A luminosidade áurea, embora morna, sobrepassava o rosto delicado de Harry. Suas orbes verdes brilhando em raios cósmicos - realçando as nuances cromáticas verde-oliva e folha presentes no único mundo transcendente ali posto -, transbordavam de calor no peito de Severus Snape, o homem – na medida de todas as coisas, que são o que são e o que não são o que não são – mais apaixonado do mundo.
Em frente ao Portal da Amazônia, num entardecer cróceo, dois iguais em suas próprias formas, compartilhavam as mãos, extasiando-se com a sincronicidade elétrica de ambas energias próprias. Ao seu redor, o vento soprava forte, prenunciando os novos ares da comodidade bucólica, cuja certo morcego, alérgico a luz, esquecera há tanto tempo.
Ao som de, ironicamente, “Ao Pôr-Do-Sol”, de Ted Max, Harry sorria com a felicidade mais genuína vista em todo solo da criação, personificando, ali, o veraz âmago do sentido cosmogônico: o Amor.
Os barcos ao longe passavam pelo rio Guamá, compondo as alas artísticas da paisagem; as estrelas menores podiam ser vistas como pequenos pontos no limiar do céu quase noturno. Snape lembrava-se do tempo em que o manto negro da vicissitude da solidão enveredava por suas obscuridades mais deletérias. Presentemente, deliberava ele que, de que validez tem o fogo, sem a mais escura das vielas notívagas?
- Meu amor, - proferiu Harry, escalando suas mãos das de Severus, direcionando-as ao rosto deste – vamos embora? Ron vai viajar amanhã. Tenho de ir me despedir.
- É claro, Harry. Mas antes, preciso lhe fazer uma pergunta – Ao falar, Snape retirou uma caixa pequena dos bolsos, preta e aveludada. O garoto arregalou os olhos, beirando às lágrimas- Por toda minha vida, eu nunca vi a luz brilhar a mim...até te conhecer. Seus olhos foram a lua afogueada que me trouxeram à realidade, à única realidade. Não imaginei que um dia, a vida viria até mim na forma de um moleque arrogante.
- Sai daí! – O menino riu, divertido e choroso.
- Deixe-me terminar. Você é a coisa que mais amo no mundo, e se você aceitar meu pedido, tenha como promessa que meus raios mais luminosos não deixaram de despontar à sua presença, mesmo na noite mais escura. Você é meu sol noturno. E eu prometo ser sua ástere mais fiel. Casa comigo?
Emocionado com veemência, visualizando a amabilidade franca de seu companheiro, Harry retribuiu em seu mais singelo linguajar cultural:
- Égua! Eu aceito!