Mamãe havia falecido há cerca de um ano. Para ser mais exata, nessa sexta feira completaria doze meses. Ela estava muito doente quando partiu, e eu não pude fazer nada, apenas assisti-la ir embora. Gosto de pensar que existe um lugar, lá no céu, para pessoas boas irem quando terminam sua missão aqui na terra. Meu pai, Hopper, não acredita nisso, mas finge que sim, para que eu me sinta melhor.
Nos primeiros três meses, eu não saí do meu quarto para absolutamente nada. Papai também não saia de casa, ficou afastado do trabalho e se afundou nas bebidas. Quando nos demos conta de que não dava mais para continuarmos daquele jeito lastimável, conversamos e decidimos nos reerguer juntos. Foi difícil, é difícil, mas estamos nessa constante batalha com nossos demônios internos, lidando com o luto pouco a pouco.
Ele voltou a trabalhar depois dos três meses, parece, inclusive, que decidiu focar toda a sua atenção ao trabalho. Às vezes me sinto sozinha por conta disso, mas prefiro não falar nada, não quero que ele se afaste do serviço de novo. Se trabalhar vem lhe fazendo bem, então eu espero que isso funcione para ele, sabe, esquecer os problemas.No meu caso, o colégio foi complicado no começo após a morte da mamãe. Eu chorava todos os dias no banheiro, encolhida em alguma das cabines, ao lado da privada. Cheguei a pensar em desistir, simplesmente deixar de viver... Mas não, Hopper não merecia passar por mais um luto, mais uma perda. Então eu engoli o choro e vesti uma máscara social, na medida do possível, claro.
O que fiz então, foi me dedicar um pouco mais aos estudos, sair para alguns lugares frequentemente, e me esforçar para fazer o lance com Mike Wheeler funcionar.Ele é legal, e disse que sempre reparou em mim, mas tinha vergonha de puxar assunto. Um certo dia, Mike e eu esbarramos no corredor, e aí foi o suficiente para que eu pedisse seu número de telefone e começássemos a trocar mensagens. Eu só precisava de uma distração, um modo para lidar com meus problemas. Entretanto, Mike acabou de tornando muito mais que isso. Ele não era somente uma distração para mim, não mais. E cá estamos nós hoje, com cinco meses de namoro.
Os amigos de Mike ficaram enciumados no começo, então tivemos que estipular um tempo para que ele passasse com os amigos. Então, quando eu não tinha nada para fazer e também não podia ter a companhia de Mike, eu saía com a irmã de um de seus amigos, a Érica. Ela sempre levava mais uma ou duas colegas.
Em geral, minha vida estava entediante e monótona, nada acontecia. Era sempre a mesma coisa, e aquilo já estava me desgastando. Levantar cedo, ir para o colégio, sorrir e acenar para fingir estar bem, voltar para a casa, estudar, fazer minha janta e comer sozinha, pois Hopper voltava tarde da noite. Aos finais de semana, ou eu me encontrava com o meu namorado na minha casa, ou eu ia para alguma festinha com Érica. Hopper só deixava eu ir nas festas se eu desse a certeza de que Mike não iria. Ele só deixava eu me encontrar com Mike em casa, na companhia dele. Papai era ciumento e um pé no saco às vezes, mas sempre o amei.
Vesti a farda escolar e coloquei também um casaquinho xadrez. Escovei meu cabelo, o deixando bonito até onde dava, e comi alguns waffles antes de sair de casa. Hopper me deixou na porta do colégio, me desejando uma boa aula. Eu o abracei e desejei a ele, um bom serviço.
Mike estava no terceiro colegial A, enquanto eu estava no B, então só nos viamos no intervalo e na hora de ir embora. Às vezes na entrada também, mas era raro, já que ele sempre chegava um pouquinho atrasado.Dustin sorriu e acenou para mim quando cruzamos no corredor. Eu o cumprimentei e perguntei se Mike já havia chego, mas a resposta foi óbvia, não.
