigo, não precisava fazer essa saída dramática.- Não pensei que ligaria tão rápido!- Na verdade eu não ia, mas te vi parada na porta e me deu vontade!Enquanto se divertia falando com Ynessa olhava para ver se passava algum carroque conhecia. Mesmo que quisesse voltar não poderia, pois reparou que o carro de seupai estava parado ao lado da escola, atravessou, mas antes de entrar desligou a ligação.- Não sabia se deveria vim te buscar.- Eu não sabia se viria!Abriu a porta do banco de trás, sentou-se e não disse mais nada.Diego foi buscar Júlia que ficou muito feliz ao vê-lo, principalmente por não querervoltar andando para casa, não que não tivesse gostado de passar um tempo comCecília, mas seu dia hoje foi cansativo por causa da educação física, não conseguiriavoltar andando.Júlia não parava de falar de como foi o seu dia na escola durante a volta pra casa,Cecília não largava o celular, pois salvou o contato de Ynessa e passaram a conversarpor mensagens, sorria enquanto lia e digitava.A volta pra casa pela primeira vez em anos passou rápido, quando deu por si seu paijá estava estacionando em frente de casa. Entrou em casa, mas mesmo assim nãodeixou seu celular fora de vista.Sua mãe já estava terminando o almoço, foram rapidamente se trocar para ajudar aterminar de arrumar a mesa para almoçarem.Durante o almoço Cecília não disse uma única palavra, o que deixou Maria umpouco preocupada a mais do que de costume, mas ao mesmo tempo que a suapreocupação aumentava, também ficava um pouco mais tranquila por vê-la sorrindoum pouco, mesmo que para uma tela de celular.A semana passou mais depressa do que de costume para Cecília, pois finalmente seusdias já não eram mais todos iguais. Por causa de Ynessa, Cecília passou a cabular cadavez mais as aulas, inicialmente faltava apenas um dia por semana, mas semprerevisava os dias da semana, agora perdia dois dias inteiros de aula e às vezes nãochegava a tempo para a primeira ou saía antes da última aula acabar.Ynessa não se sentia tão bem com a companhia de alguém a muito tempo e Cecíliaestava experimentando algo novo, algo que nunca sentiu antes, mesmo com um poucode medo e um frio imenso na barriga não iria estragar isso.Sempre se encontravam na lanchonete, sempre na mesma mesa em que se conheceram,Cecília não queria parecer uma intrusa sempre perguntando as coisas, mas sempre via amesa cheia de papéis que pareciam estar em branco e isso a deixava curiosa.- Posso perguntar uma coisa? - estava receosa - não quero me intrometer nas suascoisas, mas...- Tudo bem, pode perguntar - já imaginava qual seria a pergunta - vai ficarchateada se eu não responder?- Tem todo o direito!- Então pergunte!- O que - parou um momento - o que são esses papéis e porque estão em branco?- Estes papéis são para o meu projeto pessoal...- Tudo bem, me contento com isso! - não queria essa resposta, mas aceitou amesma de sempre.Ynessa começou a mexer em seus papéis jogados na mesa.- Por favor - colocou sua mão em cima dos papéis - não vá!Ynessa se levantou e sentou ao lado de Cecília.- Me dê sua mão! - a olhava nos olhos.Não sabia o que iria acontecer, mas não deixou o medo falar mais alto.- Eu não vou embora!Cecília respirou aliviada!- Este é o meu projeto! - entregou um papel que estava dobrado em seu bolso.- Sangue verde! - o que é isso? uma árvore?- Que bom que se parece com uma árvore! - riu - este é o frasco de um esmalte queestou criando, desenvolvendo na verdade, quando estava na escola tivemos queassistir um documentário e depois escrever um trabalho sobre ele, a professorasorteou alguns temas e o meu foi crueldade com animais, depois daqueletrabalho não fui mais a mesma...Cecília não sabia como deveria reagir, sem pensar a abraçou com força!Ynessa se deixou levar pelo abraço, quando se afastaram lentamente Ynessa colocouuma de suas mãos no rosto de Cecília e sem pensar a beijou.- Me desculpe! - Ynessa se afastou.- Aonde vai? não precisa se desculpar.

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