Prólogo

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A cor vermelha sempre é eletrizante.

Esmagada daquela forma, o tom avermelhado e tonificado parecia purificar o chão branco, que há poucos estantes, estava brilhante. Agora, ele se comparava ao escarlate resplandecedor da aurora em que o dia terminava. Era de tamanho impacto observá-lo — perceber sua cor espalhando pelo chão costumável da cozinha, quase tocando os pequenos dedos nus e indefesos dos dois pezinhos descalços no chão, que pertenciam a quem o observava. Já o restante do vermelho, estava concentrado no delicado corpo destracerado no chão, roxeado pelas intensas pancadas que aparentava ter levado. Mas, mesmo com hematomas para todos os lados, a aparência parecia estar normal. Parecia estar machucada, mas não morta, pois a morte era uma situação muito forte para um garotinho com apenas aquele minúsculo tamanho enfrentar. Talvez, fosse forte o suficiente, ainda mais sendo feita daquela forma horripilante, para qualquer um enfrentar. Portanto, já estava feito, e não restara mais nada a fazer, senão aceita-lá. Brutal, certo? Porém, era a realidade, por mais que a cabeça do garoto não funcionasse daquela forma. " Mamãe está dormindo", era o que sua mente cantarolava baixinho, na tentativa de aceitar e se convencer de que estava tudo bem, mesmo que não estivesse. Demorou para ele se arrastar para a sala, e pegar o telefone, discar para a polícia e proferir as palavras "minha mãe está morta na cozinha", sem que seus pensamentos não o fizessem se afogar no sangue da propia mãe.  Rapidamente  pessoas estranhas chegaram, e logo após isso, o corpo foi levado para outro lugar desconhecido, e a casa isolada. E em consequências, o garotinho seria mandado para um orfanato, pois sem pais, família ou amigos, ninguém restaria para acolhe-lo além do lugar que seria motivo de seus traumas futuros. E sua mãe, seria enterrada com a reputação de prostituta drogada, que morreu porque ao invés de vender as drogas que havia arrumado, as usou e não teve dinheiro para as pagar, pois já tinha o gastado todo com outros tipos de drogas, naquela cidade imunda e abandonada, sem que tivesse ao menos a oportunidade e vontade de retratar o quão batalhou para sustentar seu filho sozinha, e o quão isso só a destruiu mais.  E no fim, essa memória seria só mais uma vaga na cabeça do garoto, agora um homem, que quando menor, deitou-se sobre o corpo encharcado da mãe e gritou que um dia, talvez distante, não deixaria que a falta de dinheiro causasse sua própria morte, assim como causou a dela.



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