Capítulo 16

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Pov Maraisa

Depois de uma noite tranquila, acordo antes da Maiara e faço carinho em seus cabelos macios. 

Mara: irmãzinha, é hora de acordar...

Mai: só mais cinco minutos...

Mara: minha vida, já é de manhã...

Depois de muita insistência, convenço minha metade a descer e tomar café. Estamos conversando quando um barulho de carro ecoa pela casa. 

Mai: Cesar Filho vindo pra cá a essa hora? 

Mara: ele deve tá preocupado com a gente, irmã.

Nosso irmão entra e nos abraça. Olho pra trás e vejo nossa mãe, aparentemente nervosa.

Mara: o que ela tá fazendo aqui? 

Alm: filha, por favor, eu só...

Mai: não! Não diga nada, vá embora!

Alm: mas eu só quero conversar...

Mara: não temos nada pra falar com você, pode ir embora? 

Alm: filha...

Mara: Não piora as coisas! 

Ela abaixa a cabeça e caminha até a porta. Cesar Filho se aproxima de nós com uma cara incrédula. 

Cesar F: que merda foi essa? 

Mai: não começa! - minha irmã diz bebericando seu café - 

Cesar F: a mamãe só quer se explicar! Tentem entender! Imagina vocês, grávidas de gêmeas e sem o apoio de ninguém? 

Mai: pra você é fácil falar, foi planejado, desejado e amado desde o início.

Cesar F: eu sei que estão machucadas emocionalmente e se sentindo rejeitadas, mas deem uma chance pra nossa mãe...

Mara: chega, rabinha. Não queremos mais falar disso. - digo colocando minha xícara na pia - 

Ele não insiste e vai embora. Eu e Mai começamos a arrumar a cozinha em silêncio, até ela quebrar o mesmo. 

Mai: cê acha que a gente foi dura demais com ela? 

Mara: um pouquinho, talvez...a consciência tá pesando...

Mai: a gente deveria dar uma chance, ela criou a gente né...

Mara: cê tem razão, querendo ou não, ela cuidou da gente...

Ligo pro Cesar Filho e, depois de tirar sarro da nossa cara, ele traz a mamãe aqui pra fazenda. Eu e Mai, ainda de pijamas, sentamos no sofá. 

Alm: agora estão dispostas a me ouvir? 

Mara: sim, é hora de resolvermos tudo. 

Ela respira fundo e senta na poltrona. Seguro a mão da minha metade e nós duas nos preparamos pra ouvir tudo. 

Alm: eu entendo que estão machucadas e se sentindo rejeitadas, não julgo vocês por isso. Eu realmente pensei em aborto e adoção, não vou mentir. Mas não por que eu não amava vocês ou não queria vocês duas, eu só tava sozinha e com medo, lidando com uma responsabilidade que eu não tinha sido preparada pra receber. Eu desisti da ideia do aborto por que era algo absurdo demais e não queria carregar o peso da culpa, estaria sendo egoísta demais se continuasse com aquilo em mente. E sim, a ideia da adoção ficou na minha cabeça até o nascimento de vocês. Eu pensava que seria o melhor pra vocês, que iriam encontrar uma família melhor e que pudesse cuidar de vocês da maneira que eu não conseguiria e nem sabia como. 

Mara: e por que desistiu? 

Alm: eu não tive coragem. Vocês duas não tinham culpa de nada, eu não poderia descartar vocês como se fossem objetos. Então, decidi assumir minha responsabilidade como mãe, quando eu nem sabia o que era ser uma. 

Mai: e como soube o que era ser uma mãe? 

Alm: eu fui aprendendo com vocês...

Eu e minha irmã sorrimos levemente e perdoamos nossa mãe. As horas se passam e mamãe está na cozinha fazendo chambari pra gente. O cheiro da comida dela me trás lembranças da infância em Juruena, a melhor época da minha vida. 

Flashback on...

Alm: meninas, o almoço tá pronto! 

Mai: é chambari, metade! Olha! 

Mara: eba! 

Nos sentamos e começamos a comer. 

Mai: o papai não vem almoçar com a gente? 

Mara: ele não vem, mamãe? 

Alm: não, minha princesa. Eu e seu pai brigamos de novo e ele viajou...

Mai: tudo bem... 

Alm: não precisa ficar triste, filha. Mamãe conseguiu uma folga do trabalho e nós três vamos passear! 

Mara: eba! A gente pode ir na loja de brinquedos? 

Mai: é! E depois no parquinho! 

Alm: nós vamos aonde vocês quiserem! 

Flashback off..

Desperto de meus pensamentos com a Mai me chamando. 

Mai: metade, o almoço tá pronto! Vem logo! 

Mara: tô indo! 

Nós corremos pra cozinha e almoçamos. Alguns minutos se passaram e fomos descansar no quarto. Abro as janelas pra entrar mais sol e deito, com a cabeça no colo da mamãe. A Mai faz o mesmo e nós duas sorrimos com o cafuné. 

Mara: isso é tão bom...

Mai: dá até um soninho...

Alm: podem dormir, minhas pequenas...

Pov Almira

Minhas meninas adormecem e continuo fazendo cafuné, até que ouço alguém abrindo a porta do quarto. Olhando para a mesma, vejo a única pessoa que não deveria estar aqui. Hoje definitivamente é o dia de resolver problemas de família.

Alm: se veio aqui procurando discução, perdeu seu tempo. 

Marco: eu vim ver as meninas. E pelo que estou vendo, as coisas estão ótimas. 

Alm: estão sim. Eu consegui reconquistar o amor das minhas filhas e estamos muito bem, como pode ver, agora pode ir embora. Preciso cuidar das minhas filhas.

Marco: são minhas também, eu sou o pai! Eu que gastei todo o meu dinheiro com elas por anos!

Alm: em primeiro lugar,  você nunca foi um pai de verdade pra elas e em segundo lugar, não te obriguei a nada, você gastou o seu dinheiro com as minhas filhas por que quis, o que elas mais precisavam era do amor e atenção do pai, e isso dinheiro nenhum compra. 

Marco: você já sabe o meu argumento.

Alm: e agradeço muito por nunca ter dado ouvidos. Agora vá, não acorde as MINHAS meninas. 











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