Assisti às primeiras aulas, tentando focar e fazer o máximo de anotações que consegui. Matemática e física eram meus pontos fortes nas matérias, então eu gostava quando o professor careca e baixinho chegava e começava a anotar aqueles números no quadro.Assim que o sinal para o intervalo tocou, Mike já estava me esperando em frente à porta. Ele mantinha um sorriso doce nos lábios, e ao seu lado estava Will, seu melhor amigo.
— Bom dia. — falei, selando seus lábios rapidamente. — Tudo bem?
— Sim. — Mike respondeu, entrelaçando nossas mãos enquanto começavamos a andar pelos corredores. Will vinha logo atrás, precisando acelerar os passos para conseguir nos acompanhar. — Amanhã vai ter uma festa de um amigo do Lucas, você quer ir?
Amanhã era sexta. Sexta era o dia do aniversário de morte da mamãe. Mordi o lábio inferior com força, afastando os pensamentos negativos. Talvez passear fosse uma boa ideia. Distrair a cabeça.
— Quero — sorri, selando seus lábios mais uma vez. — Sua mãe me busca?
— Claro — ele disse, indo até a fila de estudantes na cantina, para pegar um copo de suco. — Quer suco também?
Neguei com a cabeça, me afastando devagar.
— Vou esperar vocês dois naquele banco perto da quadra, como sempre. — falei, observando Mike e Will assentirem.
Me sentei na pouca sombra que tinha em meio aquele sol terrível. Sorte minha que uma árvore amiga ficava ao lado do banco. Suspirei fundo, entrando em mil desvaneios diferentes.
Quando, de longe, vi algo que me chamou a atenção. Um vulto laranja. Uma cor forte, chamativa, viva e ardente.
Pisquei algumas vezes, tentando enxergar melhor. Era uma garota.
A garota sentou-se sozinha em um canto, no chão. Suas roupas eram despojadas e seus cabelos ondulados, além de ruivos, óbvio.— Fala sério, Will, aquele jogo é superior sim. — Mike ia dizendo, sentando-se ao meu lado de repente. Ele segurava um copo de suco. Will segurava outro.
— Não, claro que não. — Will discordou, fazendo uma careta.
Às vezes —quase sempre—, eles falavam sobre assuntos dos quais eu não entendia nada.
— Olha lá — Mike apontou — Não é aquela garota nova da nossa turma?
— É sim — Will respondeu, bebericando seu suco. — Ou você conhece muitas outras ruivas nessa escola?
Mike o olhou com reprovação, achando Will grosseiro. Mas era óbvio que Will estava apenas o provocando.
Aquela garota...aqueles cabelos de fogo. Algo nela me puxava, como um campo de energia, ou um ímã.
Sem que eu entendesse o motivo, eu simplesmente queria me aproximar e olhar seus lindos fios ruivos, de pertinho.
Como ela estava sentada muito longe, não pude ver seu rosto direito, tão pouco sua aparência, mas eu tinha certeza que ela era linda. Eu sentia. Eu sabia.— Qual o nome dela? — perguntei baixinho, deixando escapar esse pensamento que estava me rondando. Mas Mike e Will escutaram e se viraram para mim.
— Maxine. — Mike respondeu. — Mas ela é meio estranha.
— Super rude. — completou Will.
Mas eu os ignorei.
Maxine. Então era esse o nome da dona dos cabelos de fogo. Cabelos esses que, mesmo de longe, eu podia jurar que me queimavam de maneira surreal.
Maxine...

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Cabelos de Fogo • Elmax
Roman d'amourJane Hopper não estava na melhor fase de sua vida. Maxine Mayfield muito menos. " Ela é rebelde. Ela é esquisita. Ela é um caso perdido. Você não vai querer se misturar com alguém feito ela, Jane. " Mas e se Jane quisesse ?