Capítulo 3

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Heloísa estava sem jeito, não se sentia confortável na presença da mulher. Não que ela fizesse alguma coisa de fato para deixá-la assim, nem sabia do amor que o ex-noivo dizia ter por ela. Mas uma vozinha interna desejava que soubesse...

- Como está o lanche? Gostou, querido? - tentou se distrair com Pedrinho.

- Gostei sim! - respondeu de boca cheia e sorrindo, parecia faminto.

- Ainda bem! Manuela ficaria triste se não gostasse - deu uma gargalhada olhando a cena - E pode me chamar apenas de Heloísa, vocês todos - virou-se para incluir Anastácia - Não precisam de tanta formalidade.

A sala voltou ao silêncio mortal novamente, apenas sendo quebrado instantes depois, quando Leônidas e seu pai retornam antes do esperado, o que fez Anastácia e Heloísa levantarem-se rapidamente:

- Já conversaram? Não tivemos tempo de ir até vocês... - Anastácia proferiu.

- Vim chamar...meu irmão...para dar uma volta comigo pelo jardim, conhecer a casa - aproximou-se do menor, ajoelhando-se - Quer vir comigo? As flores daqui são muito bonitas e tem até um lago para vermos - sorriu e recebeu um aceno contido do menino, depois que este olhou para a mãe, como se pedisse permissão.

- Pode ir filho, vai ser divertido. Nós vamos acompanhar vocês, pode ficar tranquilo. - depositou um beijo nos cabelos da criança

- Eu já falei o que tinha para falar, vou esperar o passeio de vocês por aqui, se não se importar, é claro - olhou para Heloísa esperando uma resposta.

- Sim, claro, fique à vontade. Eu faço companhia para o senhor enquanto isso - sentou-se e esperou os outros três saírem, mas em vez disso, Leônidas, que ainda estava na frente do irmão, levantou-se e se aproximou dela.

- Meu pai não vai ligar se vier conosco, minha rosa - Bartolomeu e Anastácia viraram-se assustados para o casal ao ouvir o apelido carinhoso, deixando Heloísa envergonhada  - e eu ficaria mais que grato pela companhia. Por favor. - apertou a mão que descansava no colo.

Naquele momento Heloísa travava uma  batalha interna. Leônidas veio lhe pedir de maneira tão suplicante por sua presença, em um momento tão íntimo da família. Não queria aceitar, mas ele ainda parecia tão vulnerável com situação toda, não podia abandoná-lo assim, não com tudo que tem feito por ela.

Bartolomeu observou a pequena troca silencioso. Uma singela chama de esperança se acendeu. Seu filho parecia ter essa mulher na mais alta estima, caso contrário, não faria um pedido desses. Quem sabe ele não consiga seguir enfrente agora que parece estar amando novamente:

- É claro que não me incomodo, ficarei bem aqui! Além disso, preciso descansar um pouco, a viagem foi longa.

Anastácia dividia a mesma opinião do marido. A  relação do casal a sua frente com certeza não era apenas de patroa/empregado ou simples amigos, algo mais faiscava ali. Ficou intrigada e ao mesmo tempo aliviada que Leônidas estivesse gostando de alguém novamente.

- Sendo assim, vamos ao jardim então! - Levantou-se com ajuda de Leônidas e viu este deixar seu lado para acompanhar Pedrinho pelo caminho da escada, deixando ela com Anastácia.

Os quatro desceram juntos. Pedrinho ficou admirado com todas as flores que via pela frente, apontando cada uma que lhe parecia diferente e fazendo perguntas para o irmão. Leônidas estava mais leve agora, respondia sorrindo e guiava o pequeno pelo espaço.

As mulheres andavam logo atrás, observando a interação sem falar nada, quando o menino parou bruscamente e correu até a mãe:

- Mãe, mãe, vem cá, rápido! Tem uma coisa aqui nessa flor, vem ver, vem ver. Acho que é um inseto, mas nunca vi esse antes - segurou a barra do vestido e começou a puxá-la. 

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