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Eu nunca fui do tipo que sorri. Ando de cara amarrada, tento passar despercebido, odeio ter as atenções voltadas para mim E é exatamente isso o que está acontecendo. Me sinto uma obra de arte em exposição. Eles me analisam, me olham diretamente desde o momento em que entrei pela porta. Me sinto despido, constrangido e eles não parecem se importar. Devem estar acostumados.

A sala é branca, teto alto e o espaço é amplo. Fico de pé a alguns metros de suas mesas. Digo meu nome em voz alta e trêmula. Tento conter meu nervosismo, preciso dar o meu melhor agora.

Eles são três idosos, sentados atrás de uma mesa cada um. No lado esquerdo um senhor grisalho e calvo, usando branco. Julgo suas roupas, mais parecem uma camisola que minha avó usava. Ele tem um olhar gentil, diferente da outra do lado direito. Cabelos grisalhos cortados a altura do ombro e olhos claros e intensos. Rígida e de postura adequada, ela usa um vestido verde escuro. A do meio também grisalha é um pouco corcunda, os cabelos presos em um coque no topo da cabeça, parece a mais velha dentre Eles, tão magra e frágil. Vestida de rosa e cheia de adornos cintilantes ela me olha seria e intensamente. Sinto os olhos deles analisando o interior, a minha alma e o desconforto é inevitável. Quero sair correndo dali.

Quase cinco minutos se passam e ninguém fala nada, não sei se devo começar, se esperam algo de mim.
Eu espero suas perguntas, seus testes, seu julgamento.

Decido falar, acho que é o que querem, mas a mão da senhora de rosa se levanta me fazendo conter as palavras na boca.

- Sua ficha diz que quer ser uma águia. - Diz olhando para o papel.

Assunto para sua afirmação.
Me sinto desconfortável naquelas roupas finas. Uma calça e camisa cinza que distribuíram para todos os que fariam o teste hoje. Imagino ser um uniforme, ou um protocolo.

- Não é o que vemos em você. - Ela conclui sua fala.

Meu coração acelera. Fico imediatamente zangado. Isso faz parte do teste? O que querem que eu responda? Devo implorar? Devo provar-lhes o contrário.

- Me perguntem qualquer coisa - Digo - Eu lhes provo que posso ser uma águia.

O velho ri e a de azul permanece rígida.

- Não. - diz a de rosa - não é o que vemos em você.

- Mas... vocês não me testaram.

- Não precisamos. - A voz da de azul é mais aguda do que da outra.

- É muito claro o que vemos em você. - conclui o velho.

Frango o senhor. É impossível que já tenham decido. Sinto o chão desaparecendo debaixo dos meus pé descalços. Meu coração pulsa como nunca. Meu punho serra. Fico cada vez mais zangado. Quero xinga-los.

- Mas vocês não me julgaram. Não podem...

- Julgamos você desde o primeiro momento, quando entrou pela porta. Seu rosto, seus olhos, seu sorriso, sua voz, o movimento que faz quando anda. Sua postura. - A de rosa interrompe. - Não precisamos testar seus conhecimentos, nem suas habilidades quando nos é claro a classe que você pertence. Não nobre, tão belo.

Dou dois passos a frente pronto para protestar, quando a porta se abre e entra um guarda preparado para me deter, caso eu me torne agressivo.

Os três se levantam, são bem mais baixos do que eu imaginei, frágeis e velhos. Eles estão prontos para me anuncia a classe. Não estou feliz. Não serei uma águia. Tantos anos treinando, tanto esforço para que não fizessem uma pergunta se quer. Para me olharem e dizerem que sou bonito e elegante. Minha alma teme pelo que diram a seguir. Apenas uma classe é escolhida pela aparência.

- Quando você entrou aqui - a velha do meio começou - o bater de asas que ouvimos não era feroz como o das águias.

- Foi delicado, o bater de asas de um passaro de tamanha beleza. - O velho deu seguimento.

E a última, a velha a direita concluiu o julgamento.

- Está decidido. - Disse rígida. - Você é um beija flor.

A Sociedade dos Passaros IOnde histórias criam vida. Descubra agora