Parte 1

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O sol estava se pondo, o dia dando entrada para a noite e a mãe que perdeu a filha, ainda se encontrava na mesma cadeira que sentara de manhã, ao lado do caixão fechado da filha. As pessoas paravam e a cumprimentavam, mas as palavras nem sequer eram ouvidas. Ao seu redor, onde parentes e amigos da família estavam, pareciam mais vultos do que outra coisa.

Catarina Ramirez fora encontrada irreconhecível em uma madrugada, as autoridades acham que ela foi atropelada e arrastada por um ônibus por quase 3 quarteirões, mas ninguém viu o ocorrido, então por falta de provas e testemunhas, o caso foi deixado de lado e a morte da jovem, dada como acidente.

De volta em sua humilde casa, Sara Ramirez, foi direto para o quarto de Catarina e em posição fetal deitou-se na cama que era da filha, sentiu o cheiro dela ali, o aroma doce de seu creme que passava todas as noites antes de dormir e o perfume que pedia para a mãe desde que havia “se tornado uma moça”, aos 14 anos.

Ela passou algumas horas deitada ali, sentindo que sua filha ainda estava perto, sentindo que sua menininha estava no curso e logo chegaria em casa. Mas a realidade é crua e espancou-a. Então quando se levantou e olhou para as roupas pretas que usava, quando se olhou no espelho e viu como estava pálida e seus olhos inchados, como nem havia prendido seu cabelo direito, mas o que partia o seu coração era a falta do brilho nos olhos da mulher que um dia fora tão alegre e realizada.

Sara olhou em volta e seus olhos pararam na mesa de estudos, onde ficava o notebook da filha. Um conflito se infiltrou dentro dela, ela sabia que a filha estava morta, mas a sensação de violar a privacidade de Cat a deixava angustiada. Mesmo assim, ela se aproximou e ligou-o, mas é claro que havia uma senha para acessá-lo.

Além disso, seus pensamentos estavam desorganizados, estava tão turbulenta a própria mente que não conseguia pensar se a filha havia comentado sobre a senha ou se a mulher havia visto em algum lugar. Frustrada, Sara pôs a cabeça nas mãos e respirou fundo, tentando acalmar o furacão em sua mente.

Se acalmando e aliviando a bagunça de seus pensamentos, a mulher tentou uma senha que deu erro, mas uma dica apareceu: "Sonho profissional”, a mãe então digitou o país em que a filha almejava tanto desfilar e viver, e a tela se abriu. Sara torcia para não encontrar nada, mas ao mesmo tempo ansiava para haver uma pista.
Seu primeiro instinto foi abrir o google e ir no whatsapp que a filha sempre deixava aberto, mas não havia nenhum contato estranho. Sara conhecia todas as amizades de Cat, pois fazia questão de saber quem eram suas companhias.

A mulher não negava que, às vezes, era protetora demais com Catarina, e sabia que ela não gostava desse seu lado. No entanto, Sara não se sentia mal por querer cuidar da filha, pois mesmo com tanto cuidado, sua filha ainda sim, apareceu morta.
Claramente, a primeira conversa que Sara abriu foi da melhor amiga de Cat, Lorena Alves. Sua filha sempre dizia que o que as tornava inseparáveis era o amor e o sonho pela mesma coisa, a passarela.

A primeira coisa que a mãe viu, foi um aúdio mandado pela filha, o que fez seu coração se contorcer dentro do peito, assim como seus olhos queimarem com as lágrimas que escorreram por suas bochechas, e mesmo com a dor a espancando, sua alma desejava ouvir a voz de sua menininha. E quando se deu conta, ouvia a risada fraca dela, e as palavras de um sonho agora esquecido. Ela se torturava com o áudio várias e várias vezes, até que não havia mais espaço para a dor, logo a raiva a tomou por completo. Sara, fechou o notebook violentamente e com a vista embaçada foi até a cozinha pegar um copo d’água, mas ela não queria água, ela queria justiça, queria a filha dela de volta, queria matar quem a tirou dela, mesmo que por um acidente. Então, a mulher jogou o copo no chão e tudo o que havia em cima do balcão, fazendo copos e pratos se partirem no chão e o barulho dos talheres ecoarem pela casa.

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