De baixo de suas estrelas

CAPÍTULO TRÊS

Antes que eu consiga adormecer, ouço um barulho na rua como se alguém tivesse quebrado algo. De repente, a luz na rua se apaga. Blackout total. Me levanto em pulo e me atrevo a ir até a janela ver o que está acontecendo. Me escondo atrás das cortinas. Algum vândalo estourou a caixa de energia do bairro. Isso já aconteceu antes, uma vez. E nessa vez, algumas casas foram arrombadas e pertences foram furtados.

Acendo a lanterna do celular. Saio do meu quarto. Estou tremendo. Vou ao quarto de mamãe. Ela ainda não chegou, o que significa que dobrou o turno de novo e só chegará de manhã cedo. Seremos só Jamie e eu nessa madrugada. É meia noite. Vou até o quarto dele e bato na porta em desespero.

- Jamie, abra, por favor!

- O que aconteceu na rua? - ele também parece assustado. Também está com a lanterna do celular ligado e aponta para o meu rosto. Jamie está sem camisa e o cabelo está bagunçado, como se tivesse acabado de acordar.

- Algum vândalo estourou a caixa de energia do bairro. Estamos sem energia, e eles aproveitam para arrombarem as casas e furtarem.

- Meu Deus... - ele parece não acreditar.

- Logo a polícia chega, eu acho.

- Você acha?

- Estou com medo - digo cruzando os braços.

Ele parece preocupado. Passa a mão pelos cabelos rebeldes e me encara. Abre a boca para falar algo, mas fecha de novo e então diz:

- Tá legal, entra. Vamos ficar juntos até que isso se resolva - ele faz um gesto com a cabeça para que eu entre. 

Eu entro. Vou iluminando o caminho com a lanterna. Não consigo ver praticamente nada e tropeço em algo no chão.

- Vem - Jamie pega minha mão. Ele me leva até sua cama e nós nos sentamos de frente um para o outro. Ele coloca o celular com a lanterna para o teto e eu faço o mesmo. Isso ajuda a iluminar um pouco e conseguimos nos ver.

Nos olhamos por um minuto sem saber o que dizer. Estou sentada na sua cama.  O lugar onde ele descansa. Seu quarto tem cheiro de canela e perfume masculino. Na rua, ouvimos as pessoas falando alto e carros buzinando.

- Sabe onde tem vela na casa? Acho que seria mais eficaz do que nossas lanternas.

- Em um armário na cozinha - digo.

- Tá legal, vamos lá.

Nós levantamos, iluminando nossos passos com nossos celulares. Descemos as escadas com cuidado.

- Cuidado com os degraus - ele diz, mas não pega minha mão.

Chegamos a cozinha. Não consigo achar as velas, talvez mamãe tenha colocado em outro lugar. A lanterna do meu celular desliga.

- Droga! - exclamo. - Bateria baixa.
Jamie se aproxima para que eu consiga ver com a dele.
Ele está logo atrás de mim, sinto sua respiração no meu pescoço. E nesse momento, me esqueço do jeito que falou comigo horas antes. Esqueço que queria que ele sumisse.

- Não está em lugar nenhum! - digo. - Acho que estamos sem velas...

- Merda. Ta legal. Sobreviveremos só com a minha lanterna. Meu celular está com a bateria alta.

Ele pega minha mão de novo. Meu coração acelera. Lembro de como me senti ontem a noite, com seus dedos correndo pelos meus.

- Vamos, de vagar - ele diz. Jamie anda com cuidado, e eu o sigo logo atrás.

Estamos em seu quarto e ele nos guia novamente para sua cama. Nos sentamos frente a frente de novo, só que agora só vemos nossos rostos mal iluminados.
Ouvimos o barulho da polícia depois de dois minutos. Respiramos aliviados. Mas isso não queria dizer que a energia voltaria naquela mesma hora.