Capítulo 1 - Bibliotecário Real

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   E lá estava ele, mais uma noite em claro, deitado sobre sua cama macia, coberto pelo cobertor que ali estava, para poder sentir algum conforto, mesmo que não estivesse sentindo frio algum.

   Estava a procura de respostas, sobre algo que nem ele mesmo sabia, com as janelas abertas e cortinas balançando com o pouco de vento que ali batia.

   A luz do luar entrava pela fresta da cortina, invadindo aquele quarto escuro e vazio. luz na qual lhe trazia mais conforto do que a luz do dia.

    Estava inquieto, em devaneios enquanto observava as cortinas balançando ao vento, sem nenhum sono.

   Pensava sobre tudo que lhe vinha a cabeça. A coroa que pesava quando a usava; com certeza queria poder usar uma nova, que não pesasse tanto em sua cabeça.

   Sua família que havia o deixado sozinho a tempos, juntando poeira naquele trono ridículo, que só prestava para causar impressões.

   Os corredores escuros, que lhe deixava em devaneios enquanto passava por eles, por mais que o escuro o deixasse mais seguro e confortável com sigo mesmo.

    Mas principalmente o vazio que lhe vinha toda maldita hora, a cada minuto que passava.

   Nunca havia encontrado algo ou alguém que pudesse preencher este vazio, apenas sua mãe quando era mais novo, mas durou pouco tempo pois um infortúnio lhe ocorreu, fazendo com que aquele vazio antes preenchido fosse aberto novamente, como uma semente que cada dia que passa cresce mais e mais ainda, apenas abrindo um buraco que cada vez mais cresce dentro de si mesmo, lhe deixando sem esperanças de que algum dia possa preencher isso tudo.

   Podia ouvir seu bocejo ecoar sobre o quarto silencioso. Estava começando a ficar com sono, mas ainda não queria ir dormir.

   Na madrugada podia ser ele mesmo, sem ser julgado ou encarado por ninguém, longe de todas aquelas pessoas que viviam em cima dele aguardando ordens ou aprovação.

   Era ele mesmo, em meio aquele silêncio, apenas ele e seus pensamentos.

   Não precisava usar aquela maldita máscara - a qual utilizava para esconder metade de seu rosto, deixando apenas sua boca e metade de sua bochecha direita expostas. - para poder esconder seu rosto, que em sua visão era falho e repugnante.

   Fitava a janela quando decidiu se render ao sono, então se pos a dormir, desejando que aquela fosse sua última noite, pois não aguentava mais outro dia monótono novamente.

[...]

   Estava sentado em seu trono como sempre, encarando aquele salão vazio, apenas com quadros de sua família - nos quais seu rosto estava rasgado em cada um deles. - pendurados sobre as paredes brancas.

   Aquele salão não lhe trazia nada além de péssimas lembranças de seu passado, lembranças nas quais o perseguiam todo santo dia.

   Estava perdido em seus devaneios, quando escutou seu nome sendo chamado por alguém, então despertou de seu transe.

— Majestade? — A garota de cabelos pretos o chamava, parecia o estar chamando a um bom tempo pela sua expressão de confusa.

— Sim, estou ouvindo, apenas diga de uma vez. — Respondeu grosseiramente.

   Odiava ter que ficar dialogando com os servos do Castelo, ainda mais se fosse sobre coisas fúteis, nas quais ele já tinha total entendimento.

— Um garoto está aqui lhe aguardando, disse que foi chamado para ser contratado como novo bibliotecário real. — Parecia tensa pela sua postura forçada. Estava mais imóvel do que uma pedra.

Memórias De Um Passado Não Tão DistanteOnde histórias criam vida. Descubra agora