CAPÍTULO UM

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Sempre achei as fotografias algo mágico. É incrível como com um só clique, conseguimos capturar um momento especial para sempre. Não precisamos forçar tanto nossas mentes para nos lembrar de um momento se temos uma fotografia ali, para despertar aquele sentimentos que sentimos quando ela foi tirada.

Meu pai desapareceu há dois meses. Ele trabalhava como guia há 10 anos  no Museu Americano de História Natural no coração de Nova Iorque. Ele sempre amou o que fazia: guiar as pessoas pelo museu, falando sobre a sua maior paixão: os dinossauros. Eu cresci ouvindo-o falar sobre esses animais extintos e que acabaram por virar uma paixão para mim também. Desde os 8 anos, ele me levava ao museu e fazia sua tour especial. Ficávamos parados vários minutos em frente a cada dinossauro. Ele amava me explicar detalhadamente sobre cada um deles. Essa nossa tradição foi se perdendo ao longo dos anos conforme eu fui crescendo. Depois dos quatorze, comecei a ir ao Museu só para vê-lo porque adquiri uma paixão só minha: a fotografia. Levava minha velha câmera que ganhei de aniversário quando essa nova paixão começou aos 12 anos de idade. Tirava várias fotos dele trabalhando, das pessoas olhando admiradas para os fósseis. Fotos dos próprios fósseis e da arquitetura do Museu. Depois de um tempo, já tinha fotos demais dos dinossauros e das pessoas, então parei de ir. Me arrependo de não tê-lo visitado mais.
Eu teria mais fotos dele para me lembrar. Não me lembrar dele, mas me lembrar dos momentos que vivemos e de algum jeito matar a saudade que me corrói todos os dias.
Ele só nos deixou um bilhete com uma frase : Vou ficar bem, não se preocupem.

Mamãe chorou por dias. Talvez duas semanas inteiras. Já eu, não consegui derramar uma lágrima. Talvez porque sempre acredite no meu pai. Então, sei que ele vai voltar pra casa um dia, como se nada tivesse acontecido. E eu também tive que me manter forte para consolar minha mãe. Se eu desabasse no choro e desespero, quem a consolaria?
Somente na noite que ele sumiu, eu chorei um pouco debaixo das cobertas pra que mamãe não me ouvisse. Queria passar a ela a ideia que que eu era forte. Mas várias perguntas rondavam minha cabeça: ele tem outra família? Está fugindo de alguém? Não sei o que é pior. Prefiro acreditar que ele saiu em uma viagem. Um aventura sem a gente. Talvez para esfriar a cabeça de algo que só ele sabia. É isso que eu espero.

***

Ele deve estar chegando daqui a meia-hora. Mamãe parece eufórica e ansiosa. Já eu, quero desaparecer. Como ela tem coragem de hospedar um jovem estranho na nossa casa?
                              
Na semana passada, assim que cheguei da escola, mamãe preparava o jantar com uma expressão aflita, como se tivesse guardando um segredo a muito tempo e não via a hora de abrir o bico.
Ela me apressa para que eu tome meu banho logo e venha jantar.
Depois de me trocar, me sento à mesa. Ela está com os cotovelos na mesa, dedos entrelaçados e uma expressão séria. Não me encara até que eu pergunto:

—Tá legal. O que tá acontecendo?
— Querida, preciso que você não surte com o que vou contar a você agora.

Como ela espera que eu não surte se já começa falando desse jeito?

—Tá bom...
— Bem, eu tenho um amigo antigo do qual você provavelmente nunca ouviu falar. Se chama Ben, nos conhecemos na faculdade. Ben tem um filho chamado Jamie que vai começar a faculdade agora e ele não tem lugar nenhum para ficar, e nenhum parente na cidade.
— E daí?
— E daí que ele me pediu para recebê-lo aqui em casa por um tempo, até que ele se familiarize com a cidade e encontre um lugar legal pra morar.

Ela só pode estar brincando comigo, foi o que pensei. Isso só pode ser brincadeira. Bem, não era. O tal do Jamie ficará na nossa casa por tempo indeterminado, porque minha mãe sente que deve algo à Ben por algo no passado que ela não quis me contar. E é por isso que eu não gosto de dever favor a ninguém. É óbvio que eu surtei. Tentei dizer a ela que não, que era ridículo, que eu não moraria na mesma casa que um homem estranho por sei lá quanto tempo só porque ela devia algo à seu amigo do passado. Mas sem sucesso.

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